Sobre meu primeiro mochilão sozinha

Ariela Maier
Revista Passaporte
Published in
3 min readJun 1, 2020
Eu e minha mochila misturados ao caos de uma mudança em uma foto amassada

Eu já estava querendo a experiência de viajar sozinha há algum tempo e acho que isso era a minha essência querendo brotar de novo em mim. Tinha planejado tirar uma semana de férias, e seria nessa viagem que decidiria sobre me separar ou não, porém, essa decisão veio mais rápido do que eu pensava, e um mês antes chegamos ao nosso veredicto.

Era março de 2016 e em um dia estava eu ajudando meu ex na mudança, e no outro, embarcando com minha mochila como companheira de viagem. Um ciclo de pensamentos infinitos tomou um novo significado em uma semana viajando sozinha, e aprendizados jamais esquecidos me acompanham até hoje nesses dias de Uruguai.

Nessa viagem consegui praticar bastante meu espanhol. Conheci novas pessoas e novas nacionalidades: espanhola, franceses, italiana, argentina, chilena e brasileiros de outros estados. Consegui me localizar sem ajuda do Google Maps. Fiquei pela primeira vez em um hostel, e pela primeira vez compartilhei quarto com seres humanos nunca antes vistos na vida. Viajei só com um mochilão e sem mala de rodinhas. Também passei um dia chorando enfiada no quarto do hostel me perguntando se tínhamos feito a coisa certa em nos separar. Tive meu primeiro porre depois de anos. Vomitei de madrugada por toda a praia, junto com um francês que tinha acabado de conhecer. Foi com ele também que chorei horrores, lá mesmo, no meio da praia vomitada, tentando expor meus sentimentos em inglês. (um dia acho que essa parte vira texto). A vergonha que estava sentindo dele se dissipou no café da manhã, quando ele olhou pra minha cara e começou a rachar o bico. Acompanhei uma espanhola em um surto súbito de fazer um piercing no nariz (no dela, não no meu), e logo eu que detesto ver agulhas, tive que permanecer firme e forte ao lado dela. Não conheci a famosa Casa Pueblo em Punta del Leste, então fica pra próxima. Fui tarde pra balada e descobri que para os uruguaios o nosso tarde é cedo, e às 5 da manhã ainda tinha fila pra entrar. Fiz uma amiga brasileira pra vida toda e já fui visitá-la por aí, Brasil e mundo. Fiz meu primeiro Free Walking Tour. Cochilei na praia, tomando um solzinho de fim de verão. Me senti muito bem recebida e acolhida por todos que cruzei meu caminho. Sobrevivi sem comer arroz e feijão. Percebi o quanto não me importava com a bagunça de um quarto de hostel quando estava viajando e de como era feliz me fazendo entender em mais de um idioma e dentro da mistura de outras nacionalidades, e como todos, no fim, são gente que nem eu.

Foi nessa viagem que me encontrei comigo mesma, e foi ela que me deu a coragem de ir morar fora do país depois de alguns anos.

Olhando as fotos, pude perceber que de um sorriso triste e perdido, ombros curvados de quem queria carregar o mundo nas costas e de um corpo que vinha de desencontro a minha alma, renasci.

Renasci de uma bebedeira, de um dia de ressaca e de uma crise de choro, e aí fui entender o significado de “vai ficar tudo bem”.

Nessa viagem meu sorriso se transformou, e eu também.

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