É doloroso partir de primeira. Transforma-se a vida em contagem regressiva. Os desapegos se tornam difíceis e as despedidas se tornam pesarosas. Tão delicioso quanto sair, tão desastroso quanto ficar. Ficam elas por elas, apesar da vida não ser mais a mesma depois de se movimentar. Torna-se tudo tão possível e ainda assim a dor da partida resolve estar.
É automático partir de segunda. Prova-se que o que antes foi feito há certamente de ser repetido. Já não se pensa mais na dor que se sente. Dá-se antes por contente em a sentir solitariamente. Busca-se aprimorar a expedição e, com rebeldia, ignora-se os convites de celebração. Só se quer viver toda a dor sozinho, sem dividir o brinde enquanto arruma as malas no caminho.
É natural partir de terceira. Todo o peso e expectativas são intencionalmente ignorados. “Que seja então, o que tiver que ser”. E o que precisa ser, de fato é. Aceita-se tudo sem forçar os extremos: As dores, as festas e os beijos. Começam a ver-te como alienígena e, em contrapartida, começas a ver-te na sua mais vagabunda humanidade.
Partir ao menos três vezes te faz ter fé em algumas crenças sem religiões:
O mundo é pequeno demais para fugir das pessoas que se conheceu e das que se precisa conhecer.
O mundo é grande demais para não se despedir só por sentir dor.
Independente de todas as partidas, voltar é sempre uma opção inevitável.
Independente de todos os retornos, partir nunca mais será uma opção questionável.
Há de se beber os goles e dividir em doses suas partidas pelas ruas. Não só para sentir por si, nem só para sentirem os outros. Mas para dar gosto ao ciclo e honrar a viagem da garganta até partires.
Quando se tem um barco nas mãos, que obedece a cada um dos dedos, e um oceano em cada direção, sonhar é perder tempo. É melhor tomar um caminho.⸺ Amyr Klink.