Isla Omepete — Punta Jesus María — Nicarágua (Vulcão Concepción e Maderas) / Imagem: Arquivo

Soy Nica — Nicarágua

Vanessa Machado
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6 min readMar 31, 2018

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Indo e vindo pela Nicarágua — 1 de várias

Antes do avião pousar, ele ainda fez um revoado sobre o entorno da cidade. Pareceu um local colorido visto de cima, fiquei em dúvida, mas até um rosa pink consegui ver da janela do avião. Era uma das cores da comunicação do governo atual de Daniel Ortega.

Estava descendo em Manágua, capital da Nicarágua, terra de Sandino.

Se eu perguntar pra você o que sabe da Nicarágua, você e mais alguns vão dizer que lembram de ter uma fase violenta nos anos 80 ou 90 em função da Revolução Sandinista que era contra a ocupação americana.

E, assim, a liberdade conquistada pelos Nicas em ajudar a permanecer como são, fez todo sentido saindo do aeroporto, a caminho de Granada: caminhava a beira da estrada um homem nu, totalmente livre e tranquilo. Não que isso seja normal, mas ele pareceu muito adequado àquele cenário.

Bem-vinda a Nicarágua!

Eu pensei. Uma natureza livre, seja pelas pessoas, ou pelos animais e vegetação. Tivemos que ir mais devagar uma hora, pois apareceram alguns porcos cruzando a estrada. O motorista do táxi, um baixinho entroncado, lembrando nossos vizinhos bolivianos, coloca o som de um reggeaton no carro e assumiu uma calma enquanto dirigia dentre diversas confusões até o destino.

As minhas primeiras percepções sobre a Nicarágua foram de um lugar quente, livre, autêntico. De um lugar que por ser um dos poucos países da América Central que aparentemente não tem uma interferência direta americana, tiveram um crescimento econômico mais lento que os demais. Diferente da Costa Rica, praticamente uma colônia dos EUA, essa questão ajudou os Nicas a preservarem uma natureza exuberante, com praias intocáveis em que se sente o cheiro de ar puro, de oxigênio.

Buzine. Buzine pra tudo, para parar, para seguir, virar a direita e esquerda. Se não me engano, na Índia também é assim, não? Se buzina para tudo. Era o taxista mais popular? Ou mais abusado? Ou irritado? Não, era a comunicação dominante no trânsito. Eu não entendia nada no início, depois você acostuma e logo nem escuta.

Lá os táxis podem ser compartilhados. Você chama um táxi, entra, e daqui uns metros outra pessoa chama, ela pergunta pra onde você vai, se for o mesmo caminho, ela vai junto. Ou você chama, e já tem duas pessoas no táxi, e você entra e acompanha o trajeto do pessoal. É uma espécie de Uber Lite da Nicarágua, mas com carros mais velhos.

Tem a UCA, que leva o nome da Universidad Centroamerica, uma espécie de micro ônibus executivo que faz os trajetos mais rápidos entre cidades. Nela trabalham o motorista e um ajudante que fica gritando na porta "UCA, UCA, UCA, UCA" rapidamente, avisando as pessoas na parada que a UCA está chegando. Eles tentam fazer as paradas o mais rápido possível e super lotam para o máximo de pessoas usar o serviço.

E tem também o Chicken Bus, os conhecidos ônibus escolares americanos que fazem trajetos mais longos e demorados. Esses tem diversas decorações internas, muito coloridos. Também tem o ajudante do motorista que fica chamando o pessoal que espera nas paradas de ônibus.

Chicken Bus em Granada — Nicarágua / Imagem: arquivo

Uma vez, voltando de Ometepe, uma ilha com dois vulcões no meio do Lago Cocibolca (conto em uma próxima), para Granada, cidade onde moramos alguns meses (Edu e eu), tínhamos que pegar um Chicken Bus e um TucTuc (outra opção de transporte na Nica). Estávamos em dúvida onde exatamente tínhamos que trocar, pois o ponto final do CBus era Manágua e não Granada.

Falamos com o motorista e pedimos pra ele avisar quando parar na cidade onde deveríamos pegar o TucTuc. Ia ser mas caro que um UCA e um CBus, mas era a opção que encontramos.

No meio do caminho, o ajudante nos chama: "Hey, vengan! Vengan! El bus para Granada!". Descemos rápido, porque as paradas são sempre rápidas, e fomos correndo para outro CBus onde o outro ajudante já esperava a gente pra subir e ir em direção a Granada. Os dois ajudantes tinham conversado entre eles, em meio a uma parada, e fizeram a nossa troca pra ir em direção a Granada. Não pegamos o TucTuc, mais caro, recebemos uma ajudinha do afinal ajudante, e fizemos uma conexão entre transportes mais original e pessoal do que qualquer uma na Europa.

Dentro do Chicken Bus em Rivas — Nicarágua / Imagem: arquivo

O TucTuc, que comentei, existe em outros países também, não só na Nica, mas pessoalmente eu só experimentei lá. Uma moto com cabine estendida para duas pessoas atrás e o motorista na frente. Eu achei demais andar nessas motinhos, é uma espécie de transporte turístico, pois tem um estilo retrô, original e carismático. Eu teria uma!

Andamos de TucTuc na ilha Ometepe para ir até a Punta Jesus Maria, lugar perfeito para ver o pôr do sol na sua frente e olhar pra trás e encontrar o vulcão Concepción, exuberante e potente. O motorista muito simpático, conversador, pára no meio do trajeto na frente de uma casa onde se aproxima um amigo, lhe entrega 4 maços de cigarro, trocam algumas palavras e ele parte ao nosso destino. Nos deixa lá, combinamos um horário de volta. E está lá ele nos esperando: "Pensé que iban a dormir aquí!", achando que íamos ficar pelo local, pois queríamos ficar até o final do pôr do sol.

Na TucTuc na Isla Ometepe — Nicarágua / Imagem: arquivo

Os nicas tem uma conversa fácil, o papo vai longe, bem humorados, simpáticos, riso solto. Outra vez, ao pegar um bus tour de Granada até o Vulcão Masaya (não deixe de ir), conheci outro motorista, tinha uma risada sensacional, ele falava dele mesmo, das suas histórias e ria sozinho. Eu não sabia se eu estava rindo das histórias que ele contava ou da risada, mas as duas combinavam perfeitamente.

Os nicas tem uma vida simples, a maioria, pois o país tem algo parecido com o que conhecemos, pouquíssimas pessoas tem muito e muitas tem o razoável ou pouco. Mas o pouco é algo interessante. Eles vivem como se fosse numa agricultura de subsistência, casinhas por toda a Nicarágua onde você vê porcos, galinhas, vacas, plantações de bananas (conto em outro momento sobre a culinária), milho. E disso, muitas vezes, vendem em pequenas feiras e mercados abertos das cidades.

Nessa pequena reflexão sobre idas e vindas no país que conquistou sua liberdade, a simpatia nica e a criatividade são genuínos. E por mais que seja um país que ainda parece que corre atrás do tempo perdido, ao mesmo tempo vejo que esse andar mais lento pode ter favorecido a natureza local, a culinária orgânica, sua simplicidade e riso fácil.

Ainda tenho muito mais pra falar do país e locais que visitei. Apenas compartilho uma parte que mostra um pouco do mais interessante de se absorver ao conhecer um novo lugar em que não estão nas rotas turísticas tradicionais, onde você não coloca as expectativas acima da régua e se impressiona com o quanto pode ser original.

Wanderlust!

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