Toda garota deveria viajar

5 coisas que nos transformam quando viajamos (ainda mais sendo mulher)

Regiane Folter
Revista Passaporte

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Minha primeira grande viagem aconteceu quando eu tinha 13 anos. Desde então, tive oportunidades incríveis de conhecer o mundo, admirando diferentes vistas e conhecendo culturas fantásticas. Viajar fez de mim a mulher que sou hoje porque me permitiu aprender do mundo e, mais importante ainda, me ajudou a aprender sobre mim mesma.

Em algumas semanas estarei na estrada novamente, em uma viagem em família com meu irmão, meu namorado e minha mãe. Até pouco tempo atrás, mamãe foi minha patrocinadora número 1 em várias das viagens que fiz. Sem sua ajuda e incentivo, com certeza eu não teria tantos países na minha listinha. Agora é a primeira vez que nós duas vamos conhecer um novo e longínquo destino juntas. Por isso, sinto a responsabilidade de compartilhar com ela tudo que aprendi com minhas viagens passadas.

Espero que essas sugestões sejam úteis e nos ajudem a viver 15 dias inesquecíveis! E, quem sabe, espero que esses aprendizados sejam de utilidade também para outras mulheres sonhando em viajar por aí 🙂

1. Viaje sozinha para aprender que você é capaz

Por muito tempo (e hoje em dia ainda) nos dizem o que deveríamos fazer ou ser por causa do nosso gênero. A sociedade tem uma visão muito específica sobre as mulheres que nos limita a seguir caminhos determinados ao invés de desenhar nossa própria e única jornada. Desde pequenas aprendemos que garotas devem ser gentis, doces, obedientes e outras características passivas. Muitos desses conceitos geram uma visão de que mulheres são frágeis e, portanto, necessitam ser cuidadas e protegidas.

Desde a minha adolescência sou constantemente alertada pelas pessoas ao meu redor: “tome cuidado, não saia muito tarde ou sozinha, é perigoso”, etc etc. Essa preocupação visa a minha segurança, já que todos sabemos como o mundo é um lugar perigoso, principalmente para as garotas. Mas escutar tudo isso com tanta frequência também nos leva a pensar que somos indefesas.

Isso mudou depois que comecei a viajar e percebi as contradições da nossa sociedade: não deveríamos deixar de fazer coisas porque o mundo é perigoso para nós; na realidade, o correto seria que o mundo parasse de nos machucar! Comecei a pensar assim depois de algumas experiências fora do meu país e posso garantir que não há nada como uma viagem para te ensinar como ser independente. Ainda mais se você estiver viajando sozinha; quando você só pode contar com você mesma e não há mais ninguém, você cresce. A situação te obrigada a evoluir.

Você vê por si mesma que é possível fazer o que quiser, e essa sensação de independência é poderosa. Mas não é necessário ir muito longe para aprender a ser independente. Somente passar algum tempo longe de casa já vai disparar esses e tantos outros aprendizados. Quando eu tinha 17 anos me mudei para uma nova cidade sozinha, para estudar. Minha universidade ficava em uma cidade a nove horas de distância da onde vivia minha família. Eu cheguei lá como uma adolescente assustada e quatro anos depois retornei como uma mulher crescida que se sente completamente capaz de tomar conta de si mesma.

2. Viajar amplia nossa mente para receber nosso mundo gigantesco!

Alguma vez já escutou aquela famosa pergunta “Como você pode amar alguém se há tantas outras pessoas no mundo que amaria se conhecesse?”. Embora eu acredite que é possível amar alguém mesmo sem conhecer todas as pessoas desse mundão, eu concordo com a premissa dessa pergunta de que o mundo é enorme: há tantos lugares e pessoas para conhecer, paisagens para apreciar e coisas novas para provar! Por que não sair por aí e viver algumas aventuras?

Voltando um pouco ao que eu tinha comentado no ponto anterior, por causa do nosso gênero nos ditam a maneira como deveríamos viver nossas vidas e por isso terminam limitando nossa perspectiva. Talvez você ache que por ser uma mulher há um destino determinado que deve alcançar, com passos definidos para você chegar lá. Mesmo que você acredite que esse destino é o correto, viver em um lugar tão vasto como a Terra e não olhar para o lado para conhecer outras possibilidades é um desperdício, na minha opinião.

Antes de participar de um programa de intercâmbio voluntário no Egito em 2011, eu mesma tinha uma ideia muito definida do meu futuro. Eu planejava terminar minha graduação em jornalismo, começar a trabalhar na minha cidade natal, encontrar uma pessoa especial e formar uma família. Esse era o plano. Eu tinha metas pessoais e profissionais, sim, mas eram muito limitadas à ideia que eu tinha do que poderia fazer.

Tudo mudou depois de viver seis semanas fazendo trabalho voluntário no Cairo. Com essa experiência comecei a sentir que havia tantas outras coisas para provar! Daquele momento em diante, cada nova viagem só fazia aumentar minha lista de carreiras a seguir, idiomas a aprender, pessoas por quem me apaixonar, amigos a conhecer, atividades e hobbies a provar. Hoje, trabalho na área de marketing e me dedico a escrever em uma cidade a quase 2 mil quilômetros da minha cidade natal, vivendo com um argentino. Amanhã, quem sabe?

3. Enlouqueça um pouquinho! Se ninguém te conhece, quem liga?

Que coisa você sempre sonhou fazer sem que ninguém soubesse? Todos nos sentimos curiosos em provar novas experiências, mas muitas vezes sentimos vergonha, especialmente se o que queremos fazer não encaixa com a expectativa que os outros têm em relação a nós. No meu caso e no de muitas outras mulheres, crescemos escutando que deveríamos nos comportar “como mocinhas”, como se existisse uma lista de coisas aceitáveis que poderíamos fazer. Não faz muito tempo eu mesma pensava que garotas deveriam ser mais quietas, compreensivas e inocentes. Uma boa menina não namora com muita gente, não diz palavrão, não fala alto e nunca senta com as pernas abertas. Boa parte da minha vida foi influenciada por essa visão, fazendo com que eu me preocupasse em excesso com a opinião que os outros têm de mim.

Hoje, depois de andar por muitos trajetos dentro e fora do meu país, entendo que está mais do que bem fazer qualquer coisa que eu quiser desde que isso me traga felicidade e não prejudique ninguém. É fácil descobrir isso quando você está em um lugar desconhecido, totalmente distante de olhos familiares. Em uma viagem na qual ninguém te conhece, que mal há em fazer aquela coisa que você sempre quis experimentar?

Para mim, cada viagem me desafiou a libertar-me para ser eu mesma ao invés de tentar chegar ao ideal impossível da “mocinha perfeita”. Eu beijei caras sem saber seus nomes na Inglaterra, comprei as roupas mais loucas e coloridas na Índia, passei horas conhecendo pessoas que poderiam ser consideradas “más influências” no Egito, disse a minha opinião livremente na Guatemala, participei de manifestações no Uruguai, e por aí vai. Algumas vezes me senti envergonhada, em outras me senti invencível, mas nunca me arrependi. Estes momentos de liberdade sedimentaram minha confiança em aceitar-me como sou e ser assim não só quando estou longe, mas também no meu cotidiano em casa.

4. Descubra outras realidades para compará-las com o seu status quo

O mundo é o um lugar lindo, cheio de paisagens e experiências de tirar o fôlego. Mesmo assim, nosso planeta também está cheio de coisas negativas e problemas que machucam milhões de pessoas. Eu acredito na importância de viver uma vida positiva, fazendo o que gostamos e cercados de pessoas que amamos. Mas também creio que é fundamental encarar as dificuldades que ameaçam nossa sociedade para desenvolver um pensamento crítico e entender nossa responsabilidade frente a isso. O mundo só vai mudar para melhor se nós liderarmos a mudança. Para chegar a isso, não podemos viver dentro de uma bolha.

Para ter uma noção real de cada lugar aonde viajei, sempre tratei de viver minhas experiências desde a perspectiva de uma pessoa nativa e nem tanto como turista. Me motiva ver uma cidade que estou visitando como ela realmente é, com suas coisas boas e más, beleza e feiura. Está tudo bem em viajar com o objetivo de descansar e desfrutar de uma experiência turística. Mas algumas vezes é importante entrar em contato com a realidade e deixar que esse encontro impacte a maneira como vemos o mundo.

Quando estive na Índia, passei por um hotel 5 estrelas para uma conferência, mas também saí a percorrer algumas das regiões mais pobres de New Delhi. Na Colômbia vivi noites incríveis em restaurantes e festas legais, mas também dediquei várias horas a caminhar por comunidades vulneráveis e descobrir como viviam. Na Turquia estive cercada de pessoas queridas e amigas, mas também aproveitei algumas oportunidades para sentar-me para conversar com desconhecidos e assim captar seu ponto de vista sobre o país.

Estas e outras experiências me ajudaram a entender como a vida pode ser vivida de mil maneiras diferentes em cada lugar, e sempre comparei as realidades de outras nações com a que vivemos no Brasil. Essas reflexões me fizeram valorizar mais as coisas boas da minha terra natal, assim como criticar aquilo que não está certo. Viajar abriu meus olhos para enxergar além das minhas perspectivas e me inspirar para contribuir com a mudança que gostaria de ver no planeta.

5. Desafie o mundo a ser um lugar melhor para as mulheres

Ao viver em um mundo com tantas regras, tantos “isso você pode” e “isso não”, especialmente se você é uma garota, viajar nos permite conhecer realidades alternativas. Ao conectar-se com pessoas muito diferentes do que estamos acostumados e aprender seus valores e costumes, nos deparamos com uma diversidade de pensamentos que podem ser muito contrários às coisas que escutamos em casa. Para mim, toda essa diversidade prova que não há uma única maneira de fazer as coisas, que não há tantos certos e errados. O resultado dessa revelação fez eu me sentir mais leve, como se de repente todo o peso de cumprir com as expectativas da sociedade desaparecesse.

Mulher, quando você se aventura a viajar, você está proclamando para o mundo que você pode fazer isso. Que nós, garotas, podemos. Cada mulher que sai por aí a explorar o globo é prova viva de que somos livres para ir aonde queremos e fazer o que temos vontade. Quando viajamos, estamos atestando nossa força e pressionando o mundo a aceitar-nos.

Em cada viagem vivi muitas situações difíceis — nem tudo foi um mar de rosas! E cada uma dessas experiências negativas estava relacionada ao fato de que sou mulher. Felizmente, o medo nunca me fez desistir de viajar, pelo contrário: só fortaleceu meu desejo de lutar por um mundo mais seguro para todos e todas. E é por isso que eu viajo. Por mim, pela minha mãe, por todas as mulheres ao redor do mundo que merecem ser respeitadas.

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Regiane Folter
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