Trabalho voluntário, aprenda muito e viaje gastando pouco.

Já pensou na possibilidade de viajar e trabalhar em troca de hospedagem e comida? Pois isso é possível e pode ser uma experiência incrível.

Milena Issler @hein.gata
Revista Passaporte
6 min readMar 12, 2018

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Se você, assim como eu, adora viajar mas nem sempre tem uma grana disponível, e está disposto a ter novas experiências, te proponho então a aceitar este desafio: trabalhar como voluntário em troca de comida e hospedagem. É você quem vai escolher o trabalho que vai fazer e aonde, mas o contratante tem que aprovar sua solicitação. Ambos terão deveres e todos detalhes são acertados com antecedência, mas de forma alguma o contratante vai te pagar em dinheiro. E eu te garanto, o que você vai ganhar vale muito mais do que dinheiro! A oportunidade de não fazer turismo (nos modos convencionais) mas sim de conviver na rotina diária do moradores e melhor ainda, contribuir com a comunidade. Uma maneira de conhecer de verdade quem vive nesse lugar, sem truques, sem blá blá blá de guias, fora dos grandes pontos turísticos e sem roteiros mirabolantes de agências turísticas.

O Workaway é um site que facilita esse processo colocando em contato voluntários com as ofertas de trabalho. São mais de 20 mil ofertas em 155 países do mundo, inclusive no Brasil. E os trabalhos solicitados são os mais variados possíveis, desde cuidar de crianças, trabalhar em fazendas e plantações de frutas/verduras, ensinar línguas, colaborar com projetos artísticos e até ajudar na construção e reforma de casas/hotéis. Muitas ofertas são para trabalhos em comunidades carentes, plantações orgânicas ou sustentáveis, ajuda com animais abandonados e outras propostas alternativas, mas também tem ofertas para trabalhos em pontos comerciais como hotéis, hostels, restaurantes, café, lojas e até mesmo junto com profissionais autônomos.

É uma maneira diferente de viajar e gastar muito pouco, conseguindo um trabalho que lhe ofereça comida e hospedagem você terá que arcar apenas com os custos de deslocamento e consumo próprio. Mas lembre-se, o trabalho é voluntário, você não será pago por isso mas vai receber hospedagem e comida.

Colher azeitonas no sul da Espanha, fazer massagens num resort de ski nos Alpes franceses, ajudar numa escola de mergulho na Tailândia, esses são apenas alguns exemplos. É uma oportunidade de conhecer pessoas e locais de uma maneira que provavelmente você não conheceria se fosse um turista, além disso você passa a contribuir e fazer parte do dia-a-dia dessa comunidade, sua interação e contribuição são muito maiores nesse sentido.

O site tem muitas dicas para quem deseja se aventurar pela primeira vez, por isso leia bem todos os detalhes das ofertas, veja os comentários de quem já trabalhou no local e converse com outros voluntários que já passaram pela mesma experiência, isso vai te ajudar muito na hora de escolher. Não existe limite de idade, desde de jovens até idosos podem ser voluntários. Se o trabalho for complicado pode ser exigido um período mínimo de permanência mas também tem ofertas para alguns dias de estadia. O site cobra uma taxa anual para você se registrar e fazer contato com os hosts, mas para fazer buscas o acesso é gratuito, tá esperando o que pra ver o que tem de interessante? Não importa se você vai de trem, de carro, bicicleta, navio ou avião, é uma chance de experimentar, aprender e conhecer novos lugares e ainda ajudar alguém.

http://workaway.info

Registro anual: U$29.00 individual ou U$38.00 o casal.

Minha experiência com o Workaway

Essa foi minha primeira experiência desse tipo, passei 37 dias viajando pela França e fiz trabalho voluntário em 3 locais completamente diferentes. Posso afirmar com certeza que descobri uma maneira bem diferente de viajar, gastei muito pouco e aprendi muito, repetiria a experiência com certeza.

Victor, meu fiel companheiro nas longas caminhadas pela pitoresca vila francesa.

Meu primeiro trabalho foi na casa de uma senhora francesa por uma semana, numa pitoresca vila chamada Auberive, região de Haute-Marne, próxima de Champagnhe. Meu “trabalho” era ajudá-la com tarefas simples do dia-a-dia como cozinhar, limpar ou simplesmente fazer companhia nas inúmeras vezes que ela me levou para passear quando tinha outros assuntos fora da vila para resolver. Todos os dias eu me divertia passeando com seu cachorro gigante, o Victor, andava por trilhas solitárias no meio de paisagens e florestas bucólicas. Ela me ensinou sobre queijos, sobre ser vegetariana e falava muito de sua paixão em cuidar de animais. Que pessoa incrível!

O próximo trabalho foi em um hotel/restaurante, em um local mais turístico mas ainda assim pouco conhecido: Égliseneuve-d’Entraigues. Para chegar lá fui de trem até Clermont-Ferrand e depois de ônibus até o local. Fica próximo de um ponto turístico famoso entre os franceses, Besse e Super Besse, duas pistas de ski super badaladas. A paisagem branca de neve, as árvores, cachoeiras e lagos foram uma das mais bonitas que já vi.

Lago próximo ao hotel que eu trabalhei. O inverno é rigoroso mas as paisagens são deslumbrantes!

Os donos do hotel são um casal de holandeses, extremamente simpáticos mas também muito exigentes nos mínimos detalhes. Eu os ajudava na faxina dos banheiros, com a roupa de cama e toalhas, preparação de pratos, servia e limpava as mesas no restaurante e lavava a louça. Trabalhei muito, chegava no fim do dia esgotada, mas em compensação tive muitos dias de folga e só trabalhava meio período. Tinha um quarto só para mim e meus almoços e jantares eram maravilhosos, comida e vinho a vontade, fui tratada e servida como um hóspede. Exigiram muito, mas ofereceram muito também. Aprendi demais e fiz coisas que nunca tinha feito antes. Saí de lá feliz por ter feito um bom trabalho e ser reconhecida por isso.

Meu último destino foi Annecy, bem turística mas uma belíssima cidade, perto do Mont Blanc. Lá trabalhei em um hostel, fazia a faxina, que se limitava no máximo em 2 horas por dia e somente na parte da manhã, ou seja, eu tinha o resto do dia livre para passear e curtir a cidade. No hostel eu tive a agradável companhia de mais 5 voluntários que ajudavam na recepção e outros serviços. Nós éramos como uma família, compartilhávamos comida, bebidas, quartos, fomos em festas, passamos tardes assistindo filmes no sofá ou passeando no lago. Cozinhávamos juntos e um ajudava o outro. Acolhíamos hóspedes como se fossem nosso melhores amigos. Me senti em casa. Foi incrível e gratificante, fiz amizades que com certeza vão durar por muito tempo ainda.

Meus amigos e também voluntários no hostel em Annecy. Nossos jantares eram animadíssimos!

Sem dúvida essa não foi uma viagem de férias daquelas aonde você só descansa e não faz nada. É uma experiência de vida. Mas principalmente é uma opção para quem está com pouca grana ou gostaria de dormir num local diferente que não seja sua barraca ou hotel. E para quem pensa em enviar seus filhos para um intercâmbio mas acha os pacotes oferecidos pelas operadoras muito caros, o Workaway é uma opção muito mais real e definitivamente mais barata.

Convido a todos que procuram por uma nova experiência, buscam se integrar á uma comunidade interessante, conviver mais próximo as pessoas, culturas e fazer amizades de uma maneira que você nunca imaginou antes, a saírem um pouco da sua zona de conforto e experimentar ser um voluntário, o trabalho vai te ensinar e te retribuir muito mais do que você pode imaginar, pode ter certeza!

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Milena Issler @hein.gata
Revista Passaporte

Há mais de 17 anos viajando de carro pela América do Sul, já soma mais de 90 mil km rodados por aí. Instrutora do Land Rover Experience. Criadora do HeinGata.