Turismo de empatia: uma outra forma de conhecer lugares

Bruna Próspero Dani
uma-maleta-de-mão
Published in
5 min readJul 5, 2018

Três motivos para praticar e três atitudes que podem te ajudar a viver essa experiência.

“Pessoas fazem os lugares.” Eu nunca tive dúvidas sobre essa frase.

Sempre que conheço um novo lugar, sou marcada de diferentes formas, mas principalmente pelas pessoas que conheci ali.

Acredito que quem você encontra pelo caminho também é responsável por definir sua experiência em qualquer parte do mundo.

Talvez, isto explique o fato de que alguns amaram conhecer Paris, por exemplo, e outros detestaram.

Mas outra coisa que percebi é que conhecer as pessoas que vivem ali (não só outros turistas pela estrada) é uma forma de entender melhor aquela realidade.

Quando você tira seus sapatos e veste os dos moradores, você enxerga os lugares de uma forma que vai muito além dos guias de viagens, claro. É o tal do “turismo de empatia”.

O termo foi difundido pela jornalista Talita Ribeiro, que escreveu o livro “Turismo de empatia: Refugiados no Oriente Médio” e nele conta sua experiência de viajar para lugares que pouca gente quer ir, mas mais do que isso, fala sobre uma realidade que poucos de nós conseguimos entender.

Como tentar julgar as atitudes dos outros, sem antes tentar calçar suas dores?

Até então, eu pensava que para praticar o turismo de empatia era necessário ir para um destes países de culturas completamente diferentes e que apresentasse um certo “risco”, como a Índia, países em guerra na África ou Oriente Médio.

Que tolice! (Como dizem meus amigos portugueses aqui). Me dei conta de que, na verdade, a empatia acontece em qualquer viagem em que você se envolve ao ponto de enxergar a realidade através dos olhos daqueles que vivem lá.

Há sempre diferenças. Há sempre dois lados. Há sempre dias nublados e dores até nos lugares ditos os mais lindos do mundo.

É pequeno demais, desmerecer ou comparar a dor dos outros.

Minha experiência no arquipélago dos Açores aconteceu sem querer e inesperadamente eu estava vivendo com autênticos açorianos. E descobrindo ilhas que não li em nenhum blog ou guia. Eu descobri a Ilha deles.

E hoje, penso que todos deveriam viver algo parecido com isso, em qualquer lugar do mundo.

E quais são os ganhos? São muitos e profundos, mas escolhi três simples que já valem a tentativa!

1- Você vai além do básico, dos clichês e dos cliques de Instagram.

Eu poderia ter conhecido Açores apenas como um dos lugares mais belos do mundo. (O que já é o bastante, claro), mas eu conheci o dia a dia corrido de quem vive aqui. Conheci os passeios que as famílias fazem aos finais de semana e derrubei algumas idealizações que a gente, como visitante, insiste em fazer…

2- Você evita filas e spots cheios de turistas disputando o melhor ângulo para sua selfie.

Adoro visitar pontos turísticos e tirar minhas fotos, mas isso já não é minha prioridade há um bom tempo. Fico com um misto de preguiça e vergonha alheia quando vejo uma fila se formando para cliques que retratam uma paisagem “vazia”. Se fosse ficar só “nesta parte”, certamente me faltaria alguma coisa para me realizar como viajante.

Se você também busca uma experiência mais profunda, com a “ a sua cara” ou com uma “nova cara” construa roteiros à partir dos moradores que encontra no caminho.

Eu, por exemplo, nunca colocaria no meu roteiro um dia de trilha com mochila e barraca nas costas para acampar sozinha em um vilarejo pouco habitado. Mas ouvindo as histórias de quem vive nos arredores me pareceu tão natural que não tive como escapar. Ainda bem! Descobri um novo lado que eu nem sabia que existia em mim.

3- Você conhece o lado “B”.

Na maioria das vezes em que visitamos novos lugares, somos envolvidos pelas belezas, encantos e histórias bonitas sobre eles. Mas entendendo melhor a realidade de quem vive lá, você enxerga as angústias também.

Eu acompanhei o drama da greve dos marinheiros e como isso afetava a vida dos moradores. A greve dos professores públicos e entendi a realidade super difícil do sistema de saúde das Ilhas.

Pra conhecer isso, sem ter tido a experiência de estar com pessoas que vivem aqui, só se eu tivesse passado mal! Felizmente não foi o caso.

E quais são os caminhos para fazer uma viagem neste estilo? Bom, não tem caminho pronto e a graça é exatamente essa!

Mas separei 03 atitudes que podem nos ajudar a conhecer lugares através das pessoas.

1- Opte por atividades de turismo colaborativo.

Seja voluntário, troque habilidades por estadia, ou use aplicativos para caronas.

Passar um tempo morando com um local é impagável. E como a gente ainda não pode bater a porta de qualquer um e pedir pra ficar, trocar um trabalho por uma cama é uma ótima solução!

Fora a experiência surreal e a reserva de budget, que convenhamos, é um fator importante quando pensamos em esticar uma viagem.

Aliás, esse tópico sobre voluntariar é tão complexo que vai dar um novo texto em breve. (Eu encontrei o voluntariado feito na medida para mim no Aplicativo da Worldpackers, mas tem outras plataformas que também fazem o serviço e podem nos ajudar um tantão!)

2- Reserve tempo, (mas um bom e longo tempo) para conversar com as pessoas que encontra.

Não pergunte o trivial. E nem faça uma entrevista com eles. Sente para um café. Embarque nos passeios que eles fazem sempre, ouça mais do que fale. E entregue-se. Isto é parte fundamental do processo.

3- Deixe o roteiro o mais aberto possível.

Tudo bem querer se planejar, mas se cismar que tem de ir para determinado lugar na data específica, corre o risco de você perder uma festa típica ou coisas parecidas. Compartilhe seus “planos” e desejos com eles e esteja aberto a sugestões!

Foi durante este dia comum dos Açorianos que fiquei sabendo de um lançamento de livro de poesia sobre as 09 ilha…

Decidi trocar conhecer um ponto turístico e estou indo lá continuar minha entrega e meu envolvimento por aqui…

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