Uma saída à francesa — Paris, França

Filipe Mendonça
Revista Passaporte
Published in
4 min readApr 12, 2019
Torre Eiffel. Arquivo pessoal.

Eu nunca me imaginei indo a Paris. Mentira, já me imaginei sim, quem não? Mas nunca imaginei que eu realmente iria. Não sei o que acontece, mas tenho um apreço por pequenas cidades. Acredito que aqueles povoados são o país de verdade e quanto maior a cidade, menos autêntica ela é. Então sempre imaginei Paris como sendo um pastiche do que era a verdadeira França, que eu iria encontrar em cidadezinhas do interior. Além de considerar um clichê visitar a tal “Cidade Luz”.

Estava pensando justamente nisso quando paguei por meu café e me levantei da mesa na calçada de uma cafeteriazinha em Montmartre. Ficava pertinho do Moulin Rouge e do Café des Deux Moulins, local de trabalho de Amélie Poulain. Já que eu já estava em Paris, resolvi abraçar alguns clichês. Por isso, foi sem conflito nenhum comigo mesmo que eu comprei um croissant no balcão de uma padaria que estava apontado para a calçada “un croissant s’il vous plait”. Isso era tudo o que o meu francês me permitia falar. Isso e um merci com o sorriso tímido de alguém que não tem certeza de que foi compreendido.

Bem, esse era provavelmente o pior croissant de Paris. Era de um balcão na calçada de um bairro extremamente turístico, o que nunca é um sinal de comida boa ou de preço justo. Mesmo assim, ele era tão bom quanto o melhor croissant que eu comi no Brasil. E comer um croissant enquanto se caminha pelas ruelas de um bairro parisiense é uma experiência que eu vou riscar da minha lista de coisas para fazer antes de morrer, assim que eu fizer uma.

Depois de ter comido o meu brunch, continuei andando pelas ruas da cidade. Quando estou em um lugar por apenas alguns dias, gosto de caminhar o máximo possível entre um local e outro que eu quero visitar. Assim, consigo ver todas as paradas obrigatórias e descobrir umas surpresas pelo meio do percurso.

Museu do Louvre. Arquivo pessoal.

É um pouco contra o meu físico conseguir andar tanto, mas, com umas boas três horas, consegui ver a Ópera Garnier, o Palácio Real, o Museu do Louvre e o Arco do Triunfo. Entre uma parada e outra, via as vitrines das padarias, confeitarias, queijarias, olhava os instrumentos musicais em oficinas de luthiers, encontrava algum grafite interessante. Aliás, enquanto no Brasil, paredes cinzas têm mais espaço que a arte de rua, na França, ela aparece como surpresas que dão um charme para ruelas outrora sem graça. É tratada como uma evolução natural dos lindos afrescos que colorem construções mais antigas.

Grafites em Paris. Arquivo pessoal.

Como meus olhos quase sempre ignoram lojas como Louis Vuitton, Cartier, Gucci e Prada, aproveitei a caminhada pela Champs-Élysées para prestar atenção nas pessoas. Turistas olhando para o alto e para os lados, tentando aproveitar cada passo para ver o máximo de detalhes possível e fazendo sempre comentários com os companheiros de viagem, enquanto apontam para alguma coisa aparentemente imperdível. Os parisienses são fáceis de notar, com o olhar fixo à frente e caminhando em velocidade constante, como quem sabe exatamente quanto tempo demora para chegar do ponto A ao ponto B.

Finalmente cheguei ao meu destino, a melhor vista da Torre Eiffel, em uma escadaria bem de frente com o local mais famoso da belle Paris. A verdade é que eu não sabia disso, mas dei sorte de o Google Maps ter me guiado justamente por esse caminho. Quando vi o cartão-postal, tive certeza que era uma cena que iria ficar guardada em minha memória. Nem prestei muita atenção nas pessoas, afinal, quando a Torre Eiffel sorri para você, você apenas sorri de volta. Foi nessa hora que eu resolvi parar um pouco a caminhada e apenas aproveitar. Algumas poucas nuvens que bloquearam o Sol também ajudaram no descanso. Eu queria ficar o máximo de tempo possível naquele momento.

Olho para o lado e vejo uma barraquinha não muito confiável vendendo uns sanduíches em baguetes. Mas, mesmo os pães ruins na França são bons. Peço um de atum e me sento na escadaria. E foi ali, comendo um sanduíche de atum duvidoso, sentado na escada, que tive um almoço no restaurante com a melhor vista de Paris. Existem alguns clichês que valem a pena ser vividos.

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