Angela Mansim
Revista Passaporte
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2 min readSep 1, 2018

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Existem os viajantes e existem as suas viagens.

Cada qual há de se merecer.

Não há jeito que seja certo, não há dia que seja errado, mas todo viajante tem a sua maneira de permanecer.

Existem os que vem e vão embora, nada levando além de souvenirs. Estes passam e desaparecem, provando suas viagens com imãs que nunca irão sumir. Suas lembranças ficam em pedestais nas estantes das salas de estar, e viram quadros para que os amigos se saciem de histórias frias no jantar.

Existem os que vem e se embriagam do anonimato. Onde pouco se importam, onde podem ser o que quiserem, onde o dinheiro compra todos os presentes que eles querem. Estes vão embora bêbados e cheios de piadas para contar, deixando para trás todo o lixo que fizeram ao ficar.

Existem os que passam e tiram suas fotos, levando embora suas caras nos lugares mais conhecidos das cidades. Fazem das provas, seus troféus. Das notícias, suas fofocas. E para os lugares, é uma pena, eles nunca lá estiveram, a não ser pela vaidade.

Existem os viajantes que trazem as malas enormes, cheias de crenças e opiniões de casa. Estes viajam para lembrar que moram no melhor lugar, que vivem do jeito mais correto e que acreditam nas coisas certas. Voltam para casa com as mesmas malas enormes que vieram, só que mais pesadas do que com o orgulho que trouxeram.

Existem os viajantes que trazem a mochila que podem carregar. A mochila nunca está cheia. A mochila nunca está certa. Com humildade a esvaziam, com empatia a transbordam. Trocam as roupas, deixam os livros, ganham o que precisam, dão o que tem como presente. A mochila pode se encher sempre, mas nunca pode se encher demais.

Estes que viajam, partem em busca das pessoas dos lugares. Voltam com as fotos e com os souvenirs, como qualquer outro viajante há de querer sair. A diferença consiste no peso das bagagens que carregam, na lista dos nomes conhecidos que fizeram, na relevância dos objetos que trouxeram de volta e na disposição de se esvaziar de si para se encher dos outros.

Existem os viajantes e existem as suas viagens.

Cada qual há de se merecer.

Não há jeito que seja certo, não há dia que seja errado.

Viajar é preciso, disto sabemos pelo poeta.

Mas como é preciso viajar, cabe aos seus viajantes escolher.

Uluwatu, Bali, Indonésia.

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Angela Mansim
Revista Passaporte

Designer de textículos. Livre & maluca, amém. Instgrm: @angelamansim.