Quatro aprendizados de um projeto com voluntários na Passei Direto #RetroPDProdutores

Importância do buy in do time, o impacto da Heurística do Afeto nas estimativas, o hiper realizador na síndrome do impostor e side projects como ferramenta de conexão. Aqui um pouco do que eu aprendi no projeto #RetroPDProdutores.

Raoni Franco
Passei Direto Product and Engineering
9 min readDec 14, 2020

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Na Passei Direto, temos um dia do mês dedicado exclusivamente ao aprendizado: o Refresh, quando você pode parar tudo para estudar o que quiser. Sempre aproveito esses momentos para compartilhar o que estou estou estudando: ou conduzindo alguma palestra interna, ou produzindo material para compartilhar na rede do Passei Direto. Tenho uma crença de que enquanto eu não consigo repassar para alguém um conceito, ainda não o aprendi de fato.

Lembrança de 2019 por estar sempre compartilhando conteúdo nos Refreshs 🤗

Porém, meu Refresh de novembro foi um pouco diferente. Preferi explorar uma outra forma de aprender. Saí do “learn by teaching” para o “learn by doing” por um dia. Formamos um mini-squad de sete pessoas com o propósito de fazer a Retrospectiva PD Produtores 2020 (#RetroPDProdutor): uma mensagem de final de ano para os principais produtores de conteúdo que compartilham materiais na nossa rede. A ideia era trazer dados de 2020 sobre o impacto deles nos estudantes.

A entrega do projeto foi esse emailzão da p0rr@ aí em cima. No final do email, ele ainda tem um Call To Action que leva para um vídeo com os mesmos dados para serem compartilhados nos stories das redes sociais.

Feedback postado no Linkedin por um dos produtores de conteúdo do Passei Direto que receberam a #RetroPDProdutor

Estamos bastante felizes com os feedbacks dos produtores. O sentimento unânime é de que valeu a pena. Mas, tão importante quanto a entrega, é deixar registrados aqui o que eu aprendi com essa mini-odisséia, nesse Refresh diferente. Vamos nessa?

Contexto: Como foi o dia do Refresh

Antes dos aprendizados, só uma contextualização para entender como foi o nosso dia.

Nossa primeira reunião foi tipo assim, só que online. :)

Começamos com uma reunião às 9h00. Foi um misto de “kick off” e “ideação” do projeto. O objetivo desse encontro foi alinhar o que e como faríamos. Depois de olhar alguns benchs e fazer um processo bem sucinto de ideação, (com muitas restrições para não viajarmos muito) discutimos sobre o que era viável e fizemos uma divisão das tarefas. O output dessa reuna foi uma todo list com as tarefas macro do dia.

Eu (PM de Retenção), Pedro Torres (PM do PD Produtores) e Lucas Pedro (stag de produto do PD Produtores) ficamos responsáveis por levantar os dados no banco que iriam popular os emails com os resultados do ano dos produtores. Maju (Product Desginer) e Ericka Kellner (Copywriter) compilaram os inputs da reunião para gerar o layout do email. Jessica Branco (Analista de Performance) e Felipe Huszar (Desenvolvedor) teriam a missão de gerar o email e a automação que leria os dados de milhares produtores para fazer o disparo. Thiago Burgo, Engineering Manager, botaria seu hobby de programação em prática e ficaria com a geração do GIF animado (que no final virou um .mp4) para os produtores que quisessem compartilhar seus resultados nos stories das redes sociais.

Dividida as tarefas, partiu missão?🚀

A partir dessa divisão, todos nós partimos para nossas tarefas. Combinamos uma reunião no final do dia, às 18h00, para fecharmos o projeto e unirmos as partes. Mas será que seguiu tudo como planejado? O que foi bom e o que foi ruim nesse dia? Acompanha os aprendizados a seguir que tenho algumas respostas. :)

#1 Quando há real buy-in de todos o trabalho flui

O ponto alto do trabalho em equipe foi a velocidade que o time tomava decisões. O processo foi muito mais fluido que em “projetos do dia a dia”. Senti que tudo foi menos burocrático e sem ressentimentos do tipo “porque a minha ideia foi a escolhida”. Tivemos vários momentos de divergência, mas um caminho era rapidamente escolhido sem a morosidade de debates sem fim ou alguém ficar de cara feia. Foi um dos poucos projetos em que 100% do princípio de “Disagree and commit” (traduzindo: “não concordo? blz, tmj. segue o jogo”). Viver isso tornou tudo leve. Foi maravilhoso.

Um time de voluntários é “ôto patamar”

A minha principal hipótese para que esse ponto positivo tenha acontecido foi o total buy in dos participantes. Os sete integrantes estavam lá de maneira voluntária, e essa é a maior evidência de total buy in. Depois que Pedro Torres conversou comigo sobre reviver a ideia da Retrospectiva (que tínhamos no time de Retenção há um tempo, mas acabou não sendo priorizada), fizemos um recrutamento pelo slack bem direto: “sabe aquela ideia de retrospectiva? queremos fazer nesse refresh, bora?” Mesmo com respostas por texto, eu percebi o olhinhos brilhando em cada “sim“ 🤩.

Nota de Insight/Reflexão: Já pensou se todo projeto que você participasse fosse formado por pessoas que escolheram estar ali? #sonho Mas enquanto não chegamos a esse cenário, como conquistamos o “Disagree and commit” das pessoas no dia a dia?

#2 Cuidado com a Heurística do Afeto

Daniel Kahneman, autor de Rápido e Devagar, cita a Heurística do Afeto como um fator importante nos nossos processos de julgamento e tomada de decisão. No livro, é apresentado o experimento social do cientista Paul Slovic que demosntra o quanto a nossa avaliação de risco é afetada pela nossas emoções. O estudo citado observa o quanto a nossa percepção de benefício de uma solução tecnológica incide na nossa avaliação de risco. Quanto maior afeto/favorabilidade por uma solução, menor é o risco percebido/avaliado.

Daniel Kahneman, Nobel em Economia, autor do livro Rápido e Devagar. Foto: vidadeviajante.com.br

Com base nessa pitada de referência científica, imagine agora sete voluntários, extremamente empolgados em realizar um projeto, fazendo uma estimativa do que dá para fazer até o deadline. O quanto não subestimamos o esforço necessário e não vimos riscos e dificuldades por influência da nossa percepção de benefício/impacto da solução? Pois é, como era de imaginar, atrasamos a entrega.

Vamos fazer isso, e aquilo, e aquilo outro, e aquilo também. #empolgação

Nosso deadline teórico, que era o final do dia do Refresh, não foi cumprido e deixamos algumas arestas para serem tratadas nos dias seguintes. A sorte é que a campanha só iria ser disparada em dezembro, então ainda tínhamos alguns dias para ajustes.

A empolgação foi tão grande que inclusive caímos no erro juvenil do “acabamos, só falta testar”. Os ajustes finos para correção de bugs (como o gif que não rodava no Instagram em alguns fluxos e precisou virar um vídeo mp4) ou de dados que não pareciam fazer muito sentido para o produtor (o que gerou algumas refações nas queries) geraram até mais horas de esforço que o dia do Refresh para alguns membros. Claro que isso teve impacto negativo, pois essas arestas, foram podadas em horários fora do expediente, o que no final gerou sentimento de “agora, só queremos acabar”.

Como me sinto quando o tempo testando e fazendo ajuste é maior que o tempo inicial previsto.

Nota de Insight/Reflexão: por mais que você faça uma matriz RICE para priorizar suas iniciativas, jurando que assim você racionalizou tudo com esse framework, lembre-se que a Heurística do Afeto existe. Ela vai afetar o I (impacto) e o E (esforço) da sua matriz. Pondere as avaliações quando todos (ou a maioria) estão inclinados para uma determinada ideia.

#3 Tchau síndrome do impostor: um guia/mediador é importante sim

Na minha rotina de Product Manager, às vezes, rola uma síndrome de impostor do tipo: será que se eu não tivesse aqui, não estaria tudo fluindo igualmente?

Será que estou sendo esse cara? 🤔

Todo mês eu assisto o vídeo acima que mostra um gerente “ajudando” o time a transportar sacos pesados no caminhão. É minha forma de rir do meu anseio, mas sempre gera um momento de reflexão: “será que eu estou sendo esse cara?”.

Muito dessa questão está ligada ao sabotador do hiper-realizador: que traz a crença de que você só tem valor se tiver fazendo “coisas”. Então, quando você não é quem coda ou quem faz o layout, não há uma entrega tangível, tão clara, que seja sua. Entretanto, esse projeto foi fundamental pra eu reafirmar a importância de ter alguém com o norte e ligando os pontos do time.

Na reunião que fizemos no início do dia, levei um documento com alguns benchs e algumas diretrizes de para onde deveríamos ir. Saí de lá com a missão de ajudar Pedro Torres e Lucas Pedro na coleta dos dados que iriam popular os emails, mas confesso que 90% desse trabalho foi feito por eles. Ao longo do dia, eu precisei parar algumas vezes para conversar sobre problemas técnicos com diferentes partes do time que geraram alterações no escopo do projeto. Se tivéssemos que parar toda equipe em cada uma dessas situações, o dia teria sido muito improdutivo. Ponto para presença do guia/mediador.

Se a cada pequeno ajuste de rota tivéssemos parado todo mundo para debater, teríamos sido ainda menos produtivos.

Pós disparo do email, também tivemos alguns problemas técnicos que poderiam impedir os produtores de baixarem seus vídeos para postar nas redes sociais. Dessa vez, era ainda mais crítico juntar todo mundo para explicar a situação e só depois decidir. Para serem mais rápidas, essas decisões precisaram ficar entre eu e quem estava resolvendo o problema.

No dia seguinte, coletando os pontos positivos e negativos do nosso dia de trabalho, recebi esse feedback por escrito, que ratificou o meu sentimento:

“Ter um plano base de guia e uma pessoa mediando as ideias pra não sair muito do que era possível fazer foi importante“

Nota de Insight/Reflexão: Se você não coda, não é responsável pelo texto, pelo layout ou alguma atividade mais tangível de um projeto, lembre-se que ter alguém olhando o todo e podendo tomar decisões é importante para o trabalho acontecer, por mais horizontal que seja o time.

#4 Side projects trazem oportunidades para se conectar com outras pessoas

A pandemia acabou com o happy-hour e o cafezinho do meio do expediente. Eu aproveitava bastante esses eventos para conhecer outras pessoas da empresas e me inteirar sobre outras iniciativas. Um projeto como esse, feito no Refresh, traz uma oportunidade única de nos conectarmos com pessoas que não conseguimos mais no dia a dia.

Side Projects: Oportunidades de conectar pessoas que dificilmente trabalhariam juntas

Eu, particularmente, nunca tinha feito um projeto com o pessoal do Squad PD Produtores (Pedro Torres e Lucas Pedro). E tivemos outros encontros mais inusitados: como um Engineering Manager (que lidera Tech Managers) numa missão lado a lado com a Analista de Performance de Emails.

Nesses nove meses de pandemia já vi pessoas entrarem e saírem da empresa sem eu ao menos ter a oportunidade de conversar com elas. Por mais que haja iniciativas frequentes e interessantes do time de People para integrar toda a empresa, fazer um projeto ligando pessoas com interesse em comum é uma mega ferramenta de conexão.

Nota de Insight/Reflexão: Para quem trabalha tendo ideias para resolver problemas, se misturar com outros times, outras cabeças, outras visões de mundo é muito rico. Azul claro com azul escuro só dá azul; precisamos de mais cores para colorir a paisagem toda.

Que venham mais projetos de Refresh

Além de reforçar a necessidade do buy in, nos alertarmos para o impacto da heurística do afeto nas estimativas, eliminar a síndrome do PM impostor e observarmos a conexão gerada em side projects, evoluímos em várias questões técnicas no uso do Marketing Cloud (Salesforce) e da AWS para gerar a solução da #RetroPDProdutores. Lições que certamente vão ficar para outros times do Passei Direto.

Finalizo por aqui já pensando no próximo projeto de Refresh. Gosto do friozinho na barriga de ter um deadline apertado para fecharmos uma entrega. É um mega exercício de priorização (#vidadepm) e também um importante catalisador para o time. Até a próxima.

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Raoni Franco
Passei Direto Product and Engineering

onde uma graduação em Computação se encontra com 10 anos de trabalho diário para refinar e comunicar negócios.