Adolfo e as relações

Patrícia Stanquevisch
Patricia Stanquevisch
6 min readNov 17, 2016

Adolfo é um amigo que ganhei ano passado. Um urso laranja que dorme ao meu lado. Ele é muito querido, mas tenho que dizer que é, às vezes, bem inconveniente. Mas me ensinou muito sobre relações. Ele tinha o nome de Mr Pringle, mas mudamos para Adolfo. Meus filhos e Eu.

Só para relembrar, eu tenho a Síndrome de Asperger. E o foco dela são as relações. Por ser tão “diferente” , passei a vida com as pessoas tentando me adequar aos padrões. Sobrevivi e me mantive firme em minha intenção de vida que é superar limites e ser livre.

E Adolfo teve um papel importante na consolidação de todo o meu processo de me reconhecer dentro destas relações e me organizar de forma a me maltratar cada dia menos. Pois, apesar de nunca querer me padronizar, como as pessoas queriam e nunca entrar dentro da forma, isso me causava dor. Me sentia (às vezes ainda me sinto) um peixe totalmente fora d´água e culpada (não me sinto mais culpada). Eu recebi/recebo muitas cobranças. Faz assim, faz assado. Por quê não fez assim, pq não fez assado? E eu na busca de expressar minha singularidade.

Adolfo foi exemplo. Eu o observei nas suas relações com meus outros bichos de pelúcia. E vejam que interessante a lista de coisas que percebi pelo caminhar dele:

1. Amigo/amor não te joga para baixo. Te joga para cima. Te ajuda a compreender sua potência, apoiando quando você está bloqueado. Não mistura suas expectativas com a relação. Imaginem o Adolfo: um urso, gordinho, laranja, no meio de bonecas, outros bichos como o Rei Leão (Simba), ET (ícone do cinema), Timão e Pumba. Este é Adolfo. O simples ursinho de pelúcia. Os metidos dos outros bonecos achavam que ele precisava mudar sua cor. Laranja é muito chamativo, segundo eles. Emagrecer. (Vejam se pode… um Urso emagrecer). Entre outras coisas. Mas gente, eles eram amigos !! Adolfo não permitia que estes amigos o levassem para baixo. Dava limites e no final, Simba, o Leão, pintou seu cabelo de roxo, pois era o que ele sempre quis na vida e achava que não podia, afinal ele era o Rei das Florestas. Pumba começou a comer fruta, já estava cansado dos insetos do Timão. E o ET parou de falar “ET phone home”, porque descobriu que estava ali a grande chance de liberar o cordão umbilical. Adolfo, quebrou total os paradigmas dos meus bonecos todos. E aprenderam todos a construir juntos e não a colocar o Adolfo para baixo.

2. Amigo/amor não te julga, dizendo o que você deveria fazer ou não, sem te perguntar antes se você quer um feedback. Este é poderoso.

Parei de querer ouvir feedbacks a torto e direito. Minha cabeça era uma montanha russa de opiniões sobre meu jeito de lidar com as coisas, minhas escolhas e meus movimentos. Imaginem uma pessoa que vive na berlinda. Esta pessoa sou eu 100% da vida. Todas as coisas que fiz até hoje foram de ruptura total do modelo preponderante. E havia um monte de gente com incômodos que não eram meus. Mas delas. Eu sempre as ouvia, não atendia aos pedidos. Mas ouvia. Só que só de ouvir isso me adensava. Por ser expectativa das outras pessoas e não minhas. Como elas poderiam saber o que é melhor ? O melhor é para elas e não para mim. Se eu mudasse minha forma de ser, ELAS ficariam mais felizes. E quem garante que EU ficaria ?

Eu vi várias vezes o Adolfo virando as costas para as bonecas (alguns palavrões ele dizia) que vinham lhe dar sugestões sobre seu gênio explosivo. Não entendia. Hoje entendo. Como entendo. Entendo até a solidão que ele vive. Entendo você, Adolfo. E isso mudou minha vida.

Não permito mais. Não me dizem mais você está certa ou errada. Quando sinto no meu coração que preciso do apoio de algum feedback EU PEÇO. Quando eu sinto que a pessoa está vindo com uma conexão amorosa, sem ego, eu ouço e muitas vezes mudo em mim o que é preciso. Tudo precisa partir do meu coração. E tenho percebido que, o Universo me privilegia em receber as pessoas que realmente trarão algo para minha expansão. E isso se deve ao Confiar. Quando você me ouvir dizer “não quero te ouvir” saiba que não é pessoal, mas, simplesmente, o que você tem para me dizer, neste contexto aqui, é seu, não meu. Confio plenamente nisso, com toda a amorosidade possível e conquistada por mim.

3. Quando eu dou sete chances para uma relação funcionar e sempre termina exatamente do mesmo jeito, eu devo parar, olhar e perceber se estou criando expectativas ou precisando refletir sobre auto-respeito. Assim foi minha relação com Adolfo desde sempre. Segundo meus filhos, que conhecem bem Adolfo, as duas alternativas estão corretas. ❤ “Adolfo é um Urso. Não o Homem de Ferro, Mamãe !! O que você sofre é porque você quer algo que ele não pode te dar e se ele te respeitasse mesmo, algumas coisas não aconteceriam, tipo ele ocupar todo o espaço do seu travesseiro, deixando pouco espaço para acomodar você nesta coisa toda. Auto-respeito, mamis. Tem que partir de você, não dele.” (Fazer o que se filho de peixe peixinho é). E Adolfo agora tem seu próprio travesseiro. Não dividimos qualquer coisa, por hora. Estamos aprendendo a fazer isso. Ainda o vejo por aí, no quarto, com os outros bichos de pelúcia, mas ele não pode subir na minha cama. Não mais.

4. Eu e Adolfo somos muito parecidos. Um Urso que gosta de boemia. Ursos Hibernam. Não são boêmios. Eu também gosto de boemia. Uma mulher que gosta de romper estruturas, fazer coisas que dizem ser impossíveis. Para mim NADA é impossível. Nem me relacionar com um Urso. Ele também gosta. Adora, inclusive. E o que nós dois não gostamos. Discutir a relação. Ele me ensinou a internalizar isso. Como ele é abusado, já contei, eu dormia na mesma cama com um urso que não gosta de discutir a relação. Eu precisei entender o que isso significa. Mesmo porque, eu também não gosto de discutir a relação. E entendi. Ufa. Não há relação para discutir, mas para cuidar. Cuidar nos meus atos e fazer co-emergir o melhor. Não deveria importar que Adolfo é egoísta como é. Ele é porque é. E meu amor por ele não depende disso. Não está condicionado a nada. Nas Drs fica um tal de jogar a responsabilidade para o outro. Um monte de mágoa e postura de vítima. Isso não é o melhor para mim. Nunca foi. Não parte do coração, mas da mente. E é aquela coisa. Sempre a escolha é minha. Ficar numa relação que me faz feliz ou infeliz. A escolha é minha. Isso para todas as relações. Eu escolho me conectar pelo coração, cuidar do que está dentro de mim, expandir meu amor até o outro. Se há debate, não combate, sou autêntica. Não combato, mais. Se entrar na energia do combate eu me retiro. Esta postura é consciente. O combate vem do ego. E, também, porque para mim, com minha síndrome, é relativamente estranho as DRs. Muito cruel comigo mesma. Não entendo todas as dimensões de uma discussão como as demais pessoas. Então, prefiro me preservar disso, até que eu ILUMINE. Quem sabe um dia !!

Estes foram os principais aprendizados com Adolfo. Neste contexto relações. Aprendi outras, sobre música, comida, estrelas, lua, deuses, deusas. Mas isso é uma Outra história.

Não julgue. Nem como verdades, nem como inverdades. Nem como nada. Meus textos são formas de manifestar meu Poder Pessoal. Não têm outra intenção que não seja esta. Se você se sente conectado com ele, interaja com seu coração.

Obrigada, Mr Pringle, ops, Adolfo !!

Te vejo no quarto mais tarde. Vc no seu travesseiro e eu no meu !

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Patrícia Stanquevisch
Patricia Stanquevisch

“Nasci para ser livre e para isso tive que aprender a Superar Limites. De muitos tamanhos, formas, cheiros e cores”.