O anjo e o ego

Patrícia Stanquevisch
Patricia Stanquevisch
3 min readNov 17, 2016

Era uma vez um anjo. Caiu sem querer numa cidade cheia de prédios e carros. Achou divertido aquele mundo tão barulhento. Precisava dar um jeito de voltar para o céu, mas já que caiu ali, preferiu aproveitar o tempo e descobrir mais e mais sobre aquela partezinha ínfima do Universo no qual ele vivia.

Andou pelos caminhos feitos de concreto, mas também pela lama e areia. E percebeu a diferença entre estes caminhos. Uns mais duros outros mais instáveis. Uns mais objetivos, outros mais abstratos. Lindo este mundo, pensou o anjo. Que força ele via na diversidade! Era incrível como os seres daquela cidade conseguiam manter vivas formas tão diferentes, como uma árvore de jaca no meio de um monte de prédios e ar poluído. E os animais ? Que fantástico ver que eles conviviam, pacificamente, entre os carros.

Ficou apaixonado, o anjo, pelo infinito campo de possibilidades que ele enxergava ali para o amor. Amor é o que ele era, afinal. Esta foi a atração, a tensão que o fez ficar ali por tanto tempo. Desfrutando das descobertas. Dos aprendizados.

Daí, Deus, o dono do Universo gritou lá de algum lugar muito distante: “Ei, Anjo, vais ficar aí por quanto tempo ainda ? Esqueces que és muito sutil para sobreviver neste plano denso ? Que faço para que tu percebas que seu lugar é aqui ?”

O Anjo danado de sapeca, respondeu: “Querido Deus, mas ora ora, que tu me ensinantes a seguir a vibração do meu coração. E seus ensinamentos são meu guia, Senhor !! Estou seguindo o que vibra meu coração. E estar com estes seres aqui que constroem e destroem a si mesmos, sempre numa busca a ti é o que me mantém vivo, Pai Querido.”

Deus, sábio como só, aceitou que o Anjo ali ficasse até quando sentisse que era a hora de voltar.

E assim, o Anjo continuou a peregrinar. Conheceu outras cidades, outros países, outras culturas. Sempre admirado pela inesgotável capacidade do ser humano em superar nas realizações.

Eis que um dia, sem que ele esperasse (Anjo não espera, vive), apareceu um ser inusitado em sua frente. O Ego. Curiosamente o Anjo teve medo.”Como assim ? Medo, eu ? Sou Anjo, anjos não sentem medo.” Era um aviso dos céus… Perigo estava surgindo, muito perto. Mas o Anjo não sucumbiu… olhou de frente e quis conhecer o tal ser chamado Ego. Se entregou a ele. Permitiu-se, também, ser descoberto.

O Anjo se apaixonou, pelo ego. Que força, que poder tem este ser, que simplesmente arrasa com o que estiver pela frente, sem nenhum ou quase nada de esforço !!

E os dois bailaram juntos na luz e na escuridão. Um troca troca de lugares. Muitas vezes o medo vinha e afrontava o pequeno Anjo. O colocava de frente com o Ego. Assim, via coisas, também, desconhecidas, como a raiva, o ciúme, a vaidade, o julgamento. Mas como toda dança, foi lindo. Cada peça foi se conectando, mudando de posição. Um jogo de amor. Quando chegava a raiva, ele chamava a compreensão e a paciência. Na vaidade ele colocou beleza da alma e brilho do sol. No ciúme a liberdade. No julgamento a empatia e compaixão. E assim foi criando seu mosaico. Chamou a isso de Integridade.

E Deus veio, de novo. “E aí, Anjo? Vais voltar ?”

E o Anjo, “Mas eu já estou ai, agora sim, estou aí em VOCÊ !!”

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Patrícia Stanquevisch
Patricia Stanquevisch

“Nasci para ser livre e para isso tive que aprender a Superar Limites. De muitos tamanhos, formas, cheiros e cores”.