Pela Lente do Passado

Patrícia Stanquevisch
Patricia Stanquevisch
6 min readDec 1, 2016

Eu estudei muito tempo os padrões que carregamos por conta das Vidas Passadas. São muitos, que ficam encrustados em nosso inconsciente. Atualmente, tenho compreendido que os processos kármicos estão num movimento diferente, porque expandimos enquanto consciência. Não temos que carregar karmas, mas compreender as escolhas e transformar os padrões de tantas vidas. Reconciliar com nosso SER.

Este texto é algo que recebi sobre algumas vidas minhas com uma outra pessoa. Foi algo inusitado. Sem muita elaboração. Só veio e eu escrevi. Me fez muito bem, apesar de tanta dor contida nele, pois liberei algo que estava mais do que na hora.

Olhe para seus padrões e peça à sua alma que te mande clareza e consciência do que não é mais necessário. As respostas virão. Você está Livre. Você é Livre.

“Eramos guerreiros, numa tribo além fronteiras da Alexandria. Gostávamos daquilo. Da força bruta, do sol queimando o rosto, depois do banho de sangue, a cada batalha.

Tu eras mais líder que eu. Mas isso não me incomodava. Nossa amizade era mais do que uma mera competição entre gladiadores.

Todo seu comando nos levava à uma vitória. E a celebração, após nossa volta, era alegre, cheia de bebida, mulheres, cantoria.

E num dia, não foi assim. Tu não pudeste evitar e fui preso bem na sua frente. Eu não poderia viver preso. E, ali mesmo, me matei. Pude ver, ainda que de forma embaçada, seus olhos congelarem e aterrorizarem. Não vi nada mais daquele lugar. Não estava mais ali.

Te vi de novo. Muitos e muitos anos depois. Numa ilha. Negro e belo. Eu, no corpo de uma mulher. Linda, pessoa assustada com o sol, por ter a pele mais clara do que poderia suportar. Não o vi com bons olhos. Ouvia dizer que tu eras mercenário de mulheres brancas, para que outros homens ricos pudessem se divertir. Tive medo, porém meus olhos não puderam se desviar dos seus. Obriguei-me a sentir repulsa. Muitos medos. Muitos sentimentos estranhos. Os olhos queriam ver-te, mesmo assim senti repulsa.

Fingias ser honesto. Pleiteou conversar comigo, numa feira de frutas. Desconversei dizendo que neste local não poderias encontrar o que procuravas e sai desaforadamente. Tu continuaste me olhando. Percebi, mesmo de longe. Não podia negar que o medo era uma mistura de curiosidade, atração e deleite. Ilusões. Tu me buscaste. Um dia sem perceber, me vi presa por seus braços fortes. E não era por desejo de um homem, mas porque, de fato, me querias como mulher branca a ser vendida ao outros. Assim me levaste. Me vendeste e me perdeste. Nunca mais te vi. Mas sabia que aquilo era uma vingança. Eu teria que aprender a viver presa.

Te vi de novo. Mas desta vez não era nascida. Te vi de longe. Nasceste como pessoa rica. Cheio de funcionários, atendentes e regalias. Havia uma mina, sua propriedade. Mas não estavas feliz. Desceste o monte de areia até o escritório para dizer à tua secretária que ias embora mais cedo. Foste. Eu via seus pés. Os mesmos de hoje, de ontem e antes de ontem. Tens o mesmo pé hoje.

Entraste no carro, em direção à tua casa. Casa grande, com janelas enormes. Era preciso, pois ali fazia muito calor. O vento precisava dar trégua aos moradores. Vi seus pés subindo a pequena escada de madeira, que dava para um grande terraço e dali para uma sala, que também não era pequena.

Olhaste as crianças pequenas brincando ao longe. A casa silenciava. Estranheza. Cadê tua mulher ? Foste procurar no quarto e lá estava ela, se deitando com outro. Não te esperava tão cedo. Que diabos um homem que sempre estava cheio de trabalho faria tão cedo em casa ? Era a morte. De todos. Pegaste a arma do lado, primeiro foi ao outro o confronto da bala. Depois para a imunda que não soube te respeitar. E depois a ti mesmo, que não suportou tanta dor.

Te vi de novo. Num lugar de mortos que não aceitam a morte. Te vi de longe. Não podia ir até ti antes que me chamaste ou pedisse ajuda a quem quer que fosse. Sofrias por teu ego ferido. Não entendias o porque de tanta dor, traição e corrupção. Não se lembrava das mulheres que vendia, noutra vida e nem que esta última estava doida para cobrar de ti a dívida. Não se lembrava nem de mim. Mas tudo tem sua hora.

Passaste tempos, os quais neste lugar não sabemos cronometrar. Mas para ti foram duzentos anos, trezentos, quatrocentos. Seu corpo, que não existia, era só energia densa, perdida na forma pensamento da dor, não entrava em acordo com nada. Só pensava em morte. Já estavas morto. Não entendias ? Pois. Chamou. Pediu a mão. Pediu arrego. E eu fui.

Fui no corpo de uma senhora. Cabelos brancos, corte curto. Roupas floridas e cara de anjo. Aceitaste minha mão. Eu disse que poderias confiar em mim. Eu era tua aliada, tua parte e teu apoio naquele momento. Vieste, então, até a Fonte. Cuidado foste. Entendeste a experiência última. Cumpriste o combinado. Precisavas morrer para compreender a traição. Vendeste aquela mulher, que naquela ilha, foi sua amante. Seu amor. Traíste e não entendias o que isso significava. Agora sim. Ela te traiu. Cumpriu parte do aprendizado. Mas não era para matar. Ainda é preciso dar passos. Construir uma vida, entender a traição e perdoar a experiência. Sem matar.

Eu e tu na Fonte. Tu comigo na Fonte. Aprendendo sobre as experiências passadas. O que mais poderíamos fazer ?

Tu decidiste voltar. Não mudou muito das necessidades da alma. Mas expandiste de forma a superar a tridimensionalidade. Havia pouco a ser feito. E o pouco se fez.

Nos encontramos. Desta vez, nos reconhecemos imediatamente. O denso se dissipou na nossa frente e pudemos ver os olhos de sempre. Os olhos dos dois amigos de combate. Os olhos da mulher que vendeste. Os olhos do homem que me vendeu. Os olhos da senhora que te resgatou depois da morte. Os olhos de células que se encontram desde a divisão de um único ser.

Não pudemos resistir. Entramos na mesma Roda que nos move, desde sempre. Não conseguiste perdoar o guerreiro que morreu na sua frente. Me achou fraco e que eu havia te abandonado. Suas guerras não foram mais as mesmas. Não sabias que eu estava na mesma lama que ficaste na morte de sua mulher. Eu morri guerreiro e fui para a lama. Achando que tu não soubeste comandar direito e não me salvaste. Me deixou morrer. E com ódio sofri tantos cem, duzentos, trezentos anos na lama do umbral.

Te reconheci como mulher na ilha. Tinha medo de confiar em ti, pois senti-me traída enquanto guerreiro. Ao mesmo tempo tu me vendeste, porque me achava fraca, como o teu amigo que te abandonou.

Hoje. Eu te vejo. Combatendo as mesmas batalhas, mas de outro jeito. Com lucidez, para não cometer os mesmos erros. Compreende a experiência e já descobriu os desígnios da sua alma. Buscas a vingança pelas traições, ainda. Mas de outro jeito. Não queres matar ninguém. Mas queres mostrar quem és, tua força, tua potência, tua verdade. E que isso já valeria a pena não ter sido traído.

Eu, continuo nos meus desafios. Não querendo ser morta e abandonada. Não querendo ser comprada por ninguém. Estendendo a mão para meu amor. E sendo livre, como sempre tentei ser. Desde a primeira batalha.

São muitas vidas tentando. Chega de tentar. Compreendi que não há karma, mas experiências que nos ajudam cada vez mais a SER. Fazemos acordos, em cada vida, de como iremos agir para que o aprendizado aconteça. Nos esquecemos e brigamos com quem nos faz mal. Mas foi parte do acordo.

Eu te estendo a mão. Sempre. Para sempre. E por amor. Seja lá que você for.”

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Patrícia Stanquevisch
Patricia Stanquevisch

“Nasci para ser livre e para isso tive que aprender a Superar Limites. De muitos tamanhos, formas, cheiros e cores”.