Assédio vivido por Kim Kardashian: dinheiro e status não blindam mulheres do patriarcado

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3 min readApr 7, 2022
Kim Kardashian e Kanye West posa para fotos antes da cerimônia do Oscar 2020 em 9 de fevereiro — Foto: Evan Agostini/Invision/AP

Kim Kardashian e Ye (anteriormente conhecido como Kanye West) foram, por muitos anos, considerados um dos casais mais poderosos da indústria midiática. A ostentação e a vida luxuosa fizeram com que o relacionamento fosse visto como um “casamento dos sonhos”, no qual o rapper presenteava sua amada com presentes caros divulgados em redes sociais. No ano passado, no entanto, após o divórcio, a socialite passou a viver um período cheio de ameaças do ex-marido. Esse comportamento de Ye mostra sinais de violência e pode ser representativo da realidade de muitas mulheres que tentam escapar de relacionamentos violentos.

Em 2014, a socialite Kim Kardashian e o rapper Ye se casaram em uma celebração bastante luxuosa. Após sete anos, em fevereiro de 2021, o casamento dos dois chegou ao fim. Ye, contudo, expressou publicamente sua insatisfação com a separação, compartilhando fotos de Kim e os filhos, enviando um carro cheio de flores no dia dos namorados e comprando uma mansão em frente à da ex-esposa. Ele ainda teria ameaçado o atual namorado de Kim, fazendo-a trazer a público o “sofrimento emocional” e o desconforto causados por suas atitudes.

Kim Kardashian foi consultora de imagem e estilo, além de amiga pessoal da atriz e socialite Paris Hilton, e também trabalhou com celebridades como Cindy Crawford. Assim, quando a ‘sex tape’ (vídeo de sexo) com seu namorado da época vazou em 2007, houve certa repercussão. No entanto, sua fama cresceu quando, no mesmo ano, o reality show “Keeping up with the Kardashians”, estrelado por ela e sua família, teve sua primeira temporada. Filha do ex-advogado Robert Kardashian, falecido em 2003, ela e os três irmãos herdaram $100 milhões de dólares, o que evidencia a origem da fortuna da socialite. Kim aumentou seu patrimônio, atualmente é considerada bilionária e tem um dos nomes mais populares da indústria midiática. O rapper Ye é também bilionário, consagrado no mundo da música e da moda.

Os comentários e pontos de vista sobre a situação vivida por Kim Kardashian revelam a relativização do assédio contra a mulher pelo ex-marido, mesmo após o divórcio. O cantor aproveita a situação para ameaçar sua família e sua carreira, questões de grande importância para a ex-esposa. O corpo e a vida feminina são vistos como posse, o homem apenas está exercendo o seu direito ao tentar reivindicar “controle” sobre sua família. A realidade de mulheres brasileiras que não possuem os privilégios do casal nem a mesma cobertura midiática, se conecta a esse cenário. Dados de 2019, revelam que quase 90% das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres mortas por ex-maridos ou ex-companheiros. A pergunta é: o que deve ser feito para que situações de importunação e assédio sejam socialmente levadas a sério?

Se é revoltante acompanhar a dificuldade de uma advogada famosa em seguir sua vida após o término de um casamento com um músico e de ver as atitudes de seu ex-marido romantizadas, sendo taxado de romântico apaixonado aos olhos do público, há muitas outras violências “toleradas” socialmente na vida de quem não está sob holofotes da mídia. Se nem o status de Kardashian, adquirido através de fama e dinheiro, seria suficiente para ter liberdade, percebemos quanto falta caminhar para que mulheres tenham liberdade. Kim apresenta um passado bastante menosprezado pela sociedade machista em que vive e, por isso, muitos acreditam que ela merece passar por essa situação, justificando o assédio sofrido por ela. É certo que, além do constrangimento de ter a intimidade de seu relacionamento exposta ao público, até agora nenhuma ação legal foi tomada por ambos. Vale ponderar que, independentemente do que faça e da violência que sofra, não há poder econômico que blinde uma bilionária do patriarcado.

Texto de:

Tuani Awade Nunes da Mata é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM-UFMT) na linha de Política e Cidadania e graduada em Comunicação Social — Jornalismo pela UFM (Insta: @tuaniawade)

Anna Giullia Nunes Magro é estudante de jornalismo na UFMT

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Observatório de Comunicação e Desigualdades de Gênero da Universidade Federal de Mato Grosso.