GenSex COVID-19 reúne dados sobre saúde, gênero e sexualidade durante a pandemia

Pauta Gênero
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4 min readMar 5, 2021

Durante os meses de janeiro a setembro de 2020 o GenSex COVID-19, Observatório Virtual de Gênero e Sexualidade na pandemia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), realizou uma coleta de dados referente ao período de pandemia de Covid-19 relacionada às temáticas de saúde, com recorte de gênero e sexualidade. A apresentação dos dados inaugura o espaço do Gensex COVID-19 aqui no Blog do Pauta Gênero, a partir de uma parceria que os observatórios firmaram em 2020.

No levantamento foram selecionados 114 conteúdos em diversos meios de comunicação como: sites institucionais, portais de notícias, redes sociais e produções destinadas a um público nicho (Gráfico 1). Deste número de coleta, apenas 96 publicações foram elegíveis para a análise/tabulação que fizemos e apresentamos a seguir. É importante destacar que o período no qual houve um maior número de coleta de informações envolveu os meses de abril a julho (Tabela 1). Esses dados podem ser observados abaixo.

Tabela 1 -Período da coleta de notícias. Em datas com mais de uma coleta, o respectivo número de materiais vem ao lado.
Gráfico 1 — Tipos de meios de comunicação das notícias

Dentre os resultados, pode-se observar que mais da metade do material recolhido pertencia a um alcance regional de cobertura. Ou seja, a abrangência do conteúdo teve foco no contexto do estado de Mato Grosso, como ilustra o gráfico abaixo (Gráfico 2).

Gráfico 2 — Abrangências dos Meios

Quanto ao conteúdo das notícias e sua relação com o cenário pandêmico, observou-se que mais de 50% delas se referiam à Covid-19 ou tratavam diretamente sobre ela. (Gráfico 3).

Gráfico 3 — Relação da notícia com o Tema Covid-19

Como um dos enfoques era justamente observar se tais produções se empenharam em tratar sobre saúde da mulher e saúde da população LGBTQI+ no contexto de pandemia, determinadas questões foram levantadas a fim de verificar sobre o quê tratavam esses conteúdos. Assim, foram estabelecidos quatro principais temas: Violência Doméstica, Feminicídio, LGBTfobia e Saúde da população LGBT.

No tópico de Violência Doméstica, observa-se que mais de 70% das notícias não falavam explicitamente sobre esse assunto. Todavia, vemos que naquelas que se propunham a tratar dessa temática, tratava-se sobre desigualdade de gênero, assédio sexual e sobre violência de gênero (Gráfico 4).

Gráfico 4 — Abordagens temáticas na notícias sobre violência doméstica

Embora a maioria das matérias não abordassem diretamente o feminicídio, foi observado que, em uma percentagem aparentemente pouco expressiva, de 11,5%, se falava sobre mulheres que foram assassinadas, uma reduzida amostra do quadro crescente na taxa de feminicídios que se elevou quase 2% no primeiro semestre de 2020, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, período esse que coincide com parte dos meses em que a coleta estava sendo realizada. Confira no gráfico abaixo (Gráfico 5).

Gráfico 6 — Abordagens temáticas na notícias sobre LGBTIfobia

Já referente a qualquer tipo de discriminação contra a comunidade LGBTQIA+, nota-se que grande parte dos materiais coletados não falavam explicitamente sobre isso. Entretanto, 31,6% tratavam diretamente sobre LGBTIfobia.

Gráfico 6 — Abordagens temáticas na notícias sobre LGBTIfobia

Verificou-se ainda que uma parte das notícias, mesmo que em número reduzido, se propôs a abordar a relação entre a população LGBTQI+ e temáticas de saúde, sendo que no número reduzido falava-se especificamente sobre saúde mental, como distribui o gráfico abaixo (Gráfico 7).

Gráfico 7- Abordagens temáticas na notícias sobre saúde LGBT

Nesse sentido, considerando esta amostra, pode-se afirmar que a atenção para temáticas como saúde da população LGBTQI+, Feminicídio e Violência Doméstica recebem reduzida atenção frente ao contexto pandêmico. No entanto, a não disseminação de informações relacionadas a esses temas pode agudizar os problemas sociais que já os cercavam em um cenário pré-pandemia. O enfrentamento dessas formas de violências, especialmente agravadas com as recomendações de distanciamento social, bem como a visibilidade das dificuldades de acesso da população LGBTQI+ a serviços básicos de saúde, são medidas essenciais ao enfrentamento da pandemia de Covid-19, mas também trazem à tona o risco e a fragilidade dos vínculos afetivos nos espaços domésticos e familiares, como mostra o levantamento da pesquisa Diagnóstico LGBT+ na pandemia.

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Observatório de Comunicação e Desigualdades de Gênero da Universidade Federal de Mato Grosso.