GenSex COVID-19 reúne dados sobre saúde, gênero e sexualidade durante a pandemia
Durante os meses de janeiro a setembro de 2020 o GenSex COVID-19, Observatório Virtual de Gênero e Sexualidade na pandemia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), realizou uma coleta de dados referente ao período de pandemia de Covid-19 relacionada às temáticas de saúde, com recorte de gênero e sexualidade. A apresentação dos dados inaugura o espaço do Gensex COVID-19 aqui no Blog do Pauta Gênero, a partir de uma parceria que os observatórios firmaram em 2020.
No levantamento foram selecionados 114 conteúdos em diversos meios de comunicação como: sites institucionais, portais de notícias, redes sociais e produções destinadas a um público nicho (Gráfico 1). Deste número de coleta, apenas 96 publicações foram elegíveis para a análise/tabulação que fizemos e apresentamos a seguir. É importante destacar que o período no qual houve um maior número de coleta de informações envolveu os meses de abril a julho (Tabela 1). Esses dados podem ser observados abaixo.
Dentre os resultados, pode-se observar que mais da metade do material recolhido pertencia a um alcance regional de cobertura. Ou seja, a abrangência do conteúdo teve foco no contexto do estado de Mato Grosso, como ilustra o gráfico abaixo (Gráfico 2).
Quanto ao conteúdo das notícias e sua relação com o cenário pandêmico, observou-se que mais de 50% delas se referiam à Covid-19 ou tratavam diretamente sobre ela. (Gráfico 3).
Como um dos enfoques era justamente observar se tais produções se empenharam em tratar sobre saúde da mulher e saúde da população LGBTQI+ no contexto de pandemia, determinadas questões foram levantadas a fim de verificar sobre o quê tratavam esses conteúdos. Assim, foram estabelecidos quatro principais temas: Violência Doméstica, Feminicídio, LGBTfobia e Saúde da população LGBT.
No tópico de Violência Doméstica, observa-se que mais de 70% das notícias não falavam explicitamente sobre esse assunto. Todavia, vemos que naquelas que se propunham a tratar dessa temática, tratava-se sobre desigualdade de gênero, assédio sexual e sobre violência de gênero (Gráfico 4).
Embora a maioria das matérias não abordassem diretamente o feminicídio, foi observado que, em uma percentagem aparentemente pouco expressiva, de 11,5%, se falava sobre mulheres que foram assassinadas, uma reduzida amostra do quadro crescente na taxa de feminicídios que se elevou quase 2% no primeiro semestre de 2020, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, período esse que coincide com parte dos meses em que a coleta estava sendo realizada. Confira no gráfico abaixo (Gráfico 5).
Já referente a qualquer tipo de discriminação contra a comunidade LGBTQIA+, nota-se que grande parte dos materiais coletados não falavam explicitamente sobre isso. Entretanto, 31,6% tratavam diretamente sobre LGBTIfobia.
Verificou-se ainda que uma parte das notícias, mesmo que em número reduzido, se propôs a abordar a relação entre a população LGBTQI+ e temáticas de saúde, sendo que no número reduzido falava-se especificamente sobre saúde mental, como distribui o gráfico abaixo (Gráfico 7).
Nesse sentido, considerando esta amostra, pode-se afirmar que a atenção para temáticas como saúde da população LGBTQI+, Feminicídio e Violência Doméstica recebem reduzida atenção frente ao contexto pandêmico. No entanto, a não disseminação de informações relacionadas a esses temas pode agudizar os problemas sociais que já os cercavam em um cenário pré-pandemia. O enfrentamento dessas formas de violências, especialmente agravadas com as recomendações de distanciamento social, bem como a visibilidade das dificuldades de acesso da população LGBTQI+ a serviços básicos de saúde, são medidas essenciais ao enfrentamento da pandemia de Covid-19, mas também trazem à tona o risco e a fragilidade dos vínculos afetivos nos espaços domésticos e familiares, como mostra o levantamento da pesquisa Diagnóstico LGBT+ na pandemia.