Tramas da invisibilidade: O apagamento das mulheres na cobertura do legislativo mato-grossense

Pauta Gênero
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3 min readJul 9, 2020

Apesar de estarmos inseridos em uma democracia representativa, vivemos uma realidade desigual nos espaços de representação do legislativo. Em tempos de pandemia do novo coronavírus, esta realidade é ampliada quando constatamos que a população mais atingida pela crise é a que menos se vê representada nos espaços de decisão.

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas Eleições Gerais de 2018, dos 34 candidatos eleitos para o poder legislativo, apenas duas são mulheres: a deputada federal Professora Rosa Neide (PT) e a deputada estadual Janaina Riva (MDB). É válido ressaltar que ambas são brancas.

Tanto na esfera estadual quanto na federal, a presença de mulheres é mínima quando comparada ao número de homens que ocupam cargos políticos. | Foto: Reprodução

A ausência de mulheres e, principalmente, mulheres negras, é nítida não só nos dados disponibilizados pelo TSE, como nas notícias que envolvem a política mato-grossense publicadas nos veículos regionais.

Destacamos as notícias publicadas pelo site Olhar Direto, que possui um canal oficial também no Facebook. Durante monitoramento da rede social, realizado pelo Pauta Gênero em maio deste ano, foram coletadas 48 publicações. Destas, 20 tratavam de política e apenas uma apresentava uma parlamentar no título ou na legenda presente no Facebook.

Por outro lado, quando observamos o site do veículo, das 17 matérias monitoradas, 10 não apresentam mulheres como fonte. Nas outras sete matérias encontramos a presença de representações femininas, entretanto, em proporções menores. Esses dados apontam que as mulheres tendem a ser inseridas como fontes secundárias e não como o centro da notícia.

Nesse sentido, destacam-se duas notícias que reafirmam o espaço coadjuvante imposto às mulheres na política. O primeiro caso trata da prefeita Thelma de Oliveira (PSDB), colocada em segundo plano diante do ex-parlamentar Dante de Oliveira. No segundo caso temos a deputada estadual Janaína Riva (PSDB) associada ao pai José Riva (PSD).

A única mulher e/ou parlamentar com protagonismo foi Selma Arruda (PODE), que teve seu mandato cassado pelo TSE, acusada de caixa 2 e abuso de poder econômico na disputa eleitoral de 2018.

A POLÍTICA NA PANDEMIA

Segundo o Boletim Epidemiológico publicado pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT) no dia 23 de junho, 49,5% das 11.074 pessoas contaminadas no estado eram mulheres. Já quando buscamos dados com recorte racial, encontramos um obstáculo, pois em nenhum dos boletins divulgados pela secretaria são contabilizados os casos com identificação racial.

Para tecer uma análise sobre esta questão, buscamos os estudos pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), liderado pelo Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, que analisou as taxas de letalidade da doença no Brasil. O resultado da pesquisa apontou que aproximadamente 55% dos enquadrados pelo Núcleo como pretos e pardos morreram de Covid-19 enquanto que, entre os pacientes brancos, a taxa ficou entre 38%.

Com isso, criamos aqui um paralelo entre a falta de representatividade dos parlamentares e o perfil da população mais afetada pela crise causada pela pandemia. É a partir deste enquadramento, que lançamos a necessidade de se pensar na diversificação do quadro político como ferramenta para maior inclusão de políticas públicas voltadas à população mais afetada pela crise.

Texto de:

Marcos Salesse, jornalista em formação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e membro fundador do Coletivo Com_Texto.

Millena Teixeira Barros, estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

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Observatório de Comunicação e Desigualdades de Gênero da Universidade Federal de Mato Grosso.