Coronavírus: um resumo

Guilherme Szczerbacki Besserman Vianna
Pautavel
Published in
6 min readJul 26, 2020
by Design é Balela!

Quando coisas novas acontecem, muita gente tenta entender um pouco mais sobre o universo, visando fazer prognósticos para o futuro. O objetivo é errar o mínimo possível, visto que, por definição, previsões nunca são iguais à realidade. Para minimizar nossas falhas, buscamos então entender melhor o passado e descrever os eventos que estão ocorrendo.

Já se passam oito meses desde que o Sars-Cov-2 passou a circular neste mundo, e quatro meses que o Brasil está de quarentena. Por que não fazer uma retrospectiva?

Entre dezembro e janeiro de 2020, o planeta conheceu o vírus na China. Ele foi descoberto após muitos casos de pneumonias não identificadas serem diagnosticadas na metrópole de Wuhan, com 11 milhões de habitantes. Com o surto, as autoridades locais logo proibiram as pessoas de saírem de casa e o ocidente achou aquilo uma medida própria de ditaduras — mal sabíamos o nosso destino. Durante os meses seguintes, a China adotou uma série de medidas restritivas. Já havia a preocupação global com o vírus, que era encontrado viajando o mundo, mas o Brasil ainda não se importava com ele.

Pouco depois da China, alguns países sofreram intensamente com o vírus. Itália e Irã foram logo reconhecidos como locais com muitos casos. No Irã, pouco tivemos notícias, confesso não ter tantas informações sobre o pânico ocorrido. Na Itália, assim como em países próximos como Espanha e Bélgica, a coisa foi braba. Muitos mortos, sendo que a falta de leitos ocasionou diversos óbitos que poderiam ser evitados — situação inimaginável para países desenvolvidos. Autoridades admitiram os erros e passaram a ser rigorosas no controle do vírus em toda a Europa. Depois do pico terrível, as coisas começaram a melhorar no velho continente, que passa por um processo lento e cauteloso de reabertura.

Em países continentais, como Estados Unidos e Brasil, é preciso entender que o avanço da doença não ocorre de maneira homogênea entre diferentes regiões. No país norte-americano, uma cidade que sofreu com o esgotamento das UTIs foi Nova Iorque. Após um período de alto número de óbitos, a cidade passa por momento semelhante ao dos europeus, retomando a rotina de maneira lenta e com muitos testes para prevenir novos surtos. Em outras províncias estado-unidenses, o vírus avança de maneira dramática, causando bastante apreensão para o que pode ocorrer nos próximos meses se novas medidas de controle da doença não forem postas em prática.

Quando o vírus chegou na América Latina, a gente já sabia o que tinha passado na Europa, e tinha os instrumentos na mão pra levá-lo a sério. Mas também temos os problemas de sermos uma região subdesenvolvida. Alguns países foram casos de sucesso, como Uruguai e Paraguai. Outros começaram bem, mas têm dificuldades no controle da doença, como Argentina e Colômbia. No Brasil, apesar dos diferentes comportamentos regionais, somos, em geral, um exemplo do que não se deve ser feito — os piores resultados do continente, junto com Peru e Chile.

Os primeiros lugares a receberem o vírus foram onde há maior circulação internacional de pessoas: São Paulo e Rio de Janeiro. No mundo inteiro foi assim. Com o tempo, foi se expandindo para o interior, onde causa mais preocupação hoje, como no Mato Grosso. A recusa em entender a gravidade do problema por parte de políticos, em conjunto com a dificuldade de obter recursos, além de infraestruturas precárias em todo o país, faz com que sejamos, há algumas semanas, o triste líder mundial em mortes por dia de Covid-19.

Apesar do controle não ter sido feito de maneira eficaz, em algumas cidades a atividade do vírus parece estar diminuindo. É o caso do Rio de Janeiro. Por sorte, o vírus parece ter atingido seu ápice, mas um excesso de relaxamento pode voltar a trazer problemas, uma vez que a ciência ainda não tem certeza em relação à melhor forma de controlar a epidemia.

Entre as reflexões sobre o que estamos vivendo, dois temas são os mais comuns: política e ciência. Afinal, as restrições causadas pela necessidade de conter o vírus não são boas para ninguém. Por isso, políticos foram resistentes em adotar as medidas apontadas como urgentes pelos cientistas. Em alguns casos, como na Itália e na Suécia, os erros foram admitidos e pedidos de desculpas foram feitos — mesmo que não salvem vidas, é melhor se desculpar do que ignorar a realidade. Em outros lugares, como Brasil e Estados Unidos, a negação dos fatos continua vigorando e, infelizmente, o Sars-Cov-2 continua causando recorde de mortes diárias em diversas regiões.

Em relação ao processo científico, descobrimos, por um lado, que ele pode ser extremamente lento em comparação com a velocidade em que as coisas acontecem no mundo real. Por outro, sabemos que a ciência é fantástica e que confiamos em suas aplicações de olhos quase fechados. Não foi de um dia para o outro que descobrimos e passamos a poder usar vacinas, penicilinas, televisões, computadores e internet. Mas, no seu tempo, a ciência revolucionou a forma como vivemos e ajudou a melhorar a nossa qualidade de vida, mesmo com alguns problemas colaterais que devem ser discutidos pela sociedade. Entretanto, nossa confiança de que teremos vacina e que ela vai sair em tempo recorde comprova o quanto sabemos que a ciência dá resultado.

Políticos dizem o que acham certo e errado, e a gente pode concordar ou não — manifestando nossas opiniões nas urnas. Já a ciência não possui, em teoria, nenhum valor moral. Mas, mostrando o que é mentira, nos aproxima da verdade. Assim, quando a ciência prometia um futuro próspero, era mais fácil conquistar a simpatia de políticos e da população. No entanto, quando esse quadro mudou, o negacionismo voltou a ser praticado em escala relevante.

O avanço de estudos, nos últimos anos, traz, entre outras questões, um aspecto que não gostamos de conhecer: as mudanças climáticas e suas consequências para o planeta. Ao contrário do Século XX, quando a ciência apontava prognósticos positivos para o futuro, o que se indica é que teremos que abrir mão de várias coisas que dispomos hoje (voluntariamente ou não). Por isso, tanta gente se recusa a acreditar nessa verdade inconveniente. Trata-se de comportamento semelhante a quando, na Idade Média, homens se recusavam a acreditar que a Terra é redonda, já que isso atrapalhava a relação que as pessoas tinham com Deus.

Em geral, há bastante correlação entre os que negam a pandemia e os que negam o aquecimento global. Assim como o coronavírus avança mais nos lugares que ignoram a realidade, quem não se importa com os problemas ambientais tende a ser mais omisso na ação contra o que está por vir. Muitas vezes, as medidas recomendadas não são tomadas em função da suposta necessidade de salvar a economia — cabeça do Século XX. Porém, a relação de causa e efeito se dá ao contrário: a pandemia e as mudanças climáticas causam/vão causar crises econômicas. Quem não se adaptar às mudanças vai ficar de fora do mercado global.

Não tenho dúvidas de que a ciência vai ajudar a gente a sair da pandemia. Também será arma essencial contra as mudanças climáticas e outros problemas previstos. Afinal, ela nos fornece os instrumentos para tentar enxergar o futuro. Mas, para fazer prognósticos e tentar melhorar o mundo em que vivemos, precisamos acreditar no processo científico e incorporá-lo ao processo de decisões estratégicas.

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Guilherme Szczerbacki Besserman Vianna
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Textos curtos para (tentar) elevar o nível da discussão em uma conversa de bar.