Saindo do Isolamento

Guilherme Szczerbacki Besserman Vianna
Pautavel
Published in
5 min readJun 14, 2020
by Design é Balela!

Em 2020, estamos vivendo, possivelmente, o maior momento de ruptura nos rumos da humanidade, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ou seja, a maioria de nós nunca viveu período de tantas mudanças. A próxima etapa dessa loucura parece ser a caminhada para uma nova situação, que permitirá uma redução gradual dos isolamentos, até aglomerações voltarem a ser permitidas. No entanto, é preciso paciência para voltar ao equilíbrio com a maior segurança e o menor número de mortes possível.

Com o passar do tempo, sabemos que vamos voltar a viver em uma rotina mais agradável. Em momentos piores, como depois de uma tragédia do tamanho da Segunda Guerra, a humanidade se recuperou (e desde então passa pelo maior período de paz da história). Não vai ser agora que vamos sacrificar eternamente nossas vontades em função da necessidade de ficar em casa.

No Brasil, as ações de prefeitos, governadores e presidente, para o fim das quarentenas, são bastante temerárias. Com o número de contaminados pelo vírus ainda subindo ou em curvas descendentes instáveis, não é possível garantir que a ocupação das UTIs irá diminuir estruturalmente. Com a falta de testes, não conseguimos controlar os focos da doença e evitar novas contaminações. Por isso, acredito que ter mais paciência, seguir as orientações internacionais e da ciência e realizar intervenções públicas para garantir recursos de primeira necessidade para quem os necessita nesse momento são questões tão importantes. Em breve, voltaremos a um mundo livre da pandemia, não custa ser conservador (perante ao comportamento do vírus) agora.

Após o fim da Segunda Guerra, a maior ameaça para a humanidade era o risco de novos conflitos, que poderiam ser tão ou mais devastadores do que tinha acabado de ocorrer — a maior tragédia de nossa história. Para evitar novos confrontos bélicos, não bastava apenas um país disseminar a paz. Por exemplo, se os EUA se recusassem a entrar em uma nova guerra, mas a União Soviética optasse por lutar contra países da Europa, os prejuízos humanos seriam absurdos. Por isso, eram necessários acordos mundiais para evitar conflitos que seriam ruins para todos.

Na tentativa de gerar consensos globais, foram criados diversos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas. Para ela funcionar, foram necessários inúmeros aprendizados históricos para planejar um modelo útil, pois uma das principais necessidades era compreender que cada povo possui culturas e tradições diversas, que devem ser respeitadas. Portanto, para diferentes fóruns, foram criadas comissões com membros de vários países. O modelo não é perfeito e discussões são inevitáveis, permitindo que alguns representantes defendam intolerâncias como se fossem questões culturais e/ou advoguem em causa própria. Um exemplo é a recusa em aceitar a homossexualidade por parte de representantes de determinados países. Apesar de diversas controvérsias, o fato é que a reorganização do mundo permitiu que novas grandes guerras não ocorressem, e a ONU me parece fazer parte dessa conquista.

No momento atual, temos duas preocupações: como sair da crise pandêmica da maneira menos danosa possível e como evitar novos problemas dessa natureza. Para a primeira questão, vou insistir que paciência é a palavra chave (o que não significa parar de se preocupar com outros problemas do mundo de hoje). Para a segunda, é necessário compreender que estamos diante de um problema complexo, que é mundial e atinge diversas dimensões de cada vida humana e da sociedade em geral.

A pandemia foi obra do acaso? Responder essa pergunta com exatidão é impossível. Sabemos que o risco de surgimento de novas doenças sempre existe, mas o nosso modo de vida parece ter contribuído para aumentar as probabilidades de seu efeito global. Desmatamos muito, aumentando as possibilidades de novos vírus se adaptarem ao ser humano. Nos deslocamos muito (seja em ônibus, trem ou avião), aumentando as possibilidades do vírus viajar. Nos cuidamos pouco, aumentando as possibilidades do vírus ser transmitido. Conhecemos pouco, aumentando as possibilidades do vírus causar danos nas pessoas. Ou seja, nosso modo antigo de vida contribuiu para esse momento ocorrer.

Para os próximos anos, precisamos nos prevenir. Nossos maiores inimigos atualmente são invisíveis e podem ser medidos em probabilidades. Não podemos permitir que a sorte decida se teremos uma nova pandemia. Da mesma forma, devemos fazer o possível para reduzir os efeitos de mudanças climáticas, que podem atrapalhar ainda mais nossas vidas em um futuro não tão distante. Como estamos sendo obrigados a modificar nossos hábitos, temos a maior (e talvez última) oportunidade de reduzir os problemas das mudanças climáticas.

Por um lado, nas cidades, precisamos diminuir o ritmo de nossas atividades. Pessoas, bens e serviços precisam se deslocar menos. Para isso, é necessária a difusão de políticas como agricultura urbana e a aproximação entre residências e locais de trabalho. Ademais, precisamos reduzir desmatamentos, diminuir os índices de poluição (sobretudo industrial) e renovar nossas fontes de energia.

Por outro lado, precisamos que informação e conhecimento voem cada vez mais. Difundir as avaliações da ciência sobre o que precisa ser feito para evitar novas tragédias (que nos levam a rupturas no cotidiano) é prioridade máxima. Apenas assim as pessoas vão entender o que é necessário para melhorar a vida de todos e, portanto, fazer suas partes para evitar novos problemas. Como possuímos culturas diferentes, uma instituição mais representativa com líderes do mundo inteiro e foco direto nas mudanças climáticas é algo que acredito ser importante.

Para o conhecimento voar, é preciso saber resumir. Quando acabou a Guerra Mundial, o que o mundo precisava podia ser abreviado em uma palavra: paz. Para as mudanças climáticas, tentou-se sustentabilidade, mas já saiu de moda. Resiliência vai para o mesmo caminho. O próprio termo “mudanças climáticas” foi uma melhoria em relação a “aquecimento global”, por mostrar que o problema está na variação da temperatura, e não só em seu aumento médio. No entanto, ainda não traduz a necessidade de reduzir a dinâmica nas grandes cidades e de aumentar o ritmo de difusão do conhecimento.

Por isso, sugiro para as mesas de bar uma expressão que, com uma referência pop, resume o que precisamos: um Mundo Despacito.

by Design é Balela!

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Guilherme Szczerbacki Besserman Vianna
Pautavel

Textos curtos para (tentar) elevar o nível da discussão em uma conversa de bar.