“Simplesmente Extraordinário”

A emocionante vida ao redor

cogito ergo fio
Pax et Bonum
Published in
2 min readSep 18, 2013

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Em “Adaptação”, Charlie Kaufman, um escritor judeu fora de forma, interessante, mas tímido, cai no poço do “writer’s block”, tudo que ele quer é escrever um roteiro que desafia as molduras existencialistas do cinema, ele quer um filme sobre plantas, ponto final, não é uma metáfora para a vida, não é uma alegoria.

O problema é que, de um ponto de vista qualquer, por mais remota seja a interpretação, “a arte imita a vida”. O poço se torna mais fundo, ele não consegue fazer com que plantas sejam interessantes, então transforma o conteúdo do roteiro na própria busca de conteúdo para o roteiro, se faz personagem num loop eterno de meta-escrita, mas essa é a saída fácil.

Numa das cenas que mais partem o coração de quem ousa se identificar com o sofrido, brilhante e estagnado autor, Robert McKee é questionado por Kaufman: “E se eu quiser escrever uma história em que nada demais acontece, algo mais semelhante ao mundo real?”

A resposta:

The real fucking world? First of all, you write a screenplay without Conflict or Crisis, you’ll bore your audience to tears. Secondly: nothing happens in the world? Are you out of your fucking mind? People are murdered every day! There’s genocide, war, corruption! Every fucking day somewhere in the world somebody sacrifices his life to save someone else! Every fucking day someone somewhere makes a conscious decision to destroy someone else! People find love! People lose it! For Christ’s sake! A child watches her mother beaten to death on the steps of a church! Someone goes hungry! Somebody else betrays his best friend for a woman! If you can’t find that stuff in life, then you, my friend, don’t know CRAP about life! And WHY THE FUCK are you wasting my two precious hours with your movie? I don’t have any use for it! I don’t have any bloody use for it!

Na vida contemporânea o critério de existência é a observação, o que acontece não necessariamente acontece com você, e, pasmem, não necessariamente te afeta. O interesse pelo quotidiano, o niilismo inofensivo, tudo deriva da ideia de que algo de interessante tem de acontecer ou da de que de uma perspectiva específica, o quotidiano é internamente interessante, essas noções atingiram seu auge com Seinfeld.

Porque algo deveria afetar alguém? O por que dessa fixação é a circunspecção relinquida pelo Roteirista, “é preciso que algo aconteça para que eu exista?”.

Isso é Triste? Isso é Alegre? O problema é só que, na vida da gente, isso É.

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