Como “Insatiable” se tornou uma série tão problemática?

Pedro Vinícius
Pedro Vinícius
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3 min readAug 12, 2018
Foto: Reprodução/Netflix

Se tem algo que a Netflix faz com maestria é o marketing e a divulgação em cima das suas séries. Foi necessário apenas um trailer com menos de dois minutos para o bombardeio de acusações sobre fat-shaming e uma petição com mais de 200 mil assinaturas contra a exibição de “Insatiable” acontecerem.

Além bom e velho buzz (muito bem feito por sinal), a série não consegue abordar nenhuma problemática por inteiro. No final das contas parece aquele tipo de prova com a famigerada questão de “justifique a sua resposta” que você enrola, enrola mais um pouco e acaba não dizendo nada, com a esperança de conseguir pelo menos meio ponto.

Trailer da série.

É um bom entretenimento. Apesar de ser uma série de comédia, o humor que foi proposto não é o seu ponto forte. Um episódio e outro são bastante ágeis e possuem algumas situações que podem divertir mas o seu roteiro mirabolante e os conflitos que a ira e perversidade dentro de Patty (Debby Ryan) causam podem confundir e trazer desinteresse para quem assiste.

Mas “Insatiable” tem seus bons momentos, acompanhar toda a trajetória de “vingança” da protagonista e entender que toda a frustração que ela dispensava na comida tinha a ver com a relação distante e tóxica com a sua mãe, as suas inseguranças físicas e emocionais e o intenso bullying que a personagem sofria no colégio.

É interessante entender que mesmo depois de ter ficado magra, Patty continuava insegura e que a confiança que ela achava que conseguiria apenas aflorou o seu lado mais raivoso e egoísta. A magreza não trouxe a solução para os seus problemas e muito menos a deixou completamente feliz.

Patty e Bob. Foto: Reprodução/Netflix

Não é a toa que a personagem encara os concursos de beleza como se eles fossem capazes de trazer a validação que ela precisa pra se sentir bem. É nessa história que Bob Armstrong (Dallas Roberts), um advogado obcecado por esses tipos de competição, vê Patty também como uma forma de obter a validação que precisa pra sentir feliz e vitorioso, já que passou a vida inteira aguentando a rejeição de seu pai e se vendo ofuscado profissionalmente por outro homem, Bob Bernad (Christopher Gorham).

A relação dos dois é um tanto quanto sádica, os dois precisam um do outro por motivações egoístas e ao mesmo formam uma relação de dependência e afeto que sempre sucumbe quando um quebra a confiança do outro.

A série poderia facilmente ser enquadrada no gênero “trash” que não tem objetivo de trazer nada sério ou não possuir uma lição de moral mas o problema é que “Insatiable” quer retratar assuntos importantes e delicados como o bullying e a sexualidade sem alguma pretensão de dar a devida atenção no enredo para esses tópicos.

Foto: Reprodução/Netflix

A raiva e a impulsividade aflorada de Patty é bem explorada, quem assiste a série consegue manter uma ligação e entender a personagem e suas motivações, porém, os elementos acessórios que acompanham a jornada da mocinha e os dramas paralelos são prejudicados com piadas de mau gosto e uma interpretação equivocada.

O problema foi a superficialidade que a série se encontra, ao longo dos 12 episódios com seus questionáveis 40 minutos (ou mais) acontece de tudo e os mais diferentes assuntos são abordados. Acusações de estupro, gravidez, aborto, possessão e exorcismo, sequestro, overdose de drogas… e a lista continua. Tudo isso baseado em uma narrativa que traz o absurdo como elemento principal mas falha na tentativa de buscar um texto ácido e bem humorado. Desse modo, não consegue se aprofundar em nenhum tema, muito menos trazer uma mensagem crítica e de reflexão.

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