O twitter, os fandoms e a internet como espaço de diálogo

Pedro Vinícius
Pedro Vinícius
Published in
4 min readDec 11, 2018

Texto publicado no blog do Petcom UFAM, na editoria Minha Opinião, em setembro de 2017.

Que o twitter é um dos melhores lugares da internet, ninguém duvida. Além de ser uma fonte inesgotável de memes e de fã bases reunidas, quem gosta de acompanhar a carreira de algum cantor ou banda fazer uma conta na rede social é um caminho sem volta. Além da facilidade de encontrar diversas outras pessoas com o mesmo gosto que o seu, o site é um amplo espaço para discussão de inúmeros tópicos, dos mais mais fúteis até os de grande impacto na sociedade.

Porém, quando utilizado pelos amantes de música pop, o twitter se torna um espaço completamente diferente de tudo o que pode ser encontrado na internet. Exageros a parte, por ser a o gênero musical mais difundido no cenário mundial, os artistas desse gênero e derivados tem uma legião de fãs ao redor do mundo e no Brasil não podia ser diferente. É muito comum ouvir de algum cantor internacional que veio para o país dizer que os brasileiros são os fãs mais intensos e apaixonados que ele já viu.

E é justamente nesse ponto que eu quero chegar. Essa paixão desenfreada por um artista pode ser claramente vista nessa rede social. Parece uma regra comportamental: Ao gostar de um artista, principalmente das divas pop, você pode estar propenso a se tornar o maior advogado de defesa daquela pessoa, lutando com unhas e dentes pela integridade e pela imagem daquele artista perante os outros. Todo esse amor constantemente está presente em nível máximo nas infinitas discussões existentes no site. São fãs defendendo as suas cantoras favoritas contra outros fãs que não compartilham da mesma opinião e apoiam artistas “rivais”. Uma fã base contra a outra.

E nessas discussões, todo mundo veste a capa de crítico musical e começa a atacar um ao outro com os melhores argumentos possíveis. Desde as posições dos artistas nos charts musicais (o famoso primeiro lugar no itunes), passando pelas performances ao vivo, quem vende mais álbuns e ingressos de uma turnê, a quantidade de premiações que cada artista já ganhou até chegar na problematização de músicas e videoclipes.

Sem querer problematizar, mas já problematizando, ao observar tudo isso é fácil perceber que a música perde o seu real significado. Na relutância em afirmar que um artista é melhor que outro por esse ou aquele motivo, a celebração da arte é minimizada. As aparências e o status de superioridade tomam uma grande proporção que não deveria existir. Afinal, se você gosta do trabalho de algum músico é porque a forma como ele se expressa artisticamente te agrada de alguma maneira. O fato de você não gostar da música feita por outra pessoa não tira o direito de um outro alguém gostar dela. As intrigas entre os cantores sempre vão existir, mas a valorização das músicas deve prevalecer.

Eu sei que essa é uma perspectiva muito mais séria de tratar o assunto e, é evidente, que a maioria das pessoas que fazem parte disso, agem de tal forma por pura diversão e distração sem se atentar a esse cunho mais social e problemático abordado. Eu, por exemplo, não vou deixar de acompanhar esse tipo de discussão porque elas são extremamente divertidas. Mas, por mais bobo que seja, esse tipo de interação me fez perceber algo muito frequente na internet: os tipos de diálogos e debates que ela possibilita.

A internet é um espaço muito universalizado, todos que têm acesso possuem uma importante ferramenta de contato com outras pessoas e consequentemente isso amplia a exposição de opiniões. As redes sociais, a meu ver, são as principais formas de dar voz ao público e como o próprio nome já diz elas garantem a socialização entre as pessoas no mundo virtual. Todos os dias, estamos expostos a uma ampla variedade de discussões sobre os mais diversos assuntos e é no diálogo com outras pessoas que é possível perceber que a tolerância é algo que está em falta.

Lidar com opiniões diferentes das suas é algo extremamente comum e necessário para o debate de ideias. Porém, na internet o diálogo entre pessoas com opiniões distintas é algo bastante delicado e quase nunca funciona. O debate é algo positivo, ainda mais, quando são assuntos precisam ser debatidos tais como política, educação, saúde, sexualidade dentre tantos outros. Porém, esse espaço em vez de gerar soluções e transmissão de conhecimentos, só gera brigas recheadas de ataques e xingamentos de uma pessoa para outra. Mais uma vez, o foco da discussão é perdido.

Por exemplo, quando a questão é a política brasileira, a internet transborda de opiniões distintas, sejam aqueles a favor de um partido, de algum político ou de alguma ação do governo que entra em debate. É discussão atrás de discussão, ataque atrás de ataque e que no final, não tem importância e impacto algum. Ninguém quer parar para pensar de outra maneira e tentar entender diferentes pontos de vista, é algo do ser humano olhar muito para si mesmo e seus próprios interesses. A tolerância e o respeito é algo que realmente está em falta e dificulta, muitas vezes, a união das pessoas em prol de um bem comum.

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