Um aparte

Dilma foi reeleita presidenta com 54,5 milhões de votos. São 54,5 milhões de brasileiros, sabe. 54,5 milhões de brasileiros que renovaram seus votos no governo petista de Dilma, em meio à campanha eleitoral mais agressiva e suja que tivemos lembrança, porque — entre outras coisas, esses 54,5 milhões de pessoas preferiram um novo mandato de Dilma, e não uma troca de comando.

O PT não chegou ao poder sem derrotas, mas chegou. Chegou por votos. E foram os nossos votos que o mantiveram lá, porque, se para alguns o PT sempre representou (e para outros, sempre irá representar) algo além de um partido político, me parece óbvio que o PT soube estar no governo. Milhões de pessoas reconheciam isso sempre que perguntadas.

A rejeição do governo Dilma não vem da crise, não vem de junho; vem de 2002, quando o PT conseguiu o poder. Fez pior: no poder se manteve desde então, reelegendo Lula e reelegendo Dilma, que atravessa o pior governo da República, pelo menos na percepção que temos, desde o Collor. Há 8 meses atrás, porém, o PT podia se defender diariamente durante a campanha. Quando foi eleito, precisou governar e desde então a oposição — leia-se, o PSDB, que perdeu no voto novamente — continuou fazendo campanha (com grande cobertura da mídia).

Quando o PSDB grita ou bate panela contra o PT, de alguma forma parece dizer que os 54,5 milhões de votos que ele jamais teve valem menos que suas panelas e palavras de ordem. 54,5 milhões de pessoas não é camiseta da Seleção, é gente de verdade. Para o PSDB, são 54,5 milhões de gentinha; gente pobre, gente burra, gente analfabeta, gente que é tão estúpida que segue votando no PT. O antipetismo é, sobretudo, um discurso de ódio.

A lógica que nega a desigualdade racial do país mas se diverte chamando a moça do tempo de negra suja é a mesma que se diz democrata mas não admite os votos da candidata que venceu — e por isso, a eleição não valeu, porque só valeria se o candidato tucano fosse eleito. O nome disso certamente não é democracia.

Na democracia, Dilma foi reeleita com 54,5 milhões de votos.