O Morador do Jardim Angela que viajou o mundo ajudando Crianças

Divulgação Associação Amigos da Arte de Educar Rudolf Steiner

O paulistano Reinaldo Nascimento, terapeuta social e educador físico de 38 anos trabalha há cinco como voluntário em regiões dizimadas por guerras ou catástrofes naturais. Reinaldo é integrante da associação alemã Freunde der Erziehungskunst Rudolf Steiner (Amigos da Arte de Educar de Rudolf Steiner) que trabalha com crianças e adolescentes com traumas psíquicos em regiões de crise. Em pouco mais de uma década, a associação conseguiu reunir cerca de 400 voluntários do mundo todo para atuarem aplicando a chamada Pedagogia de Emergência, um método fundamentado nos alicerces da pedagogia Waldorf, abordagem que procura integrar o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos participantes.

Filho de pai eletricista e mãe babá, Reinaldo é o mais velho de três filhos criados no bairro de Monte Azul, na zona sul de São Paulo. Ainda criança ele entrou para a Associação Comunitária Monte Azul que oferecia atividades extra-escolares com educadores que conheciam os fundamentos da pedagogia Waldorf. Anos depois, foi convidado a trabalhar como voluntário em uma fazenda na Alemanha, localizada em uma pequena cidade perto de Lüneburg. A ideia era aprender agricultura biodinâmica.

Lá trabalhou com pessoas autistas e esquizofrênicas. O coordenador da fazenda percebeu que ele se dava bem com elas e, depois de um ano, sugeriu que eu fizesse um curso de terapia social em outra cidade, na Dorfgemeinschaft Tennental, que fica perto de Stuttgart. Em seguida, foi convidado a fazer um curso de formação. Foram três anos na Alemanha.De volta ao Brasil, cursou Educação Física.

Em 2007, por conta própria, decidiu ir para a Irlanda para conhecer de perto ações voluntárias e novamente trabalhar com pessoas com deficiências. No ano seguinte, passou a integrar a equipe da Amigos da Arte de Educar. De lá para cá, ele já participou de 11 intervenções pelo mundo.

Esteve no Quênia, em 2012, em um campo de refugiados que abrigava 80 mil pessoas da Somália e do Sudão do Sul. No Líbano, em 2013, atendeu refugiados da Síria. Nas Filipinas, também em 2013, conviveu com as vítimas do furacão Haya. Na Faixa de Gaza, em 2014, no conflito entre Israel e Palestina. Também foi duas vezes para o Nepal, em 2015, depois do terremoto de 7.8 graus na escala Richter.

Hoje, Reinaldo é o braço brasileiro da associação alemã, recebendo voluntários que vêm ao Brasil por meio da instituição e preparando jovens brasileiros que vão para a Alemanha. Também organiza palestras e seminários sobre a Pedagogia de Emergência. Pensando nisso, ele acaba de fundar junto com outros pedagogos, terapeutas, assistentes sociais e médicos a Associação da Pedagogia de Emergência no Brasil, que capacita educadores para lidar com crianças em situação de vulnerabilidade social no país.

Pouco menos de um mês atrás , Reinaldo estava com uma equipe de oito educadores sociais da organização alemã Amigos da Arte de Educar de Rudolf Steiner em um campo de refugiados em Zahko, no Iraque, perto de Erbil, cidade curda, a 80 quilômetros ao norte de Mossul

Estavam lá para fazer a Pedagogia de Emergência, uma intervenção pedagógica para jovens em situação de extrema vulnerabilidade. Por meio de artes, jogos, tempo livre para brincar e fases de expressão criativa e artística, cria-se recursos de sobrevivência para jovens soterrados por conflitos. Uma maneira lúdica de superar traumas, readquirir a confiança no outro e ter a possibilidade de voltar a sonhar.

Terceira maior cidade iraquiana depois de Bagdá e Basra, Mossul foi capturada pelo Estado Islâmico em 2014. A cidade é a peça mais importante no califado que o grupo terrorista tenta implantar com a ocupação e consequente eliminação de fronteiras de parte da Síria e do Iraque. A tentativa de retomada do controle de Mossul por uma coalização de forças oficiais iraquianas vindas de Bagdá, de soldados do Curdistão baseados em Erbil e de milícias xiitas apoiadas pelo Irã, com o apoio aéreo e logístico norte-americano, faz da cidade o palco de uma guerra sangrenta. O EI, para defender o território ocupado, usa de todos os armamentos, inclusive ataques suicidas com carros e motocicletas e franco atiradores posicionados nos telhados das casas. Nas residências ocupadas, armadilhas explosivas são instaladas e seus moradores são tomados como reféns. Um verdadeiro inferno.

Não há números exatos, mas estima-se que antes da ocupação do Estado Islâmico, Mossul tinha uma população de mais de 2 milhões de pessoas e, segundo a ONU, 1 milhão e meio lá permanecem. Ainda segundo a ONU, 1 milhão de habitantes devem ser desalojados pela guerra e 700 mil vão necessitar de abrigo.

Campos de refugiados, a poucos quilômetros de Mossul, crescem aceleradamente. Entre as vítimas do conflito, milhares de crianças e adolescentes que passaram por experiências traumáticas. Elas sofrem opressões étnicas, vivenciam guerras e são torturadas. Algumas são usadas como soldados.

Enquanto esteve no Iraque, Reinaldo Nascimento escreveu, com exclusividade para a Brasileiros, o diário da Pedagogia de Emergência em Zahko, que você pode ler na integra aqui no Medium. Organizamos os diários em ordem cronológica, portanto os diários do começo da viagem estarão no topo da página.

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