Resenha

Resenha da série “Special”

pedro a duArte
pedro a duArte
Published in
3 min readJul 17, 2019

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Poster da série

Special é uma série original da Netflix, criada por Ryan O’Connell. Baseada no livro I´m Special — and other lies we tell ourselves [em português, Especial], também de O’Connell, conta a história de Ryan Hayes um rapaz homoafetivo que possui paralisia cerebral, uma deficiência que ele tem desde o nascimento e torna sua mobilidade reduzida. A narrativa perpassa o cotidiano do rapaz, se iniciando no momento em que ele consegue um estágio na Eggwoke (espécie de sátira do Buzzfeed) e mente para seus colegas de trabalho sobre sua deficiência, dizendo que ela era resultado de um acidente de carro.

O maior trunfo da série é a representatividade que ela promove: Ryan O’Connell é de fato um homem homoafetivo com paralisia cerebral leve que, além de criador e autor da obra, interpreta o protagonista (personagem que é baseado nele mesmo). Mais do que tornar as pessoas que vivem com deficiência visíveis, ela se propõe a mostrar com fidelidade a vida destas pessoas através do humor, de uma maneira muito natural e leve — outra personagem de grande representatividade é Kim, melhor amiga de Ryan (interpretada por Punam Patel), uma mulher não-branca (descendente de indianos) e gorda.

Não é uma história sobre a paralisia cerebral de seu protagonista (ou mesmo sobre sua homoafetividade), é sobre ele próprio — o resto são apenas características de sua identidade. Ainda assim, um dos maiores temas da série é a saída do armário: o leitor há de pensar que esta expressão se relaciona ao se revelar gay perante a sociedade, mas este não é o caso já que a afetividade de Ryan já é dada e ele lida muito bem com isso — o armário do qual Ryan deve sair é o de sua deficiência que, há princípio, ele mascara para seus amigos de trabalho.

Assim, ao longo da série, vemos a jornada que ele embarca para se tornar independente e levar uma vida comum, mesmo com o advento de sua deficiência. Um componente importantíssimo desta jornada é a mãe de Ryan (interpretada por Jessica Hecht): ambos são muito codependentes um do outro e, assim, terão que aprender a lidar com o fato de que Ryan já é um homem adulto e deveria estar morando sozinho e vivendo sua vida sem o auxílio de sua mãe. Assim, é tarefa da Sra. Hayes, descobrir quem ela é, uma vez que a responsabilidade de zelar pelo próprio filho não é mais sua prioridade.

Dessa forma, Special nos mostra a importância da diversidade como algo para além da questão LGBTQ e racial, mas também relacionada a pessoas que vivem com uma deficiência. E mesmo assim é uma série para todos, em algum momento o espectador irá se identificar com algum personagem por n motivos.

A série é composta por apenas oito episódios de duração entre 12 a 17 minutos, sendo assim, é muito fácil de ser maratonada. Alia-se a isso o fato de ser uma obra com um elenco carismático, realizada de maneira primorosa e extremamente leve e divertida (trazendo aquela sensação de encanto aos seus espectadores). Uma segunda temporada será extremamente bem-vinda.

SERVIÇO

Special está disponível na Netflix

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pedro a duArte
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Jornalista e Escritor // "Para além do que vivemos e acreditamos, nossas vidas se tornam as estórias que contamos" (Lynn Ahrens)