Da série: “Carta a um EU pretérito”
Relutei muito para começar a rabiscar esse papel, mas sua presença tem sido latente em minha memória, povoado tanto meus sonhos, que não tive outra alternativa se não transbordar.
Desfio essas linhas para dizer: — Se perca. E muito! Mas não em qualquer lugar… só nos que te assustam e aguçam os instintos.
Se lambuze no erro e sinta que isso não te torna menor, e abra os braços para a chuva de humanidade que essa experiência provoca.
Olhe nos olhos da vulnerabilidade e perceba que ela é companheira fixa e não mata, mas ensina muito.
Descubra que perfeição é crença falida plantada na infância, e paralisa. Cuidado!
Me recordo da menina que sempre se encantou com as coisas mais simples.
Felicidade? Era cheiro de manga colhida do pé, ao lado da avó. O melhor esconderijo era o abraço-aconchego da mãe, enquanto viajava pelo universo de histórias apresentadas pelo pai.
Te apelidaram de Branca de Neve. Logo você, que nunca quis ser princesa.
Gostava mesmo era de saber o que havia no castelo do outro. Procurava rachaduras e se encantava com elas.
Para muitos você soava estranha. Mas o que sempre importou era o gosto do afeto. Bom e diferente a cada colherada.
Escrevo isso para lembrar que a vida é colcha de retalhos cheia de remendos de nós. E o que te define é o estar no momento presente sendo tocada pelo que te atravessa e, assim, ser infinitas reticências… Imagine!