Da série: “Carta a um Eu pretérito”
A vida me dando deixas e abrindo brechas… e eu que adorava tanto olhar para as rachaduras das casas e imaginar suas histórias… insisto em correr para o canto confortável do pensamento.
Ali… de castigo! Como uma criança que não dançou conforme a música.
É delicioso enxergar a realidade e andar por ela.
Mas recuo.
Grito isso enquanto te aperto em meus braços, minha pequena.
Fujo… como você sempre fez para escapar das mãos e lugares que te invadiam e sujavam.
Vão descobrir meus pecados e minha imundice, era o que você pensava. E é o que penso em muitas situações até hoje. Fica aqui no meu abraço para eu te mostrar, e me convencer, que tudo passa e nada é definitivo.
Sujas são as pessoas que violaram sua inocência e fizeram você acreditar que não valia nada. Estamos discutindo valor em uma sociedade onde tudo se baseia no preço das coisas. O quanto vale!
Você não é suja! Está ouvindo? Está tudo bem, mesmo quando não parece.
Baixinho digo pra mim mesma que vai ficar tudo bem.
Às vezes aproveito as brechas e retomo as rédeas da minha vida… mas logo elas escapam..
Na verdade eu as solto, por incapacidade ou medo de errar.
Incapaz! Te fizeram acreditar nisso minha menina. Incapacidade; força de vontade; saiba tudo ou não valerá de nada um parco conhecimento; seja a mocinha delicada; se deixou uma vez não tem direito de dizer não na próxima.
Foram muitas pressões… e continua sendo. Mas lembre, você cresceu e tem a mim, a nós! Vamos juntas. E que ninguém nos cale!