A Casa Velha

Alexandre Klaser
Versos em Suspensão Oral
1 min readSep 26, 2015

Toca o telefone lá na sala da velha casa
E por mim chamam com uma urgência mole.
Como criança que recebeu um presente,
Sou tragado pela tola esperança
Da promessa encantada do embrulho
Que o conteúdo malogrou cumprir

Em um instante, resoluto me fazia ao mar
Sem saber para onde ir, mas certo de chegar
Ganhei distância, veloz
Até bater com a cabeça em uma rocha.
Agora morto, despido das humanidades
Que me fazem fraco, eu sou a rocha

Uma névoa de impossíveis
Desfeita como a vergonha do menino
Pego roubando um doce
Me agride neste instante
Com a clareza resignada
Do fim dos tempos

Ainda me chamam,
Mas não vale a pena ir
Se não é quem deveria ser,
Quem nunca seria, nunca
Poderia ser

Não é, não vou
Para que os outros da velha casa não sofram
Dos coices da minha desilusão amarga
Da tolice da minha indiferença fingida

Não permito que saibam
Que não me quero lembrar
De tudo e tão pouco que sou e sempre serei
(E de como ainda agora outra vez me enganei)

Já não me chamam,
Já não está (acredito) ninguém ao telefone.
Agora de outro mal sofro:
Arrependido, fico curioso.

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