a violência está nua
do alto das ruínas
da catedral de minha prepotência
jogo pedras aleatórias
em telhados alheios
certo rapaz, à guisa de um menino
vindo da imaginação de Hans Christian Andersen
me vê lá de baixo
percebe-me os colhões de fora
e grita:
– hei tu, palhaço depravado, por que nos agrides?
eu, de minha parte, respondo
com mais uma pedrada certeira
na consciência do insolente
e o sangue que jorra
marca o tamanho da afronta
gritam mais alto
já não sei se por medo ou pena
só sei que, neste jogo
por enquanto vou vencendo
é sempre mais fácil agredir
se estamos por cima,
a superioridade (sentida ou afirmada)
é tudo isso
porém, distraído
deixei as costas vulneráveis
e me acertaram de jeito
com umas verdades demasiado verdadeiras
eu andava nu
pensando que lá do alto
eu e meu coiso tal qual gárgula
seríamos os deuses onipotentes
arautos de verdades e maldades
que eram afinal malvindas
não me quiseram mais
a sortear pedras justiceiras
fizeram a justiça por eles mesmos
a maioria escolheu seu deus
e eu estava fora
sinto, no fim
que venci
pois o objetivo sempre foi
provocar as consciências
somente o ódio constrói
e isso, eles tinham de sobra