Inocente

Alexandre Klaser
Versos em Suspensão Oral
1 min readMar 1, 2016

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Em minha suprema inocência
Não sabia que se podia possuir uma mulher
Que nem objeto, que se põe e dispõe
Chamá-la de “minha” e exigir submissão

Desconhecia que havia uma coisa chamada “honra”
Pela qual eu deveria viver e morrer
Não admitindo ofensas e ameaças,
Sempre em sua defesa

Havia convenções, havia um jogo
Cujo objetivo era negar
Qualquer sentimento bom
Que me revelasse vulnerável

Inocente, eu acreditava nos sentimentos
Aquela coisa de partilhar e se entregar
Sem pedir nada em troca
De fato, eu não sabia que cada gesto abnegado
Deveria ser posto na balança das mutualidades

Descobri que o que chamam de amor
Só é válido se houver sempre renúncia,
Provações, sacrifícios
E, acima de tudo, posse

Avisaram-me ainda que para ser bom homem
É preciso seduzir suas presas,
Dono de muitas mas sem cabresto
Matreiro, seguir a “natureza do macho”

Então acordei um dia
Solitário e sem posses quaisquer
Mas feliz, estranhamente feliz

Certamente falhei perante os padrões
Dos que me julgam
E, tolo que sou, sigo feliz
Não possuindo nem almas-fêmeas
Nem uma honra imaculada

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