sonhos mortos
planos, eu os tinha…
nunca realizados
eram sonhos apenas
devaneios, passeios no parque
das despreocupações
as coisas que saem de graça
livres da lógica fria
que me joga na cara coisas feias
sempre que assim sonhei
eu fui feliz
e era tudo tão simples
mas não pode
não senhor, não pode:
cresça, apareça, vire "gente"
foi o que me disseram
eu poderia simplesmente ignorar
continuar não sendo gente
gente como eles, animais tristes
mas eu também, na falta de outros valores
tomei os deles
fui fraco, matei a criança
troquei-a pelo homem de face débil
e olhar perdido, desterrado
de seu parque de sonhos bons
sem a base que não me deixaram (deixei?)
construir
não houve, é verdade, quedas fortes
muito menos, é claro, voos altos
foi toda uma jornada de mais ou menos
eu, assim como tantos outros
(antes, durante e depois de mim)
fui só mais um
e, ainda assim, ainda me permito sonhar