Carta aos pais

Ítalo B. Bacchiega (Pena)
Pensamentos Poéticos
4 min readFeb 8, 2017

“Olá pais.

Não nos vemos há um tempo.

Uma coisa que nunca lhes dissemos muito: nós te amamos.

Achávamos que fôssemos dizer mais com o tempo, mas nunca dissemos de fato, e sentimos muito por isso.

A verdade é que despedidas sempre nos partiram no meio. Ainda odiamos isso. É difícil. Ainda não aprendemos a lidar. É difícil cada ‘’ tchau’’ que damos para vocês e para todos de casa em nossas idas e vindas.

Achamos que ficaria mais fácil com o passar dos anos. Estávamos errados.

Nós sempre tentamos fazer o certo mas no meio do caminho acaba sempre acontecendo alguma coisa e a gente volta a forma que era antes: um aperto de mão de despedida e somente um ‘’ até logo’’. Sempre alguma coisa importante pra fazer, algo para correr atrás. E a gente nunca para pra falar o que realmente importa.

Esse é o motivo de nós estarmos escrevendo essa carta. Infelizmente não é o estilo de carta da época de vocês, mas achamos que serve.

A verdade é que nós temos medo. Os ‘’ até logo’’ não são para sempre. Uma hora não terá mais como ter um ‘’ até logo’’ porque podemos nunca mais nos ver. E isso nos assusta pra caralho.

Então imediatamente sentimos falta de tudo.
Os abraços, as piadas sem graça, os churrascos de família de domingo com Benito de Paula e Tim Maia, os passeios, as pescarias com os tios e os seus amigos, as cervejas, os trucos, os ranchos, formaturas e aniversários.

As coisas apertam e às vezes não estamos prontos ainda. Mas de novo, a gente sempre finge estar bem. A preocupação de vocês não é algo que queremos levar conosco.
Por quê? Vocês desistiram de tudo por nós. Viagens, carros novos, e até investimentos em vocês mesmos.

Vocês são bons pais e bons amigos. Vamos levar conosco para sempre as lições de como mexer na mecânica dos carros, de como pescar, de como fazer um churrasco e cozinhar, de como plantar e cuidar do jardim, e de como nos portarmos como pessoas de verdade e sermos bons nesse mundo confuso.

Sabemos que vocês são trabalhadores à moda antiga, que nunca desistem, mas temos medo de que nunca parem. Infelizmente o tempo passa e a gente não é mais como antes, assim como vocês não são mais como antes. Sabemos que é difícil, mas é a verdade. E vemos que vocês sentem isso cada vez que vocês acordam toda manhã, cansados, impacientes, não aguentando mais o peso e querendo o seu lar.

As coisas não são mais como antes, não há dúvida. Mas tem uma coisa que nunca mudou: suas famílias. A gente sempre esteve por aí, de um jeito ou de outro, para as partes boas ou ruins. Nós sabemos que vocês não estarão com a gente pra sempre, mas ainda precisamos de um pai, assim como nossas mães precisam de um marido e de um companheiro.
Concordamos que a nossa relação nunca foi das melhores do mundo, mas temos medo de perder vocês. Deixem os erros e as mágoas pra trás, vamos olhar pra frente. A gente sempre vai querer e precisar de vocês por perto. Beba menos, coma melhor, façam exercícios físicos, escutem mais……parem um pouco.

Só parem. Vejam. Escutem. Entendam. Apreciem.

É assim que funciona.
Crianças se tornam jovens, jovens se tornam homens, homens se casam, formam uma família e a gente faz o melhor que pode. Nós estamos fazendo o melhor que podemos. Sabemos que erramos muitas vezes, mas ainda estamos de pé, para o que der e vier. Podemos nem sempre gostar do que fazemos mas mesmo assim ainda o faremos pra vocês terem de volta a vida que sacrificaram por nós.

Sabemos que vocês fazem o melhor que podem também. Sempre mantiveram a comida na mesa e sua presença por perto, mas às vezes as pessoas ainda precisam de um pouco mais.
As mães precisam de um companheiro em que elas possam confiar e que estejam sempre com elas de igual pra igual e nossos irmãos precisam de pais que se interessem pelas coisas deles e que sempre os apoiem no que quer que façam, com paciência e com ensinamentos.

Como um filho, o meu maior conselho é: digam que os amam. Todos os dias.

Amem como nunca amaram, e nunca tenham vergonha de dizer isso; apreciem as coisas que vocês nunca apreciaram; vivam a vida como nunca viveram; enfrentem as conversas das quais vocês nunca souberam direito como conversar; encorajem e apoiem as mudanças e vontades dos seus filhos e das suas famílias, e acompanhe-as durante o trajeto; digam mais “sim” ao invés de “não”; riam ao invés de gritar; não sejam tão rígidos com coisas pequenas; e principalmente, não percam os dias incríveis.
Façam de tudo que, para que no fim, se tivessem que fazer tudo de novo, vocês não mudassem nada. As pessoas fazem coisas estranhas quando são julgadas e reprimidas ao invés de amadas. Já estamos com 20 e poucos anos e alguns momentos, infelizmente, não podem ser vividos de forma diferente.
Os melhores momentos, aqueles que ficarão conosco para sempre, podem passar em um piscar de olhos.

Temos poucas certezas na vida, mas uma delas é que sempre vai ser assim. Tudo se resume àquela mesma história de amadurecimento e de amor “garoto encontra sua alma gêmea e tentam viver o felizes para sempre”.
Sempre tentamos fazer o melhor que podemos no final.

Com amor.

Filhos.”

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