eu, minha
hoje eu bebi
e fiquei sozinha
eu
e eu
meus pensamentos me atingiam
como um tsunami
me deixando imersa,
afogando,
levantando a cabeça
pra tentar respirar
enquanto olho a janela
e a luz que já de fora me alcança
vejo as plantas crescendo ali,
vou enxergando a mim mesma
e isso me assusta
por vezes eu só quero fugir de mim
dessas inseguranças
desses questionamentos
quero fugir
desses dias que passam
como uma correnteza
levando minhas certezas
que vivi pra juntar
depois desse dilúvio
me enxergo assim
como sou
eu e eu
não há espaço pra fingimentos
quando é só
eu e eu
eu consigo então, enxergar
o porque de estar aqui
de vim de onde eu vim
de ser quem eu sou
o que eu sou.
outra certeza
que o tempo
levou consigo
nada sei sobre mim
porque a cada dia
me desfaço
me refaço
e me acho
pra horas depois me perder de novo
nesse estupor
nessa imensidão
que sou
que vejo
o que sinto eu
e o que sente o mundo
em determinado momento da vida eu abri meus olhos,
e eles abertos me assuntam
ao ver os detalhes
ao ver os olhares
que tanto dizem sobre
a verdadeira vontade
sobre o verdadeiro querer
as pessoas mentem, dissimulam
anulam a verdade
em prol de si mesmas
eu sou uma pessoa
e por tantas vezes
magoei, feri, menti
por tantas vezes eu,
como qualquer ser humano
invadi um espaço
que não era meu
por quantas vezes eu
que não sabia quem era
eu
por quantos dias a dor me pegou latente
e quis
me deixar no chão
de pés entrelaçados com minha solidão
e rejeição
de mãos dadas
com o inimigo
que me fere
a alma
quanto tempo eu levarei
pra superar esse trauma
de não ser o que queriam
de não ser a espectadora
dessas expectativas
por quantas vezes eu me vi
aos pés
da minha insegurança
do meu ciúme
da minha trama
transferida entre o suor
do corpo nu
transferida nas palavras
trocadas
me tornando cada vez menos eu
por tanto querer ser de outrem
hoje eu me sinto minha
hoje eu me vejo
disseminando
as ideias
que com os anos juntei
hoje além de tudo
do álcool,
drogas
e do amor
eu sou o que sou
eu e eu
tentando me bastar
pra não me prestar
a nenhum papel
que me submeta
a menos que qualquer alguém
me bastando
e me vendo
como a mulher que sou
me assegurando
da minha própria segurança
eu sou o que sou
mulher
branca
21 anos
privilegiada pela cor
discriminada pelo gênero
com todas as inseguranças de um ser humano, que sou
com todo amor que meu peito consegue conter
com toda a poesia que minha alma
consegue carregar