Mas esse sou eu
O centro do meu país
fica bem longe de mim
Nunca me perguntaram
se daria certo assim
Não se engane querido candango
Porque na verdade debaixo dos panos
Não é de km que eu estou falando
Por que se esconder
tão longe dos centros
Por que esconder
o que está fazendo
Vossa excelência seu doutor
Se não há o que esconder não há o que temer
Mas esse sou eu, querido senhor
O meu trabalho é muito corrido
O chefe está sempre em cima
Não tenho tempo para trocar de terno
ou parar para dar entrevista
Não quero ser mais um desempregado
Mas com tantos destes esperando um chamado
Acabo ficando na berlinda
Se meu trabalho não estiver bom,
arrumam um alguém melhor do que
Eu já vivi essa realidade
Sei o que aconteceu
Voltei a compor o fim dessa fila
A contragosto virei estatística
Mas esse não é você, doutor, esse sou eu
Mas você como meu funcionário
deixa as coisas um pouco diferentes
Apesar de compor seus honorários,
queria dizer que o expediente
Seu doutor não precisa mais cumprir
Mas eu não sei como demitir
alguém que nunca esteve na minha frente
Eu só tenho essa chance
uma vez a cada quatro anos
Quem me dera dizer o meu patrão
“…não foi assim que combinamos!”
Ver o Brasil no maior furor
Me defender em todos os cantos
Mas esse não sou eu, é o senhor, doutor
É o senhor que convoca todas as massas
para uma plena tarde de outubro
quase obrigados a sair de casa
com a falsa sensação de decidir o futuro
Mas quando chega o primeiro do ano
não parece, mas estamos todos observando
Seu doutor nos deixando do outro lado do muro