Mas esse sou eu

André Menezes
Pensamentos Poéticos
2 min readFeb 11, 2021

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O centro do meu país
fica bem longe de mim
Nunca me perguntaram
se daria certo assim

Não se engane querido candango
Porque na verdade debaixo dos panos
Não é de km que eu estou falando

Por que se esconder
tão longe dos centros
Por que esconder
o que está fazendo

Vossa excelência seu doutor
Se não há o que esconder não há o que temer
Mas esse sou eu, querido senhor

O meu trabalho é muito corrido
O chefe está sempre em cima
Não tenho tempo para trocar de terno
ou parar para dar entrevista

Não quero ser mais um desempregado
Mas com tantos destes esperando um chamado
Acabo ficando na berlinda

Se meu trabalho não estiver bom,
arrumam um alguém melhor do que
Eu já vivi essa realidade
Sei o que aconteceu

Voltei a compor o fim dessa fila
A contragosto virei estatística
Mas esse não é você, doutor, esse sou eu

Mas você como meu funcionário
deixa as coisas um pouco diferentes
Apesar de compor seus honorários,
queria dizer que o expediente

Seu doutor não precisa mais cumprir
Mas eu não sei como demitir
alguém que nunca esteve na minha frente

Eu só tenho essa chance
uma vez a cada quatro anos
Quem me dera dizer o meu patrão
“…não foi assim que combinamos!”

Ver o Brasil no maior furor
Me defender em todos os cantos
Mas esse não sou eu, é o senhor, doutor

É o senhor que convoca todas as massas
para uma plena tarde de outubro
quase obrigados a sair de casa
com a falsa sensação de decidir o futuro

Mas quando chega o primeiro do ano
não parece, mas estamos todos observando
Seu doutor nos deixando do outro lado do muro

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