O Marinheiro
Navega, aventuroso marinheiro,
em busca de mistérios e segredos
por entre as turvas águas
deste volúvel mar sombrio
Navega, melancólico marinheiro,
por entre arfagens e balanços
que te retornam o pensamento
ao além-mar
Navega, sofrido marinheiro,
nestas saudosas ondas
ao lembrar-te de tua amada
que com pesadume,
se quedou naquele cais
Navega, demente marinheiro,
banha-te nas águas da loucura,
enamora-te da lua
e olvida-te do que há em terra
Navega, enfadado marinheiro,
sentindo no rosto o vento
e na boca o gosto do sal
que veio por barlavento
Navega, destemido marinheiro,
aguentando o instável humor de Netuno
que te manda tempestades e furiosos ventos
para te assolarem barco e alma
Navega, ingênuo marinheiro,
arriscando-te por entre o território das sereias
que camuflam a morte com seu canto voluptuoso
e te seduzem com cabelos e seios
Navega, curioso marinheiro,
numa aventura incerta
neste vasto mar
que molha mundo inteiro
Oh, navega, marinheiro teimoso!
Navega, porque velejar é arte,
é peripécia,
é vício.
Só quem nessa vida
experimentou os encantos do mar,
entende a dúbia alma de um marujo,
oscilante espírito que incansavelmente
iça velas rumo a novos horizontes
na inocência de quem não sabe se um dia
regressará.