O rasgo no jeans

Ana Clara de Moura Marçal
Pensamentos Poéticos
2 min readAug 31, 2020

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**barulho de tecido rasgando**

Olho para baixo e lá está uma faixa da minha perna exposta evidenciando um aranhão e o recém adquirido furo na minha calça. Meu jeans preferido. Era dia de evento — talvez assembleia seja a melhor palavra — e eu estava atrás de algumas cadeiras fotografando o palco. Confiante (loucura como uma roupa consegue influenciar nosso comportamento nessa medida, né?) com minha calça preferida, inaugurando ela para a modalidade trabalho/faculdade (sim, sou dessas que separa as roupas do dia a dia daquelas de sair).

Uma tachinha que era para prender a parte traseira do tecido da cadeira estava solta. A vítima, como vocês já devem ter percebido, foi minha calça. Um pouco acima do joelho, nem grande nem pequeno. Para quem não sabe sua história, passa como um rasgo proposital, igual aos de muitos jeans por aí. Tanto que passei o resto do dia com ela sem nenhum problema.

Voltei para casa pensando em como arrumar. Costurar? Colocar aqueles patches de roupa? Por correria — ou preguiça mesmo — deixei o rasgo e continuei usando meu jeans mesmo assim. Até que não quis mais mexer nele. Deixei o rasgo exposto com toda sua história. E a calça não deixou de ser minha preferida. Talvez tenha se tornado até mais especial. Toda vez que olho para ela e vejo o rasgo, me lembro daquele dia. (Se eu não disse ainda, deixe-me ressaltar: foi um dia muito feliz, por várias razões que não me alongarei aqui. Não que não importem, mas meu objetivo nesse texto é outro).

Por que vim falar da minha calça?

Porque um rasgo, uma falha, um quebrado ou uma rachadura são nossas histórias. Nossas composições. E, talvez, se quisermos remendar tudo para deixar como era, podemos apagar o principal da vida: nossas memórias e histórias. Boas ou ruins, todas elas nos constroem. Tornam cada um de nós especiais, únicos. Porque cada um é composto por diferentes histórias.

Ninguém é perfeito. Melhor assim. Nossas imperfeições são o que nos torna humanos. Que saibamos valorizar cada pedacinho quebrado, cada rachadura, cada falha. Que saibamos aprender com elas. Extrair e trabalhar com o que tem a nos ensinar. E que tenhamos consciência de que a união de todas elas é o que nos torna o que somos.

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Ana Clara de Moura Marçal
Pensamentos Poéticos

Estudante de jornalismo, escritora e interessada em boas histórias e ideias. Insta: @palavrasquecarregam Contato: ana.clara.marcal@terra.com.br