outras primaveras (in memoriam)
Primavera
(trecho escrito por meu avô, em outra primavera, de ano desconhecido)
Tudo é alegria, veio a primavera enfim
Um lindo sol cobre um domingo de paz
Os namorados a passear pelo jardim
Para saciar a saudade que o tempo faz
Entre retalhos verde-claro de sertão
Roça plantada, água, sombra e matagais
No horizonte onde se perde a visão
O vento pinta a maré loira dos trigais
Aqui distante na colina onde estou
Entre alegrias não posso esquecer meu bem
Vive ausente mas na flor que ela plantou
A primavera nela começou também
Era tão lindo, eu sinto no coração
Perfume antigo renascer na nossa flor
Este aroma me desperta solidão
Velha saudade faz sonhar com meu amor.
coisa linda e louca essa vida, né?
e que falta faz ouvir as histórias contadas por ele, que sempre encontrou beleza na simplicidade da vida — e me encantava, especialmente, por compartilhar comigo o que talvez seja a maior riqueza que se pode herdar do tempo. hoje, me resta imaginar o campo, o lugar que serviu de inspiração para o registro de outra primavera. hoje não é domingo, e nem tudo é alegria, mas é primavera e eu também sinto saudade.
22 de setembro, primavera de 2020.