Quantos silêncios você já perdeu?

Ana Clara de Moura Marçal
Pensamentos Poéticos
2 min readAug 23, 2020

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Primeiro, abandone aquele pensamento de que perder é coisa ruim. Porque não é. Pelo menos às vezes. Saber perder relacionamentos e pensamentos pode ser um presente. Mas comecemos pelo lado ruim da perda.

Assim, quando eu perguntar quantos silêncios você já perdeu, estou falando daquela oportunidade de ficar quieto(a) ao invés de falar bobagem — para não usar outros termos. Sabe o que é pior que o silêncio? Preenchê-lo de coisas vazias.

E isso toca em outro ponto importante. Nos tornamos — ou sempre fomos? — seres famintos, sedentos de impulso, ação, respostas instantâneas e posses (não só materiais, mas sedentos de ter a melhor resposta, o melhor pensamento, a melhor ideia…). Toda essa fome, paradoxalmente, tem nos tornado anoréxicos. De empatia, respeito, sensibilidade, atenção, humildade e humanidade.

Saciar a fome faz parte da condição humana, eu sei, mas temos que saber a hora de parar e pausar. Fazer a digestão. Quem come muito a todo momento perde a capacidade de saborear. Experimenta uma indigestão a cada refeição.

Saber parar, refletir e analisar é fundamental para que sigamos em frente. E não retrocedamos. Portanto, se você for preencher um silêncio com coisas vazias e carentes, pensa melhor se vale a pena. Melhor um silêncio que um barulho ensurdecedor e vazio de conteúdo.

Mas e aquela parte de que perder pode ser bom?

Vamos lá. Pense de novo em quantos silêncios você já perdeu. Mas pense bem.

E me responde uma coisa: você já teve aquela amizade ou relacionamento que foi ficando silencioso, sem motivo aparente, até o momento em que se desfez? E se eu te perguntar o porquê você provavelmente vai me responder que não sabe, só aconteceu, perdemos o contato.

Arrisco dizer que o diagnóstico possa ser comodismo ou orgulho. Ambas as partes tem consciência do enfraquecimento mas, ou estão muito confortáveis como estão, quietas, ou estão muito orgulhosas para tomarem a iniciativa do diálogo. Porque, sim, dialogar pode ser cansativo e trabalhoso. Mas é fundamental e enriquecedor.

Pois bem, perder esse silêncio — quebrá-lo, literalmente — é ganho. Por falta de conversa, e excesso de orgulho e comodismo, muitos laços se enfraquecem. A arte de um convívio saudável e prazeroso está na capacidade de dialogar sobre tudo, sem vergonha, medo ou vaidade. Tão importante quando saber a hora de se calar é saber a hora de falar, perguntar, esclarecer. Principalmente quando ninguém está fazendo isso.

Acabo este texto não te questionando sobre quantos silêncios você já perdeu — espero que isso você já tenha feito no decorrer da leitura -, mas desejando que você saiba quando é hora de perdê-los e quando é hora de mantê-los e silenciar-se.

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Ana Clara de Moura Marçal
Pensamentos Poéticos

Estudante de jornalismo, escritora e interessada em boas histórias e ideias. Insta: @palavrasquecarregam Contato: ana.clara.marcal@terra.com.br