Relâmpagos de Puraí

täkwila
Pensamentos Poéticos
2 min readJan 18, 2023

Tons de saudade não têm cor, têm aroma. Hoje pela primeira vez desde bom tempo olhei pro céu como quem navega e não se afoga. Me veio a fé em afago forte, sem medo da escuridão que invade o véu de nossos crepúsculos. Hoje lembrei de iluminar o caminho. Senti gosto de céu no palato. Amei nem que apenas por um segundo.

Compreendi a vida em termos extraordinariamente prosaicos.
A vida é, nada mais, nada menos, que porta aberta em condução fechada, em que seguem amontoados muitos percorrendo longos dias de estupor. Cujo sol incide em excesso sobre as feridas, inclusive as mais sensíveis, inflamando a pele e crestando o tecido. Vida é qualquer vento benfazejo, brecha entre desenganos. Vida é se deixar esquecer. Lembrar do que de fato somos. Saber que ainda está aqui.

As ruas não são mais como antigamente. Dentes protuberam nas calçadas. Não confio mais nas pessoas, nem mesmo em meus amigos. Há quem não erre por mal, mas faça estrago como outro por intenção não realizaria. Perigo precisa chegar perto pra ser. E pouco ao lado dali a aflição finca morada.

Com isso tive de aprender a ter tacitez, a guardar o sorriso por entre o vão das palavras. A falar somente no silêncio minhas maiores verdades. Pois certezas se tornam artifícios nas mãos de homens mal intencionados.

Me tranquei dentro de um castelo subterrâneo. Fechei meu corpo, reconciliei minha fé. Deixei ninguém entrar, nem mesmo Deus. Passei a acreditar somente em mim.

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