Tristeza de domingo
Por tantos outros motivos para escrever, hoje venho pela tristeza dos domingos.
Juro que foi apenas coincidência. Após entrar no quarto e deitar por cima dele, não pude conter o choro e assim permanecemos por um bocado. E, não coincidente, segundos após ter pensado nos sentimentos de tristeza que costumo viver aos domingos, ao pegar o celular e logar no instagram a primeira postagem em meu feed: “depressão de domingo.”
Poderia até usar o argumento de que o google é espião e me ouviu falar no momento em que pensei, no entanto, esse fato não saiu do meu pensamento. A postagem do Quebrando o Tabu pode até ressaltar mais sobre o cansaço ou ansiedade e fadiga que os dias modernos nos faz sentir como justificativa para essa dor que costumamos sentir no final dos nossos domingos. Porém, confesso que sempre ou quase sempre quando isso me acontece, está associado a um retorno no passado.
Quando criança, cresci longe da minha mãe junto ao meu irmão mais velho e os meus avós e raras as vezes que a nossa mãe nos visitava pois, precisava trabalhar bastante para mandar dinheiro para que nós pudéssemos crescer bem, saudáveis e respeitosos graças ao foco em nossa educação.
Foi em uma dessas raras vezes que conheci este sentimento. Este sim, este por estar tão perto de mim, mas também, por estar tão perto de ti.
Sinceramente, estaria mentindo se afirmasse que eram aos domingos que a minha mãe costumava voltar à cidade onde residia e trabalhava. Claramente eu não lembro e a minha memória deixou de ser tão útil já faz um tempo.
Entretanto, o sentimento é o mesmo que sentia em todas as despedidas. Pode ser esse um dos motivos pelos quais eu não gosto delas. Na verdade, não é que eu não goste das despedidas em si, é o que elas representam. Ao menos para mim, elas representam a solidão. Me representam o vazio e no fundo, apesar de ser alguém solitária, vos revelo agora o meu maior medo.
Existe a possibilidade de alguém se afogar no vazio?
A solidão pode ser o veneno mortalmente indolor das nossas vidas.
Há domingos que são assim; que me fazem sentir assim.
Há não domingos que também causam o mesmo efeito.
Despedida não difere de dor e a ordem dos fatores não altera o produto.
E, mesmo que doa como de costume e que por como de costume, isso acabe passando um pouco despercebido, nada é tão mais doloroso; seja uma dor física como a de um corpo em trabalho de parto ou a dor psicológica de suportar a tal quando a dor da despedida.
Apesar da despedida ser breve, nada é tão breve que não seja capaz de nos causar tal sensação de vazio. Mesmo que seja apenas por um dia ou dois. Quando se há afeto imensurável por alguém, não importa o tempo que esteja afastado, importa o estar afastado. Bem, é assim que penso e é assim que dói porque sinto.
Sei que não sou a única a sentir-me assim e mesmo que com intensidades diferentes, todos os sentimentos são sentimentos e possuem importância. Como costumo falar: cada um sabe onde o sapato aperta.
Talvez, e falo talvez por vergonha de confessar. Não que sentir seja motivo de vergonha, não que sentir seja sinônimo de fraqueza, é que sentir me deixa vulnerável e representa totalmente o contrário de tudo aquilo que apresento e aparento ou ao menos tento aparentar ser.
Não duvido que se eu conseguisse ser o mínimo true sincera comigo mesma sobre o mais puro sentir, eu conseguiria sofrer menos. Ou melhor dizendo, eu teria um alívio em meio a tanta dor.
Se eu for refletir um pouco mais a fundo, não seria o medo de não me ver sofrer que me causa ainda mais medo?
Eu saberia viver sem o sofrimento? Adaptação é uma palavra linda quando se está de fora do cenário, reconheço.
Também há a possibilidade de que por estar um clima estranho, cinzento, de obra e termos visto aquele filme juntos e por principalmente ser baseado em fatos reais e acabar sendo um domingo; isso tenha aberto de forma camuflada a lembrança das despedidas da minha infância.
Acabei de olhar no aplicativo e a minha menstruação está próxima, o que também corrobora para tal sensação
Ou talvez
No fundo
Eu não queria, ao menos hoje, dormir sozinha.