Tsunamis
A vida tem sido muito dura comigo e com a minha família.
Para ela, não basta tudo que já vivemos. Nada é tão ruim
que não possa piorar.
Como ser positivo numa realidade como esta?
Seria cômico se não fosse trágico.
Tragédia = peça em verso, cuja ação termina de ordinário
por acontecimentos fatais.
É exatamente assim que podemos rotular a minha vida.
A divina tragédia.
A tragédia de ter nascido. De ter sobrevivido. De não ter
coragem de tirar a própria vida.
Das intermináveis cartas suicidas.
A tragédia de ainda tentar continuar sobrevivendo.
Por quê continuar tentando?
Isso não é vida.
Viver não pode se resumir a sofrimentos.
Lamento, mas o peso da dor é maior que os esporádicos
momentos de alegria. E, na balança de Osíris, o meu coração
não pesa menos que uma pena.
Não preciso nem ser devorada por um deus com cabeça de
crocodilo. A vida tem me devorado diariamente com essas
tal de aprovações.
Eu tenho fé, não vou negar. Mas, que Deus é esse que insiste
em ver um “filho” sofrer porque para ele, esse pobre ser
consegue suportar?
Quantas dores e tempestades, tsunamis, inundações, erupções
tornados mais, eu terei de enfrentar para ter o mínimo de paz
ou sossego que um ser humano deveria ter?
Uma vida de sofrimentos, de dores, de cicatrizes não é vida.
É uma tormenta.
Por noites eu choro, não consigo dormir.
Por noites o ar foge dos meus pulmões.
Por noites vivencio pesadelos que me fazem palpitar o coração.
Por noites, por tardes e dias, o meu desejo se torna único.
Desejo não estar mais aqui.
Desejo que nunca estivesse aqui.
Desejo que o amanhã não aconteça.
Que eu durma e não acorde.
De sumir.
De inexistir.
Desejo não sentir dor na minha partida.
Acredito que seja essa a razão ao qual não fui capaz ainda
de pegar um objeto cortante e enfiá-lo em minha garganta.
Em minha barriga ou pulsos.
O sofrimento psicológico me assusta e atormenta tanto que
me faz ter medo do sofrimento físico.
Mas, o meu desejo é unicamente o mesmo por anos, por meses,
dias, horas, minutos e segundos: morrer.
- Por um eu que já morreu há anos.