O Brasil da direita xucra.

Paulo Pilotti Duarte
here be dragons
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3 min readAug 4, 2021

Vou usar esse vídeo do Pedro Dória como ponto inicial para a reflexão sobre os motivos que nos levaram à “onda liberal” na América Latina.

Aqui ele fala da “onda” fascista que acometeu uma escola nos EUA, em um experimento escolar sobre como as ideias de segregação, autoritarismo e repressão são fáceis de colar numa comunidade.

Complementando, o Paulo Gala postou esse gráfico sobre os países emergentes.

A princípio os dois não tem correlação ou causalidade. Mas não é o que se vê quando se analisa um pouco mais a situação da América Latina e da Ásia.

Uma amiga minha disse que o vídeo do Pedro deveria ser passado em todos os locais para as pessoas entenderem o que é o Bolsonaro o do porque dele ser ruim. Mas, por pior ele seja, as pessoas não conseguem entender isso muito bem. Principalmente quem tá no “meio do caminho”. Eu sempre digo, com zero base teórico-prática, que os do meio do caminho são os que mais se beneficiam (ou acham que vão se beneficiar) desse tipo de ação. Os mais ricos sempre vencem. Os mais pobres sempre perdem. Para esses dois espectros, pouco importa o que tá rolando, a entropia deles tá determinada quando nascem. O que vem no meio é que modifica as estruturas.

E nesse ponto, gráfico e vídeo dialogam. Países com uma “classe média” definida anteriormente, como os da América Latina, e que tiveram anos e anos de estagnação nesse segmento, deram uma guinada para direita ideológica quando se viram mais perto dos pobres. Porquê? Porque para essa classe social eles estavam “empobrecendo” (mesmo que os números digam que eles aumentaram a renda em ~30%; o problema é que a renda dos mais ricos subiu ~60% e dos mais pobres ~70%) e se tornando mais próximos dos mais pobres do que dos mais ricos. Eles perderam locais intermediários de exclusividade (como as viagens em classe econômica e os pacotes para Disney).

A retomada que o Trump prometia era essa: mais empregos e renda para classe média.

A retomada dos “valores” do que Bolsonaro prometeu foi essa: menos dinheiro para causas sociais e mais liberalismo.

A retomada que o Macri vendeu foi essa: menos distribuição de renda e mais trabalho.

Lacalle Pou, Erdogan, todos eles são políticos de direita ideológica que prometem sempre a mesma coisa: uma retomada do poder que a classe média perdera com a ascensão da classe pobre. Mesmo que esse poder não tivesse sido perdido, apenas aproximado de quem estava mais abaixo.

Então, chegamos no Brasil. No centro-sul do Brasil. Aqui esse sentimento é muito mais forte porque vimos o NE ganhando um mínimo de infraestrutura e investimento — com a transposição do São Francisco, o programa de água no sertão, investimento no consórcio nordeste — enquanto o centro-sul estava “estagnado” (não estava, estava recebendo investimentos, mas como tem uma base forte, o crescimento era menor; no final o que se viu desde o FHC foi uma aproximação do NE do padrão de vida do centro-sul) e isso gerou essa “onda” de liberais como o Leite, Van Haten, Bolsonaro (que nada de braçada no centro-sul), Heinze e muitos outros.

A questão é que não vamos sair disso tão cedo, não pelo menos sem uma boa aproximação do setor progressista com a classe média mais xucra. E isso não é fácil de fazer, ainda mais com todo o trabalho de décadas das igrejas evangélicas.

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