Por que nós deveríamos parar de discutir por política

Calma. Antes de julgar pelo título veja o que eu tenho para dizer.

Bruna Próspero Dani
uma-maleta-de-mão
5 min readOct 5, 2018

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Já comecei pedindo calma, pois sei que os ânimos estão exaltados. O meu, o seu e o de quase todo brasileiro.

Sou a primeira a levantar a bandeira de que precisamos falar sobre nossos direitos e deveres, mas isso é discutir SOBRE política e não POR política/candidato/partido. E o que ando vendo por aí é que estamos mais preocupados em vencer uma briga de opinião do que qualquer outra coisa (ou 98% de nós).

Ontem eu estava em mais uma dessas longas discussões que desgastam ambos os lados. Apontando dedos, atitudes e decepções. No meio disso tudo me veio a imagem de uma amiga que perdi no começo desse ano.

A imagem apareceu como um flash e pode parecer um pouco loucura falar isso, mas na real foi o momento mais lúcido do dia.

A partida dela foi a gota d'agua para que eu mudasse muita coisa na minha vida e nas minhas atitudes e acho que por isso ela tenha “aparecido de novo”.

Ela é uma daquelas pessoas que talvez eu estivesse discutindo por política hoje.

Mas naquele momento de consciência tudo que eu queria é que ela estivesse fisicamente ali. Pra gente conversar, não sobre partidos, mas sobre a novela das seis, sobre a receita que ela fez no domingo e não levou pra eu experimentar e sobre este outubro que está mais cinza do que eu gostaria, mas do jeitinho que ela gosta.

Se ela, por um instante, estivesse aqui hoje, eu certamente não perderia tempo com minha opinião e nem apontaria seus “defeitos”.

Eu a convenceria de ir ao cinema comigo numa quarta-feira a noite, mostraria as fotos de Capri e contaria sobre minha desilusão com os italianos. Talvez com essas histórias ela entendesse meu ponto de vista sem eu precisar falar do candidato que abomino.

Talvez, a história do filme que tivessemos escolhido fizesse com que ela perguntasse minha opinão sobre o cenário político e a gente converssasse. Mas ainda assim ela seguisse com a opinião forte, teimosa e taurina dela. Talvez não. Mas isso realmente não importaria.

O que importa é que eu queria que ela tivesse tido mais tempo para curtir os dias de semana, que ela pudesse preparar mais pratos com beringela pra mim e que eu pudesse convencê-la de experimentar meu pudim de chia.

Eu fui dormir com essa angústia. E se a gente não tivesse mais tempo de falar sobre coisas banais com quem a gente ama? E se a última coisa que tivessemos conversado com uma pessoa querida fosse sobre como um candidato é babaca?

Acordei com esse texto do Gustavo Tanaka. Um alívio.

Ele me fez refletir de que talvez essas discussões tenham sido boas, (porque é bom a gente botar pra fora todas as indagações que viram uma bola de neve), mas que agora , depois de tudo dito, a gente possa seguir com mais calma.

Eu gostaria de te convidar a ler o texto na íntegra, mas destaco aqui o que mais me tocou:

É assim que eu vejo nosso país. Eu posso ter mágoas com o candidato que você escolheu. Posse sentir raiva de você por apoiar esse partido. Posso não conseguir compreender porque você age assim e como pode acreditar nisso. Mas por baixo de tudo isso está uma vontade gigantesca que sinto de viver em paz. De viver bem. De que minha vida seja boa. E que a vida dos meus amigos também seja boa.
Um desejo real e verdadeiro de que a gente possa ser feliz, que a gente possa estar em paz e de que a gente possa ser livre.

Por isso eu não tenho medo. Existe uma confiança na vida que nunca nos abandona. Uma confiança de que não existe erro. Não existe caminho sem volta.

Não importa o que aconteça. Não importa quem vença as eleições, essa raiva vai passar. — Gustavo Tanaka.

O domingo vai virar e elegeremos um candidato que não vai solucionar todos os nossos problemas. O dólar vai subir ou aumentar, mas o que realmente importa — no fundo — não é isso.

Talvez, se essa minha amiga ainda estivesse aqui, ela me dissesse coisas que eu discordaria plenamente, mas ainda assim, ela continuaria a ser aquela amiga que me ajudou e me abraçou quando eu mais precisei.

Aquela sua tia que fala coisas que, de certa forma, te decepciona vai continuar sendo a tia que ajudou tanto seu avô, mesmo não tendo nenhum vínculo de sangue com ele. Não é possível que ela seja tão "má" assim. E aquele seu sobrinho que você acha que é cego, hipócrita, e "esquerdista-caviar" vai ser sempre aquele menino doce e que ajudou sua enteada no ano passado…

Já despejamos nossas verdades. Agora é hora de acalmar. De nos unirmos. Hora de parar de agirmos como se existisse um salvador, esquecendo que todo mundo têm um teto de vidro, inclusive nós mesmos.

Eu desejo que durante estes próximos anos a gente consiga falar sobre tudo que nos aflige sem apontar candidatos ou salvadores da pátria. Que a gente consiga mostrar que o ódio não é a solução, mas que a gente consiga falar sem ódio na própria fala. Com menos julgamentos sobre o outro e mais olhares para as nossas próprias atitudes.

Utopia? Talvez…Mas eu prefiro a utopia da esperança de tempos melhores do que esperar por um futuro de sombras.

E isso não é um texto para você ou para você apontar aquele amigo. É pra mim. Pra me lembrar que o que importa nisso tudo não é quem vai vencer essa eleição. É como a gente vai agir daqui pra frente.

Que seja com menos raiva, mais tolerância e muito diálogo. Que a gente não espere mais quatro anos pra “botar tudo pra fora”, que a gente consiga falar sobre política e sobre soluções sem causarmos uma indigestão em nós e em que nos ouve.

Como disse Gustavo, “o amor vai ser a única coisa que vai restar.”

Jorge Ben, porque eu vou torcer pela paz, pela alegria, pelo amor e por todas as estacões.

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