Uma carta de coração para corações
e uma não-despedida.
percebo que perdi a noção dos inícios e dos fins. das distâncias e fronteiras. o que é uma fronteira senão apenas um traço imaginário feito no mapa? fui dormir com a lua me dizendo “boa noite” e acordei com o sol nascendo em “buenos dias”. vi dois pores do sol num mesmo mar Atlântico.
quantas horas cabem em um dia? desconfio que sejam mais do que 24.
mais um cochilo e já ouvia o Olodum. um barco, um ônibus e um respiro de olhos fechados bastaram para começar a ouvir os passarinhos, de novo, ao fundo de um mantra já conhecido…
voltei ao lugar onde tudo — talvez — tenha (re)começado.
mar de Jorge. soneto de Vinícius. melodia de Caymmi.
na verdade, não sei bem onde tudo começou. não sei mais o que é começo e o que é fim. tudo num fluxo contínuo e rápido o bastante para não pensar. e para confundir Nazaré de Portugal, com Nazaré do sertão.
sem despedidas. sem parágrafos com letras maiúsculas. sem coerência geográfica, e de vírgulas no lugar certo. sem ponto final…
a virgula certa era nas águas dos seres de Piracanga.
e eu que pensava ter entendido alguma coisa, percebi que entendi é nada.
ainda bem. esse não entendimento é o que me movimenta.
mais alguns poetas e poetisas pelo caminho. não por acaso tudo pareceu um grande poema. sei que o cenário contribuiu. Mas não foram apenas dias de sol e calmaria. Às vezes, as palavras bonitas e frases enfeitadas me esbarram em dias de furacão e garoa.
“É beleza que não se vê com os olhos, se vê com o coração.”
esse verso, porém, veio em uma noite estrelada e de planetas brilhantes entre coqueiros iluminados pela lua.
procurei na minha galeria de fotos os rostos conhecidos e sorrisos largos dos autores destas estrofes e, para minha surpresa, encontrei poucos deles. mas, pensando bem, não é de se surpreender… como fotografar o que só se vê com os olhos da alma?
uma voz já conhecida no meu fone de ouvido me fez perceber o porquê de ter gostado tanto da frase naquele dia de estrelas a granel. ela me lembrou o meu poeta preferido, que agora me conta — mais uma vez — que têm coisas que só o coração pode entender, mesmo. o jeito é celebrar todos estes encontros e estrofes no meu HD interno e de frente para o mar…
“vem de mansinho a brisa e me diz é impossível ser feliz sozinho.”
09/09/18