Atacama. O lugar mágico.

Claudio Palmieri
pensologopensomais
Published in
6 min readAug 15, 2024

O deserto mais árido do mundo. Eu chorei. Quando voltei refleti mais do que quando estava lá. E eu chorei. Um lugar que te insere nos primórdios do mundo. De bilhões de anos atrás. Quando não tinha um ser humano sequer. Um lugar que te leva visualmente além do planeta Terra. Você caminha por lugares semelhantes ao terreno de Marte. Areia das mais variadas cores, pedras, montanhas e ventos fortes. Você olha para o infinito e vê a TerraMarte. Diversos biomas com visuais incríveis. Lagos congelados, junto com a Cordilheira dos Andes cheia de gelo, céu com um azul sem igual. Tudo isso forma uma paleta de cores incríveis. Regiões de montanhas coloridas. Vermelho, verde, amarelo, rosa, preto, branco. Como uma caixa de lápis de cor. E os Geiseres? Lugar mágico. -12.5º C com sensação térmica de -18ºC. Sem luvas as mãos doem uma dor intensa, com as luvas as mãos ainda doem, mas com menos intensidade. Tudo no meio da fumaça que sai de um chão fervilhando. A terra mostra sua vividez. “Não sou uma rocha morta. Eu pulso, eu respiro. Estou viva.”, fala o planeta diante de você.

O céu estrelado. Um dos mais limpos e melhores do mundo para admirar o infinito. Para sentirmos nossa insignificância no universo. Que somos realmente apenas uma poeirinha cósmica de nada. Seus olhos hipnotizados captam o brilho das estrelas, planetas, estrelas cadentes. É olhar e filosofar. Pensar muito. Se você acredita em Deus vai acreditar mais ainda. Se não acredita, terá mais nitidez reflexiva da sua não existência. O acaso fez tudo isso. Ver desenhado no céu com uma luminosidade fantástica a cabeça e o corpo de escorpião. Fenomenal. Colocar seu olho diretamente na lente do telescópio e ver diante de você SATURNO e seus anéis. Emocionante! Lembrei de Galileu Galilei que com seu telescópio rudimentar pensou que os anéis fossem luas ao redor do planeta. Saturno, eu te vi! Saturno você me viu, e sorriu.

Ver flamingos, raposas, lhamas e vicunhas soltas no infinito do Deserto do Atacama. Sentir sua bota pisando nos cascalhos, afundar numa areia preta que parecia te puxar para dentro dela. Mijar no desejo. Algo de você ficando lá. Desenhando aleatoriamente na areia do deserto. Existe uma sensação de simbiose, como se você começasse aos poucos a se sentir parte do deserto. Você é o deserto. Você se integra a ele. O deserto pede para você se permitir fazer parte dele. Ele diz que tudo dele também é seu. “Fica meu amigo! Tenho muito para te mostrar. Quero que você me conheça mais a fundo. Cada grão de areia, cada pedra, cada vegetação, cada gota das lagoas, cada pedacinho de gelo e todo este azul maravilhoso do céu também é seu. Fica!”. O deserto fala com você. Quem mora lá já aceitou ficar. Quem apenas visita escuta o pedido do deserto e balança. Você vai dormir e pensar muito em tudo que viveu em mais um dia de contato com o Atacama. Você olha para sua esposa e vê que não foi só você que se maravilhou. Que a pessoa que você ama também está encantada. Os olhos dos dois cruzam o brilho profundo que o deserto foi capaz de criar em cada um. Sabemos que sentimos o mesmo.

A cidade de San Pedro de Atacama. Tão simples, tão tímida, tão bucólica. Ela não quer aparecer, não quer chamar a atenção. Ela quer apenas ser o ponto de respiro para quem visita o Atacama. O deserto é o maior astro. E a cidade sabe disso. Os muros das casas e estabelecimentos não são coloridos. São brancos e marrons cor da terra. É a simbiose da cidade com o deserto. Suas ruas de terra, com cachorros para todos os lados. Seu povo calmo misturado ao cosmo cultural global de gente de todos os lugares do planeta. Pessoas de diversos países que vêm buscar o mesmo que todos. Eu mesmo busquei o que eu não sabia que encontraria no deserto e dentro de mim. Casais, grupos de amigos, famílias. Pessoas aventureiras de verdade ou apenas na alma. Estão lá. As lojas que vendem produtos que possuem um pouco da alma do lugar. Querem que um pedaço da sua cultura vá com você. Os habitantes amáveis, alegres, que te ajudam, te abraçam, que riem com você. Eles cuidam de você.

Ir embora. A sensação ruim de precisar dar adeus ao lugar que vai transformar o seu eu daqui pra frente. Que ficará circulando na sua mente eternamente. Que se conectará com suas experiências passadas e futuras. Que ajudará a formar ainda mais você. É como tirar foto com sua esposa na estrada infinita. Nunca mais sairá de você. O Atacama viverá em você infinitamente até chegar o dia de partir do planeta e fazer parte daquele céu iluminado sendo uma estrela ao lado de todas aquelas da Via Láctea. Pegar a estrada à noite para o aeroporto é uma beleza e um sofrimento. O deserto ainda tenta uma última vez. “Hei, amigo! Veja este céu. Fiz para você. Veja como ele é lindo. Iluminado. Cada estrela está se esforçando para brilhar muito mais apenas para você. Não vá. Fique!”. Você só mete a cara no vidro da van para olhar o máximo possível aquele céu espetacular. Você o deixará de ver e precisa ter ele prensado em sua retina. Para você nunca mais esquecer. Atacama, nunca mais, mas nunca mesmo, vou esquecer de você. Obrigado por cada segundo de experiência que você proporcionou. Você me fez uma pessoa melhor. Obrigado Natascha, minha esposa, por tudo que você fez com carinho e amor. Você organizou tudo. Fiz muito pouco perto do tudo que você fez para que esta maravilhosa viagem acontecesse. Obrigado por estar comigo neste lugar encantador.

Minha sugestão mais afetuosa que eu poderia fazer a você que está lendo este texto. Vá ao Deserto do Atacama. Viva uma experiência que vai marcar você. Se tiver algo que o hesite a ir, não o deixe tirar o Atacama da sua história de vida. Se precisar de alguma informação que possa retirar algum tipo de insegurança, é só falar comigo e com minha esposa Natascha. O Atacama quer você também.

Agradecimentos à We Love Chile, aos Guias Joaquim, Alexia e Jonathan. Também a Helena do Hostal Intipara e a nova amiga Bianca, que esteve comigo e com minha esposa no passeio ao Vale do Arco íris. Ela viveu o Atacama como eu e minha esposa Natascha.

Por Claudio Palmieri
Apaixonado pelo ser humano e sua interação com o mundo.
Experiência, criatividade, arte, inovação, neurociência, antropologia, sociologia, filosofia, literatura, ciência, cinema, inteligência artificial e Atacama.

Site profissional: www.claudiopalmieri.com
Site artístico:
www.claudiopalmieri.com
Instagram:
www.instagram.com/clauspalmer
Facebook:
www.facebook.com/claudiopalmieri
Linkedin:
br.linkedin.com/in/claudiopalmieri
Antropologia Urbana SP:
antropologiaurbanasaopaulo.tumblr.com
Email:
clauspalmer@gmail.com

--

--

Claudio Palmieri
pensologopensomais

UX Design | UX Research | UX Strategy | Inovação | Neurociência | Antropologia | Inteligência Artificial | Pensamento Crítico | Filosofia | Arte