It, a Coisa (2017) — Andy Muschietti

Aquela Coisa do filme mal feito

Ricardo Silva
pequenas impressões cinematográficas

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A crítica ainda se divide em classificar essa nova adaptação da clássica obra de Stephen King como terror ou horror (e a crítica também luta em dizer que uma coisa pode ser a outra, mas isso é outra conversa). Mas vamos facilitar as coisas: o trabalho dirigido pelo argentino Andy Muschietti não é nenhum e nem outro. É comédia.

No mesmo embalo estético e conceitual de Strangers Things (crianças, referências oitentistas descoladas e homenagens a ícones da época), It falha de forma vexatória em construir a narrativa do “Clube dos Perdedores” e o seu enfrentamento ao palhaço Pennywise, interpretado por Bill Skarsgård, que transforma-se no medo de cada um dos seus integrantes. Como é a segunda adaptação do trabalho de King, a comparação com a primeira, uma minissérie dividida em duas partes feita nos anos 90, é inevitável. E esta segunda, que deteve-se apenas no período adolescente dos personagens, perde e muito para a primeira. Tim Curry, o palhaço da primeira versão, é incrível hábil na forma como transforma-se em Pennywise. O tom sombrio, tenebroso, psicopata está ali o tempo inteiro acompanhando sua performance que se tornou um parâmetro clássico para qualquer filme que use o palhaço como elemento do medo. Já Bill Skarsgård, que recebeu um trato estético bastante caprichado, perde-se em meios aos efeitos especiais (que podem ser contabilizados na lista de pontos negativos do filme) e acaba entregando um palhaço incômodo mas pobre (e não adianta falar do estrabismo do personagem, que ser vesgo não é sinal de boa atuação).

Em contrapartida, o grupo de pequenos atores é bastante harmonioso e transmitem muito o ar de amizade que se espera de uma história com essa. Quem rouba definitivamente a cena é Finn Wolfhard (que atua em Strangers Things), com o seu Richie completamente desbocado e bastante bem humorado. E eis o elemento que contou mais contra do que a favor do filme: o alívio cômico. Ainda que funcione como ferramenta para destensionar dos momentos de suspense e susto, houve um imenso desequilíbrio durante o longa que tem mais comédia do que terror, o que me faz vê-lo muito mais como um filme de comédia do que de outro gênero. E como comédia funciona muito bem (que o diga minha sala que não parou de rir a sessão inteira).

O filme inteiro é atravessado por saídas óbvias, sem muita inteligência para explorar uma história tão boa como é a de Stephen King e que foi tão bem produzida na sua primeira adaptação. O longa termina com um quê de continuação (o que possivelmente vai acontecer, já que foi feito num formato para gerar uma boa bilheteria). Infelizmente é um filme que não convence, tanto na sua força como alegoria do medo, quanto como uma produção cinematográfica que não precise ser tão boba a ponto de ter que ficar explicando o que se passa na tela ao espectador. Não é ruim, mas está anos-luz de ser considerado algo bom. E viva Tim Curry!

It (2017)
País: EUA
Diretor: Andy Muschietti
Roteiristas: Gary Dauberman, Chase Palmer, Cary Fukunaga
Nota: 2/5

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