Cozidos no ar: quando os efeitos são claros demais

André Silva
Perdidos No Ar
Published in
4 min readNov 19, 2015
Fonte: YouTube (sim, eu citei YouTube como fonte. Não sei qual o autor original do vídeo)

Por André Silva e Miguel Amado

Histórias sobre artistas se afundando nos mais variados tóxicos são tão numerosas quanto a quantidade de shows que o Deep Purple faz no Brasil por ano. Dez anos depois de “limpos” ou então quando a ida para a reabilitação não é escondida da forma certa, lemos nas autobiografias ou em entrevistas o nosso querido artista falar que abusava de _________________ (cocaína, heroína, crack, ácido, álcool, café, maconha) em tal época.

Mas tem vezes que esse artista está tão fora de si em cima do palco que na hora você bate o olho e fala: “meu Deus, o que esse cara estava fazendo no backstage?”. Com a ajuda do nosso querido YouTube, seguem alguns momentos “piradão” de músicos que não deveriam ter subido no palco e sim ter ido correndo abraçar a mãe e pedir desculpas. Os vídeos também podem ser usados em palestras escolares para advertir sobre os perigos das drogas.

O louco: Mark Ibold

Profissão na carteira de trabalho: baixista do Pavement

O tóxico: provavelmente a produção anual de maconha da Jamaica

Me mostre um crítico que não goste de Pavement! (ok, deve ter, mas a maioria ama de paixão). No seu último ano de existência, antes de uma volta para uma turnê saudosista, a banda estava tão unida quanto os governos de Ucrânia e Rússia neste momento. Mas a tensão do grupo não parece afetar nosso querido Mark Ibold, que antes deste especial da HBO parece ter fumado toda a erva que encontrou disponível na Califórnia.

Como uma imagem vale mais que mil palavras e um corte de sete segundos na cara do baixista vale mais que mil imagens, avance até o instante 0:46. Ou não e veja o vídeo inteiro, porque Pavement é sensacional e “Spit On a Stranger” é uma bela música.

O louco: Bez

Profissão na carteira de trabalho: dançarino e “percussionista” dos Happy Mondays

O tóxico: cocaína e talvez um tiquinho de ecstasy

Ok, a banda do malucaço Shaun Ryder conseguiu ser a ovelha negra da gravadora Factory. Isso é para poucos e provavelmente poderíamos pinçar algum outro membro do grupo para colocar aqui neste texto. O próprio Ryder declarou um tempo atrás que apagou da memória o período de 1990 a 2006, o que dificultou escrever sua autobiografia, Twistin’ My Melon, lançada em 2011.

Em todo caso, quem brilha neste vídeo é o lendário Bez. Dançando com maracas não microfonadas em mãos, ele mantém uma performance “palosa” durante todo o vídeo. Quando a câmera foca no cara, temos aqueles olhões de coruja alucinada nos encarando de volta, enquanto pula com uma alegria alegria digna de Dimitri descobrindo que hoje é sexta-feira (vídeo que, não por acaso, é a fonte da imagem no começo deste texto). Se hoje em dia a América do Sul ainda faz soar a sirene de COCAÍNA na cabeça de muito gringo, imagine no “Bresiiiiu” do Rock in Rio II, em 1991…

O louco: Júpiter Maçã

Profissão na carteira de trabalho: ex-Cascavelletes e orgulhoso dono de uma psicodélica carreira solo

O tóxico: Porre homérico; talvez algum alucinógeno

Júpiter Maçã nunca escondeu seu interesse pela lisergia de Beatles, Syd Barrett e Bob Dylan, temáticas cósmicas e a transgressão de valores cotidianos. É o combustível da música que ele produz. Mas isso transparece na performance, o que torna suas passagens pelos palcos um tanto irregulares entre si.

Júpiter é um cara de fases. No período de experimentação de ficção científica com bossa nova ele se renomeou Jupiter Apple, por exemplo. No período em questão, dos idos de 2008, ele chegou a apresentar o Júpiter Maçã Show no finado Mtv Overdrive (aqui ele entrevista o Rogério Skylab). O web-programa teve até uma segunda temporada, em que o apresentador aparentava maior sobriedade. Mas o vídeo em questão é da época das primeiras entrevistas: no palquinho de algum programa da Mtv (não me lembro qual), ele e sua banda tocam seu maior hit, “Um Lugar do Caralho”. Empunhando a Danelectro mais bonita da praça, ele erra a letra na cara dura duas vezes e também interrompe sua parte na guitarra para indicar com a mão onde fica o tal lugar do caralho.

Desde o fim de 2013, ele está em período de descanso, se recuperando numa comunidade terapêutica. Força, Júpiter!

O louco: Keith Moon

Profissão na carteira de trabalho: baterista do The Who

O tóxico: só Deus sabe (provavelmente tranquilizantes com Brandy)

Keith Moon não precisaria de droga nenhuma para ser elétrico, tocar bateria como um polvo coordenado e deixar sua marca na história do rock. Mas ele gostava de um bom goró e abusava dos tarjas pretas. É difícil achar um vídeo do Who que você fale “nossa, o Keith Moon parece sereno e sóbrio”. Felizmente para a memória do excelente baterista e infelizmente para os mais sádicos, não há vídeo do show de San Francisco, na turnê do álbum Quadrophenia, onde ele simplesmente apagou no palco e Pete Townshend precisou convidar alguém da plateia para o substituir e encerrar o show.

Mas enfim, alguns anos antes, a banda fez parte do histórico festival Isle Of Wight. Moon obviamente estava com a macaca (ok, já devolvo a expressão pra minha vó), como prova a versão de “I Dont Even Know Myself”. Só prestem atenção no inglês mirrado de camiseta branca. Principalmente a partir do 1:18.

[Publicado originalmente em 21 de maio de 2014]

--

--