Invasão do Iraque — O Legado Musical em Tempos de Guerra

Julia Padovan
Perdidos No Ar
Published in
5 min readMay 14, 2015

Em 2003, dois anos após o atentado terrorista ao World Trade Center em Nova Iorque, deu-se início à guerra no Iraque. O mundo inteiro ficou alarmado e diversas opiniões e contestações começaram a surgir por parte de figuras públicas em relação ao então presidente estadounidense George W. Bush.

Algumas contestações transformaram-se em hits, álbuns e em singles. Outras não tinham como principal objetivo adquirir uma posição política à respeito da guerra, mas acabaram se envolvendo com o tema através de seus clipes. Após mais de uma década, você confere o legado musical deixado por aqueles que viveram em tempos de guerra.

“BOOM!” e “B.Y.O.B” — System Of A Down

Quando a guerra ainda era uma possibilidade, inúmero protestos anti-guerra ocorreram ao redor do mundo. Esse protestos transformaram-se na temática do clipe de “Boom!”, presente em Steal This Album (2003) do System Of A Down.

A direção ficou por conta do cineasta Michael Moore, que reuniu filmagens feitas por ativistas e pelos próprios membros da banda durante os protestos em Los Angeles. Além dos protestos, também foram feitas animações com George W. Bush, Saddam Hussein, Tony Blair e Osama Bin Laden em cima de mísseis.

A inspiração da banda continuou vigorosa e acabou resultando também em “B.Y.O.B”, single do álbum seguinte, Mesmerize (2005). O título da música faz um jogo de palavras com a expressão “Bring Your Own Booze” (traga sua própria bebida) muito usada por anfitriões de festas estadunidenses, trocando a palavra “Booze” por “Bombs” (bombas), referindo-se a guerra como uma festa para os Estados Unidos.

“Wake Me Up When September Ends” — Green Day

O Green Day lançou American Idiot (2004) investindo em uma temática que nunca explorou com muita profundidade: política. A banda não só começou criticar o governo Bush, como também envolveu-se em projetos ambientais com o grupo NRDC.

Entre as canções que viraram hit do álbum está “Wake me up When September Ends”. A princípio essa não era uma música sobre a guerra, na realidade era um lamento de Billie Joe Armstrong à respeito da morte de seu pai. Mas, como toda composição musical pode ganhar diversas interpretações e adaptar-se ao contexto em que será lançada, a música adquiriu uma conotação diferente por causa do clipe.

Evan Rachel Wood e Jamie Bell ganharam os jovens na atuação extremamente dramática, apelando para o lado emocional, o que criou uma identificação por parte dos fãs que passavam por uma situação semelhante àquela representada no clipe.

“Living With War” — Neil Young

Neil Young ficou tão revoltado com a invasão ao Iraque que escreveu e gravou Living With War (2006) em nove dias. A pressa, no entanto, não impediu que o álbum se tornasse uma excelente obra, sendo responsável pelo 29o Grammy do músico.

Suas composições deste álbum criticam o governo de George W. Bush e as atitudes tomadas pelo presidente durante a Guerra do Iraque. Umas das faixas sugere até mesmo o impeachment do presidente (assista o clipe aqui). Em entrevista, Young declarou ao jornalista Charlie Rose que depois de ter escrito quatro músicas sem interrupção, ele começou a chorar de maneira incontrolável.

O clipe da música homônima do álbum deixa claro qual era a posição do canadense em relação à guerra. Cenas de conflito armado e homenagens ao soldados são apresentadas em um telejornal com as siglas L.W.W. (Living With War), seguindo a mesma estética da CNN.

“The Day That Never Comes” — Metallica

“The Day That Never Comes” foi o primeiro single do álbum Death Magnetic (2008). Outra música que não tinha a menor intenção de referir-se a guerra, mas acabou ganhando um novo significado a partir do clipe.

De acordo com o vocalista James Hetfield o clipe não tem a intenção de revelar um forte posição política em relação à Guerra do Iraque, mas sim uma visão sobre humanidade.

A respeito das possíveis interpretações que poderiam surgir sobre o clipe, James fez a seguinte declaração:

“Essa é a beleza, eu acho, de letras vagas, porém fortes ­­– alguém como um diretor pode interpretar de seu próprio modo e obviamente alguém criativo pode pegar as metáforas e aplicá-las a qualquer que seja sua necessidade. […] As pessoas têm opiniões fortes sobre essa guerra, nós estamos tentando passar por cima de tudo isso. Política e religião costumam separar as pessoas e, o que nós estamos tentando fazer é reunir isso em uma mesma ideia de perdão e ressentimento.”

O legado não parou por aí. A Guerra do Iraque e o governo Bush foram tratados quase à exaustão no mundo da música. Inúmeros artistas acabaram ganhando notoriedade por meio de seu posicionamento diante dos eventos que giraram em torno desse tema. O principal alvo era George W. Bush.

Um forte exemplo é a banda country Dixie Chicks. Em 2003, dez dias antes da invasão ao Iraque, a vocalista Natalie Maines fez a seguinte declaração durante um show em Londres: “Nós não queremos essa guerra, essa violência, nós temos vergonha do presidente dos Estados Unidos ser do Texas.” E, em 2006, tornaram sua opinião oficial com “Not Ready To Make Nice”.

A cantora Pink também não ficou de fora, mas acabou deixando seus gritos de lado para abraçar uma estética acústica em “Dear Mr. President”, single do álbum I’m Not Dead (2006). A canção é uma carta aberta a Bush e critica aspectos administrativos de seu governo a respeito da guerra, da desaprovação de direitos iguais aos homossexuais, sua crença religiosa e até mesmo o uso de drogas do ex-presidente durante o ensino médio.

Até a inglesa Lily Allen entrou na onda com o single “Fuck You”, do álbum It’s Not Me, It’s You (2009). Se alguém tinha alguma dúvida sobre o destinatário, ela foi resolvida pelas declarações de Lily Allen em seus shows. Em sua visita ao Brasil, antes de tocar a música, a cantora vez questão de dizer: “Essa música foi originalmente escrita para o idiota que costumava ser o presidente dos Estados Unidos da América. O nome dele é George W. Bush.”

Originally published at www.perdidosnoar.com.br on August 13, 2013.

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