A HISTÓRIA COLETIVA

Perestroika
Perestroika Blog
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4 min readMar 14, 2016

Fala, pessoal. Vamos contar essa história juntos? A ideia é: cada parágrafo deverá ser escrito por uma pessoa diferente. E a cada novo parágrafo, novos prazos de envio serão estabelecidos.

Todos os autores dos trechos selecionados* ganharão um kit da TAG - Experiências Literárias. E todo mundo que participou enviando suas sugestões será convidado a participar de um evento muito especial organizado pela Perestroika de Porto Alegre. :)

*Reginaldo Pujol Filho, Rodrigo Rosp e Cristiano Baldi — parceiros e professores do .TXT — são os responsáveis pela seleção dos trechos enviados.

Conheça o .TXT, o curso de Literatura Contemporânea da Perestroika (Porto Alegre)

INÍCIO (Marcelino Freire)

Eu sou o assassino mas você não sabe quem sou eu.

PARÁGRAFO 1 (Mariana Feistauer)

Estava escrito em um pedacinho de papel dobrado cuidadosamente dentro de uma xícara. Eu trabalho nesse café, fui recolher os restos da mesa. Não vi nada, já tinham ido embora, era um grupo grande. Primeiro achei estranho, depois fiquei pensando: será que tem alguém atrás de mim? Sou a única garçonete, às vezes atendo no balcão quando os donos estão ocupados. Sei até fazer pettit gateau. É duro viu. Eu só tive certeza de que algo estava errado quando apareceu o segundo bilhete.

PARÁGRAFO 2 (Adriano Moreira)

O detetive Dimitri analisava as imagens da câmera de segurança. Os últimos dias haviam sido um turbilhão de acontecimentos e ele não dormia há… há quantas horas mesmo? Na pequena tela, a garçonete jazia no chão sujo da cafeteria. O vulto negro do assassino parecia tentar tirar o pedaço de papel preso das mãos cerradas do cadáver. Dimitri havia recuperado o 1º bilhete que fora largado onde qualquer imbecil poderia localizá-lo. Não havia sinal do 2º. O 3º bilhete era endereçado a Dimitri. Estava escrito em uma língua estranha. Apesar da origem de seu nome, ele não sabia uma palavra em russo. Enquanto os especialistas cuidavam da tradução do bilhete, Dimitri lutava contra o cansaço, refazendo os passos da garçonete na noite anterior… mesa cheia limpando… Ela acha o 2º bilhete… visivelmente abalada… se encontrarmos o 2º… os olhos… mais… pesados… Um leve arrepio percorre a espinha do detetive. O vulto na tela está parado no centro do café, olhando diretamente para Dimi. A tela escurece.

PARÁGRAFO 3 (Juliana Gallo)

A tradução havia chegado na manhã seguinte. Dimitri estava tomando o primeiro café do dia quando encarou as palavras do terceiro bilhete numa mistura de raiva e curiosidade. “D, vamos brincar?” era a mensagem deixada pelo assassino. O miserável sabia quem ele era. Imediatamente sua mente começou a trabalhar, buscando a conexão mais plausível entre o conteúdo da mensagem e a maneira como fora entregue. O que a Rússia tinha com tudo aquilo? Seria o idioma, o país, uma pessoa, a cultura? Dimitri tomou o último gole de café e largou a caneca na mesa, aquela altura já abarrotada de evidências e fotos. Detestava esse tipo de caso, toda a imprevisibilidade o deixava apreensivo, ansioso. Precisava de mais um expresso para despertar as ideias. No momento em que pegava sua caneca, um leve choque de adrenalina percorreu seu corpo. Ali, na sua frente, estava uma foto da cena do crime que poderia ser uma das peças do quebra-cabeça. Dimitri a pegou e aproximou-a dos olhos. Havia uma estante na cafeteria com alguns objetos, entre eles, uma Matriosca, a famosa boneca russa.

PARÁGRAFO 4 (Raul Dullius)

Pela primeira vez na vida, Ângelo não sabia o que fazer. Ele havia corrido riscos ao verificar a cena do crime antes da perícia policial, mas a pedidos de Dimitri, seu supervisor, havia chegado mais cedo e conferido a boneca Russa. Como em uma autópsia (acredite, ele sabia como era), foi abrindo as bonequinhas uma a uma, até encontrar dentro da menorzinha um bilhete com um endereço. Eufórico, rabiscou o número e nome da rua em seu caderno de anotações e tentou pensar no que faria a seguir. Tentou ligar pra Dimi, mas deu caixa. E agora? Não queria se arriscar ainda mais, poderia acabar perdendo o trabalho ou até mesmo a vida, sabe-se lá, se tomasse uma atitude por conta própria. Mas e se a vida de mais alguém estivesse em jogo? Uma vítima que nada tinha a ver com aquilo? Ângelo tomou uma decisão. Ele sabia o que um detetive de verdade faria. O que seu supervisor faria. Saiu às pressas pela porta do café, parou o primeiro táxi em seu caminho e, ao mesmo tempo em que digitava o endereço em uma mensagem para Dimitri, o ditava para o motorista.

PARÁGRAFO 5 (Amanda Prado)

Antes que pudesse terminar de digitar a mensagem que o corretor do celular insistia em deturpar, o carro parou no primeiro cruzamento e, como num pouso, congelou-se o tempo. Não explicava mais ao motorista, nem digitava mais o endereço no touch screen, sentia apenas o sutil frear do carro, que seguia em câmera lenta, repetindo-se numa série de replays na mente de Ângelo. Viu o sinal vermelho piscar duas vezes, como se falhasse. Voltou-se novamente para a tela do celular, o sinal ensaiou uma mudança para o verde, num quase piscar, e então, quando o motorista deu partida, o carro explodiu. Dimitri, do outro lado da linha, pedia seu café expresso. Sem açúcar.

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