Diários do Trensurb

Giovani Groff
Perestroika Blog
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4 min readApr 10, 2015

O título desse texto é claramente um caça-clique, porque por mais que eu ache que a minha história com o trensurb renda uma trilogia digna das maiores franquias do cinema, esse não é o objetido deste relato.

Para vocês entenderem um pouco melhor a minha relação com esse que é talvez — eu tenho certeza que é — um dos melhores meios de transportes públicos existentes, tenho que expor alguns números que ilustram o quão presente esse veículo está presente em minha vida.

Confiram o gráfico abaixo:

Desses OITENTA E QUATRO dias que passei dentro de um vagão do trensurb é bem verdade que uns VINTE dias eu passei dormindo, visto que capoto em 25% das viagens. Cabe salientar que o SACOLEJO do trem é mais eficiente que o embalo de ninar uma criança. No tempo que passei acordado, pude ver e vivenciar diversas experiências marabijosas. Poucos sabem, mas eu fui o PRIMEIRO brasileiro a se sagrar campeão mundial de surfe, obviamente na categoria SURFE DENTRO DO VAGÃO. Como esse esporte não tem o merecido apoio e reconhecimento, decidi me aposentar.

O vagão do metrô também proporciona paixões platônicas e instantâneas que duram no máximo umas TRÊS estações, porque ao contrário do ônibus, o vagão é projetado para facilitar a PAQUERA, a disponibilidade dos bancos permite e incentiva a troca de olhares, acredito que seja muito mais eficiente que o TINDER.

A história mais marcante que vivi, foi na realidade a realização de um sonho antigo, o de ANDAR NA BOLÉIA/GABINA do trensurb. Porém essa tarefa não foi fácil. A data era um domingo, num período de greve, o funcionamento do trensurb era das 5h30min até as 8h30min. Foi após me esbaldar madrugada adentro e terminar a noite/começar o dia no clássico Van Gogh, onde tomei o verdadeiro café da manhã dos campeões (leia-se polenta frita).

De bucho cheio, me dirigi a estação Rodoviária e consegui pegar o último trem antes de fecharem a estação. Obviamente eu estava num misto de borracheira e sono, combinação essa que todos sabem, leva o vivente a dormir e acordar no final da linha. Dessa vez não foi diferente, capotei lindamente e acordei na Estação Santo Afonso. Fui acordado pelo motora do trem, que me explicou que esse era o último trem por causa da greve e tal e coisa. Ainda meio dormindo lembrei que não tinha um real na carteira e disse: PUTZ, me fudi de novo, vou ter que voltar a pé pra casa. O motora, sujeito muito gentil me ofereceu uma carona, mas antes tive que ajudá-lo a fechar as janelas do vagão.

Após essa tarefa me dirigi até a GABINA, onde já estava mais um funcionário da trensurb que aderiu a última barca. Ao adentrar na mesma, notei que era equipada com ar condicionado (inexistente nos trens antigos) e pensei que poderia ficar ali por horas, vendo aquele monte de botão e quem sabe dar uma buzinadade vez em quando. O motora colocou um som, o famigerado ROCK PAULERA embalou a viagem. Em 5min de conversa com o motora e o bróder, eu já tinha aderido à greve e estava apoiando incondicionalmente a atitude dos funcionários. A visão da GABINA é muito massa, porém um tanto quanto angustiante para que não está acostumado, porque parece que tu vai bater ou capotar a qualquer momento. Infelizmente não tenho nenhum registro do acontecido porque a bosta do meu celular tava sem bateria. Que belo dia foi esse.

De tanto tirar fotos nas estações [pra postar no instagram] o pessoal da trensurb me convidou pra conhecer as oficinas e o pátio da firma. Onde pude apreciar o conserto de alguns vagões, acompanhar o preparo dos trens para o horário de pico e vagar tranquilamente entre alguns outros, que já repousavam, depois de mais um dia árduo de trabalho. Como os passageiros, exaustos de ir e vir.

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Giovani Groff
Perestroika Blog

Escreve umas coisas aleatórias, porém sonha mesmo em ser jogador profissional de Bocha.