Quando a performance tá na rua a rua vira performance

INÁ
Performídia
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4 min readJul 12, 2019

Esse título é pra ser lido numa única inspiração. Repetir também é indicado.

Esse é o primeiro artigo da página de publicações da Performídia no Medium e é bacana demais estar em mais um espaço, para pensar conteúdo e abrir o portal Performídia dentro de outro portal que é essa plataforma de jornalismo social que jorra escritos tão necessários e interessantes. É uma responsa estar por aqui, por isso nada melhor que ritualizar o começo escrevendo sobre o Gira, o circuito itinerante de performance que reúne artistas pra performar a-na rua. Justamente nesse hífen que a gente vai entrar!

Primeiro eu comecei buscando pelas tags #performanceDErua e #performanceNArua nas redes Instagram, Facebook e aqui, claro, no Medium. Não achei muita coisa. No Instagram rola uma interatividade maior com a primeira tag, no Facebook uma performance ou outra de artista sendo divulgada em registros e no Medium pouquíssimos textos, mas no meio deles eu achei um de título: O decreto do higienismo gentil, a performance do Suplicy na reintegração de posse e as próximas mortes anunciadas. Lido e assimilado o texto, entender que a palavra performance ao designar tanto a linguagem artística como ação, simplesmente ação, acolhe muito dos meus registros de observância enquanto correspondente da Performídia na rua, acompanhando o circuito.

A exposição com as fotos-registros que fiz e que foram realizados durante o 3º Gira, no Rio de Janeiro em abril desse ano, fizeram parte de uma exposição dedicada ao evento, que aconteceu no Instagram do portal (se não conhece, busca lá!). Fotos que capturam instantes de ação precisam ser sensíveis e, distantes, na minha opinião. Porém, na rua, as ações que não podem ser capturadas são mais sensíveis ainda.

Me lembro de ter falado com o Diógenes, produtor e um dos idealizadores do Gira, que quando a performance de arte estabelece explicita ou implicitamente o discurso de “vamos realizar uma ação aqui” ou um “vamos causar algum movimento nesse lugar” ela está se comunicando diretamente com o lugar e consequentemente com quem ocupa aquele lugar a maior parte do tempo. No caso da rua, as pessoas que moram na rua ou moradores de rua ou pessoas em situação de rua. O que na maior parte do tempo é só uma lamentável paisagem na cidade, vira performance para os registradores do sensível (com câmera ou não). Eu, por acaso, estava com uma.

Largo de São Francisco de Paula, foto retirada antes de começar a performance 002 de Matheus Apolônio

Foram 6 dias e mais de 15 artistas, sendo maioria do Rio mas uma presença também de uma galera de outros lugares, estiveram na rua colocando suas subjetividades em fluxo, com os moradores, passantes, comerciantes, trabalhadores, turistas e toda a diversidade de gente que pode existir nesse ente que tem nomes distintos e muda a estrutura de região pra região (tô falando da rua ainda).

Quais os tipos de similaridades que podemos ver girar e estabelecer lugar na performance que experimentamos no caos ou nos desertos das ruas?

Seja nesse artigo do Medium que critica a performance de um prefeito frente a situação das pessoas que vivem na rua ou na cobertura de um evento que serve não só pra lembrar que atividades culturais não estão só nas galerias ou salas de teatro, a performance está presente para ser um suporte para algo, para projetar um desejo, um sonho, uma necessidade, uma cisma, sei lá, tudo isso e outras coisas. E a palavra suporte está presente na descrição da Performídia também, é uma palavra que se encontra com a busca da permanência. Suporte veio pra ficar. Suporte é ação.

Finalizo esse texto com receio, sabendo que um monte de coisa vai passar sem que eu consiga escrever mas que deixo, registrado em registro, que esse não é o meu primeiro exercício de cobertura mas parece ser, algo meio parecido com o que eu desejava fazer quando pensava em seguir carreira de jornalista, mas que precisei dar as voltas num curso de teoria em artes pra entender que é processo, questionamento retórico que antes de bater aqui de novo, acaba ecoando em outros lugares, acaba cutucando outros.

Lembrando que tô falando do Gira pra falar de ação, de ocupação, de performance em sentido expandido, de realidade ampliada. Pedir licença pra estar na rua e estar atento as suas dores, é um bom começo de ritual.

E por último mas não menos importante, deixo aqui o minidoc do Gira 3, em que utilizei esse texto pra construir a dimensão sonora que compõe com as imagens visuais em movimento gravadas durante o circuito.

pastinha no Flickr com as fotos do Gira: https://flic.kr/s/aHsmEoJUsH

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INÁ
Performídia

Dançar com as palavras num formato que não interessa, o negócio é escrever sobre a arte que me afeta.