https://unsplash.com/photos/JblqZzRbYIU

Filosofia na pandemia? Pra quê?

Greice Cerqueira
PET Filosofando
Published in
3 min readJul 27, 2020

--

Para responder a essa pergunta primeiro é necessário uma reflexão acerca dos seus elementos reais, que seria, na verdade: Qual o papel de um filósofo/filósofa em tempos de pandemia?

O papel de alguém perante alguma coisa sugere uma função, algo que ele/ela tenha que fazer para suprir ou contribuir com determinada coisa, nesse caso, a pandemia. Mas falar em um papel durante a pandemia não é no motivo da doença, a covid 19, mas no estado de calamidade e desequilíbrio no qual a sociedade se encontra. Nem todo papel precisa ser exercido de forma prática. Por exemplo, o simples ato de manter-se em casa, ou seja, a posição negativa da prática diária, é um papel importante a ser desempenhado em tempos de pandemia.

Dentre as muitas considerações de definição para a Filosofia, podemos considera-la, nesse contexto, como: a atividade especulativa de pensar, de forma logicamente ordenada, em coisas que perpassam a base do que se apresenta a nós, ou seja, naquilo que subjaz, naquilo que nos parece tão evidente, nos conceitos e palavras que usamos cotidianamente e ainda assim não nos parecem claros (o que é a morte? como pensamos? o que é pensamento? por que os sentimentos condicionam nossas ações? o que é sentir?). Sendo assim, é justamente nisso que ela pode ser aplicada nos tempos de pandemia.

Diferente da dimensão prática daqueles que fazem parte da área da saúde, o papel da filosofia é teórico e isso não tira dele o mérito de contribuinte. Ele irá debruçar-se em entender e responder à sociedade aquilo que perpassa a todos, ou pelo menos grande parte das pessoas, que se encontram em quarentena ou sujeitos à pandemia. Um dos exemplos do que estou querendo dizer aqui é o seguinte: temos que ficar em casa para conter a disseminação do vírus covid 19. Esse é um pensamento que perpassa parte da população. Mas o ato de se privar das suas necessidades ou hábitos (sair, trabalhar, ir à faculdade) para que a integridade física do outro se mantenha, é também um ato de altruísmo; e pensar o altruísmo é um dever filosófico. Outro exemplo é que sabemos que é necessário usar máscaras para evitar que o vírus se propague, mas o que sugere o termo necessidade? É o papel do filósofo e da filósofa explica-lo.

Sendo assim, enquanto filósofas e filósofos em tempos de pandemia temos o papel de supor e responder perguntas existenciais que esse período está provocando nas pessoas. Essa inquietude que está relacionada com algo tão simples mas tão perturbador e que não nos parece tão claro de entendermos. Um simples: por que eu consigo ficar em casa durante as férias, sem fazer nada, mas é tão difícil durante a quarentena? É uma pergunta que implica em um termo conhecido como liberdade e é papel dos filósofos/filósofas sua explicação. Talvez mais do que uma explicação, seu melhor entendimento, para cessar ou para estabelecer uma busca ainda mais instigante desses questionamentos.

Portanto, enquanto a área da saúde salva vidas a filosofia tem o papel de salvar a alma (entendida aqui não em seu sentido religioso, mas em seu sentido reflexivo-existencial) a partir do momento em que ajudam aqueles que estão presos em suas casas a entenderem questões profundas que os inquietam, em um tempo no qual a passividade salva vidas e a única atividade possível, na maior parte do tempo, é a atividade intelectual.

--

--

Greice Cerqueira
PET Filosofando

Estudante de Filosofia da Universidade Federal da Bahia